quinta-feira, 14 de junho de 2018

7 - Profissão Puta

Meu celular tocou naquela tarde de sábado e o número em destaque era o da minha casa. Como deduzi era o meu avô, comunicou que estava me esperando para esclarecer tudo o que ouviu de outras pessoas e também visualizou no Smartphone de um amigo.
Menti que estava trabalhando naquele instante e iria cedinho para Brotas no dia seguinte (domingo) para conversar com ele.
— Trabalhando de quê? DE PUTA? — gritou cheio de raiva.
Havia imaginado nas últimas horas quantas vezes ouviria isso doravante dito só com o intuito de me ofender, porém, não imaginei o quanto doeria vindo de uma pessoa a qual eu amava tanto.
Com a voz embargada pelo choro, mal consegui responder que o trabalho era o de promotora em uma feira. Ele incorporou novamente o coronel, apesar de estar aposentado, mas nunca deixou de ser o policial autoritário e exigiu minha volta imediata para casa. Concluiu apelando para o meu lado sentimental falando:
— Sua avó está passando mal com tudo isso; vou levá-la ao posto de saúde. — Desligou em seguida.

Engano meu ao imaginar que a repercussão ficaria limitada ao blog do cara, a reportagem com detalhes saiu no jornal impresso da cidade e também no portal G1, "Miséria pouca é bobagem" como diz o ditado.

Praticamente não dormi naquela noite. Na manhã seguinte saí cedinho de Campinas e fui de carro fretado, queria evitar cruzar com conhecidos. Cheguei à casa dos meus avós pouco depois das 8h daquela manhã de domingo e apesar do sol e céu azul, parecia mais uma segunda-feira cinza, fria e chuvosa. Ao descer do carro senti-me como se tivesse três metros de altura e com a sensação de ter centenas de olhos me observando por frestas de janelas.
Minha avó estava sentada no sofá da sala e não conteve o choro ao ver-me, e contrariamente ao que sempre fazia em momentos difíceis da minha vida, não me abraçou e nem me deu sua bênção. Meu avô estava sentado ao lado da mesinha do telefone, seu olhar era um misto de tristeza e decepção.
Nossa conversa começou difícil, cheia de tristezas e tiveram seus momentos de tensão, um deles foi quando recusei sua oferta de bancar minha moradia, estudos e tudo mais que eu necessitasse, sob a condição de eu deixar de ser PUTA (deu ênfase na palavra) e ir morar em outra cidade. Expliquei não ter motivos para me esconder, pois ganhava a vida honestamente como várias outras pessoas, apenas trabalhava usando o meu corpo, e havia escolhido este ofício porque o sexo me dava prazer e não apenas pelo dinheiro.
Pela primeira vez na vida ele me esbofetearia, não fosse a intervenção da minha avó; ela deteve seu braço já erguido e pronto para a agressão.

Após se acalmar um pouco, meu avô falou ter conversado com minha mãe antes da minha chegada e pediu para ela vir me buscar, pois sou responsabilidade dela, como também lembrou sobre eu ainda não ter 21 anos e que ainda não era dona do meu nariz.
— Não voltarei com minha mãe para São Caetano — informei em tom categórico, — estou saindo de casa e irei me virar sozinha.

Continuamos discutindo enquanto eu arrumava as coisas que levaria. Minha avó só chorava e dava conselhos para eu deixar esta vida, pois logo eu não seria mais jovem e bonita e iria me arrepender de tudo. Meu avô quis impedir minha saída antes que minha mãe viesse me buscar, o convenci do quanto a tentativa seria inútil, pois estava determinada a seguir meu caminho sozinha, e fugiria se fosse preciso.

Antes de sair liguei para minha mãe e a conversa não foi diferente da travada com meu avô minutos antes, ela também me chamou de puta. Bom… pensei, não tinha mais nada a dizer. Também não tinha mais nada a fazer naquela casa ou na outra (a da minha mãe). Falei para ela não vir, em razão de já estar saindo para seguir o caminho que escolhi.
Agradeci e me despedi de minha mãe por telefone, após desligar fiz os mesmos agradecimentos aos meus avós; gratidão por terem cuidado de mim até aquele momento e disse os amar do fundo do meu coração. Os minutos seguintes foi do adeus derradeiro, lágrimas e o abraço carinhoso da minha avó. Meu avô virou as costas quando quis abraçá-lo, porém, antes, notei os seus olhos marejados.

***
Já ouvi inúmeros relatos sobre garotas de famílias... "Socialmente corretas", que optaram pela prostituição, contudo, ainda não conheço nenhum caso sobre terem sido apoiadas pelos entes queridos. Como eu supus desde o princípio, meu caso também não foi diferente, eu era a puta da família e todos queriam que eu mantivesse distância ou sumisse, de preferência.

Voltei para Campinas e não fiquei me lamentando sobre infortúnios e nem permaneci reclusa naquele quarto, a vida sempre segue em frente e cuidei da minha, mesmo estando temporariamente fragilizada. A primeira providência foi ficar muito gata para ir a uma balada e me divertir "muitão" sem pensar em nada. Deixaria para começar a sério o primeiro dia da minha vida nova somente na manhã seguinte.

Naquela noite de descarrego emocional escolhi uma casa noturna onde não costuma rolar lances de programas, já tinha problemas demais, não arrumaria uma confusão por invasão de espaço de trabalho, só queria dançar e beber. Adoro boates, não consigo ficar parada com as batidas da música agitada. Os drinks deliciosos e o cheiro de pecado mexem comigo. Passada uma hora naquela balada e após dispensar meu companheiro de dança que se tornou inconveniente, fui ao bar pegar outra bebida e trombei com um simpático solitário, trintão e tristonho. Pelo jeito o dia dele também não fora dos melhores, nem me deu bola... Ah! Imaginem eu engolindo uma desfeita dessa, jamais. Puxei conversa e o deixei mais animado, pelo visto ele estava apenas esperando alguém o perceber e tomar a iniciativa. Depois de vários goles consegui arrastar o tristonho para dançar comigo.

Foram algumas idas e vindas da pista de dança ao bar e pouco mais tarde o porre dele era maior que o meu, então combinamos de terminar a noite em outro lugar mais sossegado. Ele me levou para sua casa, era próximo dali, iríamos caminhando, ou se arrastando. Ele sussurrou algo tropeçando nas palavras quando paramos defronte a um portão. Deu para entender que era para evitarmos ao máximo fazer barulho, ou acordaríamos sua família. Eu estava muito alegrinha, além de estar enxergando dobrado, mesmo assim comportei-me.
— Sussa, fico quietinha, prometo.
Levou-me para um quartinho na área de serviço, nem liguei para a simplicidade das acomodações, pois estava na fissura por sexo e querendo esquecer tantos momentos de tensão vividos naquele final de semana. Dei toda minha atenção ao que interessava, no caso o homem. Arranquei sua roupa o assustando com minha voracidade, após o deixar pelado da cintura para baixo fiz meu parceiro se contorcer dando-lhe chupadas e engolidas. Entre gemidos contidos ele tentava não chamar a atenção enquanto a minha boca era fodida como se seu pau estivesse em minha vagina. Controlei para não gozasse prematuramente, queria aproveitar toda a rigidez do seu membro e cavalgar sobre ele.
A cena daquele homem deitado de pênis ereto estava me consumindo com a vontade de senti-lo em mim, não perdi tempo tirando o vestido, tirei apenas a calcinha e apesar da quantidade de bebida ingerida, ainda tive o bom senso de revesti-lo com um dos preservativos sempre presentes em minha bolsa. Só então sentei sobre ele o deixando deslizar para dentro da minha gruta... Ahh! O tempo deveria parar nesta hora, são impagáveis os segundos de prazer quando um membro firme adentra alargando a fenda e invade nosso interior sem cerimônia.
Nem a mistura de odores de produtos de limpeza daquele quartinho e o calor sufocante por falta de ventilação diminuíram a sensação de prazer daquela transa. Ele segurou em minhas nádegas indo e vindo dentro de mim com os movimentos do seu quadril e fazendo meu tesão ir a milhão. Quis gemer alto, gritar e falar palavrões, mas mesmo estando bêbada recordei seus pedidos para não fazermos barulho. Contudo, no momento do clímax foi impossível não gemer alto... Deuuus! Que foda gostosa. Deitei sobre ele esfregando nossas roupas suadas e enfiei a cara no travesseiro urrando como uma fera demoníaca em um orgasmo sem fim.

A cama parou de tremer, fiquei acabada e no estado em que estávamos não tínhamos condições de se pegar outra vez naquela noite. O homem apagou e eu também, ainda deitada sobre ele naquela cama minúscula.

Só acordamos quando começou a amanhecer, e graças a um sabiá que resolveu bancar o despertador assoviando alto em algum lugar no terreno ao lado.
Gente! Só então o doido apavorado e sóbrio (ou quase), disse que era casado e morava naquela casa com a mulher e a filha. Quando ele disse família, ao adentrarmos a residência, pensei em pai, mãe e irmãos, nem de longe imaginei mulher e filhos. O cara havia brigado com a esposa e saiu a esmo durante a noite e entrou na boate para beber e esquecer seus problemas com a mulher.
Resumo da ópera: era prudente minha saída de fininho antes de ser vista pela dona da pensão ou a filha de oito anos. Meu vestido estava todo amarrotado e meus cabelos parecendo uma vassoura velha. Vesti a calcinha e fui de mansinho o acompanhando com meus sapatos na mão e esgueirando pelo corredor até chegar ao portão. Enquanto eu calçava os sapatos ele sussurrou perguntando como me encontraria novamente, falei para ele continuar frequentando a boate, eu apareceria por lá uma noite dessas qualquer.
Caminhei sorrindo pela calçada e pensando: "se o primeiro dia do meu voo livre começou assim, cheio de emoção, imagine o que virá a seguir".
Continua…

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