domingo, 3 de novembro de 2019

Entregas Especiais Final - Anjo Assassino

Início de noite, o ônibus percorria pela BR-116 no estado do Paraná em direção à Santa Catarina. Eu pensava no Augusto, nossa relação esfriara desde o dia em que o deixei sozinho na balada da Cantareira, apagado e com o bolso cheio de cocaína. Em nosso encontro alguns dias depois do ocorrido, ele admitiu que ganhava uma boa grana revendendo para seus parceiros de balada e que era só para tirarem um barato e não era um traficante.
Era sim, mas tentava iludir a mim e a si mesmo. Mas não foi este o motivo principal do declínio do meu entusiasmo por ele, o novo Augusto que passei a enxergar não me atraía tanto quanto o do início.
Não aconteceu uma despedida entre nós, e isso foi até bom, pois com certeza a polícia iria ouvi-lo e o seu testemunho poderia reforçar a hipótese de que sumi contra a minha vontade.
Despertei dos meus pensamentos ao ouvir que o ônibus clandestino voltou a apresentar problemas. Rodamos somente alguns quilômetros depois que deixamos a cidade de Piraquara. Faríamos uma nova parada em um fim de mundo, pois a lata velha havia quebrado de vez. Nós, passageiros, teríamos que permanecer no local até o dia seguinte, era quando chegariam as peças necessárias para efetuar o conserto do busão.
Daisy ficou se culpando por não ter pego um ônibus de uma companhia regularizada, no entanto, só seria possível se embarcasse na rodoviária onde havia inúmeras câmeras de vigilância e ainda teria que apresentar documento e teria seu nome na lista de passageiros. Não acontecia o mesmo com aquele ônibus clandestino.
A garota desceu para relaxar. Enquanto caminhava pela pequena praça do vilarejo, foi abordada por um jovem casal no interior de um Santana que mal dava para ver a cor de tão empoeirado que estava. Eles vinham em sentido contrário, à caminho de São Paulo. Estavam de passagem pela cidade e pensaram que ela fosse moradora do local. Perguntaram onde poderiam comer e beber algo e se havia alguma diversão naquele lugar.
Depois que Daisy explicou que também estava de passagem, disse que havia visto um lugar legal a uns 500 metros atrás.
— Se não fosse o cabelo, todos diriam que vocês duas são gêmeas. — As duas garotas concordaram e sorriram com a observação do rapaz.
A semelhança entre elas era impressionante. A jovem de cabelo curto e negro se apresentou como Jessie e o rapaz como James. Ela 20 anos, ele 24.
O trio partiu para o “lugar legal” mencionado por Daisy, uma parada de caminhoneiros e viajantes. Lá chegando, eles comeram, beberam, conversaram banalidades e desconversaram quando a pergunta foi mais íntima. Ninguém queria revelar detalhes relevantes de sua origem. O casal disse que era do interior de São Paulo e ambos viviam na estrada a mais de dois anos, era uma vida cigana.
— Ninguém chorou quando partimos e ninguém deve estar à nossa espera ou desejando nossa volta — desabafou Jessie.
Daisy revelou que era nordestina, mas não de onde, e que veio para o Sudeste em busca de trabalho e de melhores oportunidades.
Os três jovens estavam cheios de más intenções, todos tinham algo a esconder e interesses distintos. A conversa amigável assemelhava-se a um jogo de poker em que se paga pra ver caso presuma que está de posse das melhores cartas.
O casal de relação aberta assediou a jovem que cedeu sem muita resistência. O trio abriu mão de procurar um motel, decidiram por um encontro a três às margens de uma represa localizada terreno adentro e que seguia ao longo da estrada. O local escolhido parecia uma praia deserta, propício à intenção deles de praticarem um ménage à trois.

Estávamos distante de olhares incriminatórios, foi quando a Jessie me abraçou dizendo que estava morrendo de tesão por mim. Beijou minha boca sem a menor cerimônia. Nós três estávamos ligeiramente embriagados e com a libido a mil. As preliminares avançaram com o cara me despindo o tronco, roçou seu tórax nu em minhas costas e suas mãos amassaram carinhosamente os meus peitos. A garota grudou em meus lábios novamente, fizeram de mim recheio de sanduíche em um abraço triplo.
James puxou-me de lado, descolei da Jessie para beijá-lo. Após devorar minha língua ele desceu até meu seio e o sugou como se estivesse faminto. Nesse meio tempo eu já estava pelada, pois a Jessie havia me despido inteirinha e se enfiou entre minhas pernas. A garota me ganhou de vez ao brincar com meu sexo em sua boca. 
Tudo acontecia rápido demais e eles trabalhavam em conjunto como se houvessem ensaiado ou praticado o lance várias vezes. Desde o bar eu desconfiei daqueles dois, suspeitava que poderia estar caindo em um golpe, mas eles tinham algo que me interessava muito, então resolvi correr o risco e entrar nesse jogo perigoso.
O cara me deitou na areia e ajoelhou me deixando entre suas pernas para que eu recebesse seu pau garganta adentro. Fiquei receosa e com raiva de mim mesma; deixei que me colocassem indefesa estendida embaixo dele. Contudo, a posição de submissão teve o seu lado bom, a garota abriu minhas pernas as levantando e teria arrancado meus gritos de tesão com sua chupada caso eu não estivesse de boca cheia fazendo um boquete no James.
O momento a seguir foi de dúvida e hesitação, ele veio de pau em riste pronto para me possuir… E sem preservativo. Eu estava morrendo de tesão e doida para transar gostoso com ele. Em outra situação eu teria dado um foda-se e me entregado, porém, havia algo mais em jogo e não era somente sexo.
Demonstrei receio e disse que gostaria de assistir os dois se pegando primeiro, ainda não estava completamente à vontade com aquela novidade única em minha vida. Eles trocaram um olhar… Sabe aquele instante de percepção em que conseguimos ler até pensamentos? Foi o que aconteceu comigo, sabia que estavam se comunicando por código. Eu tinha que tomar uma decisão rápida executando o meu plano, antes que fosse tarde demais e me transformasse em vítima.
Falei que ia procurar uma camisinha na minha mochila, enquanto isso ele deitou sobre ela, percebi que a penetrou, pois o gemido profundo da garota refletiu em mim como se fosse eu a penetrada.

Nos minutos a seguir o casal se amou intensamente como se o fizessem pela última vez.

***

Acordei horas mais tarde ouvindo a cantoria dos pássaros, começava a raiar o dia. Estava deitada na relva, um pouco mais acima de onde acontecera nossa transa a três. Estava sozinha naquela beira de represa, o lugar ainda permanecia deserto. Estava exausta, nua e imunda. Olhei assustada procurando por minhas coisas, fiquei aliviada vendo que tudo ainda estava como deixei. Tomei um banho na água fria e turva antes de me vestir e voltar para o ônibus. Fiquei preocupada que antecipassem o conserto e o motorista saísse antes que eu chegasse.
Já era dia de sol intenso quando cheguei e pedi minha mala para o responsável pelo transporte, a maior parte dos meus 600 mil dólares estavam guardados dentro dela. O homem disse que a lata velha ficaria pronta em uma hora e seguiríamos viagem. Falei que tinha conseguido uma carona e me fui. Caminhei alguns quarteirões e peguei o Santana onde deixara estacionado. Depois acelerei estrada afora.

Ao passar pela “prainha deserta” Daisy acenou dando um tchau, um muito obrigado e sorriu com frieza. Foi naquele mesmo local onde ocorreu a orgia da noite anterior que ela sepultou os corpos do casal Jessie e James.


Os dois jovens haviam rodado por quase todo o país nos últimos dois anos vivendo um dia após o outro com o fruto dos pequenos golpes que aplicavam. A tática era atrair homens e mulheres para diversão sexual a três ou a quatro para depois roubá-los e fugirem para outra cidade. Quando o dinheiro acabava após farras e noitadas, eles partiam em busca de uma nova vítima. No entanto, dessa vez os caçadores viraram caça. Enquanto estavam com os corpos colados ao chegarem ao momento mágico daquela transa, Jessie teve um orgasmo múltiplo ao ouvir o urro demoníaco do seu parceiro. Ela imaginou que a manifestação fosse de tesão quando ele deu seu último gemido de dor ao sentir a lâmina de uma faca atravessando o seu coração. Isso a fez gemer e remexer ainda mais com a intensidade do seu clímax.
Jessie estava de olhos cerrados quando sentiu o primeiro golpe em seu pescoço. Horrorizada abriu os olhos e, sangrando em abundância e quase sem vida, ainda viu a sua algoz dando-lhe o golpe de misericórdia.
O momento mágico, último na vida do casal, se transformou em momento trágico.
Os dois corpos foram enterrados juntos onde a vegetação manteria os transeuntes afastados do local e da cova.

***

Em São Paulo o negócio havia dado ruim pro Edgar, ele foi preso, pois era o principal suspeito de ter assassinado a pessoa encontrada carbonizada em seu carro. O grau de carbonização, somado à ausência das partes mutiladas, impediram a identificação do corpo.
Outro agravante contra o homem: centrais telefônicas da região confirmaram que os celulares da Giulia e da Daisy estiveram conectados ao wi-fi da casa dele até 01h08 da madrugada de sábado. Ambos perderam o sinal ao mesmo tempo e não houve novos registros. Os aparelhos não foram localizados.
Além disso, foram encontrados vestígios de sangue na residência. Após a perícia o homem se complicou ainda mais.

O investigador Freitas havia sido designado para o caso do corpo carbonizado e sumiço das duas moças. Ele tentava estabelecer uma relação com o caso Luana.
Durante a investigação na casa do Edgar foram recuperados dados apagados do HD do seu Laptop. O policial fez uma expressão de questionamento ao visualizar o material, havia várias fotos e pequenos vídeos da Daisy. Na maioria deles ela estava nua ou em trajes menores. Aparentemente foi o patrão Edgar quem registrou as cenas produzidas em sua residência, na casa de praia em Maresias e também na casa da garota. Em quase todas as imagens ela aparece contrariada, esconde o rosto, mostra o dedo e ameaça jogar objetos.
Em um dos vídeos a jovem está na cozinha de sua casa mexendo em uma panela no fogão. Suas nádegas e restante da retaguarda estão descobertas, pois ela veste somente um aventalzinho que cobre parcialmente suas partes frontais. Ela se vira Irritada e ordena que ele pare de filmá-la.
O policial conjectura que a irritação, na verdade, seja um jogo de provocação e sedução que a menina astuta faz com o homem, ou com os homens. Ele pensou na cena da última vez em que esteve na casa da garota para pegar informações do caso Luana. Era quase meio-dia de uma segunda-feira e ela estava com este mesmo pequeno avental do vídeo quando o atendeu após suas batidas na porta:
— Já vai, Léo, um minuto. 
Ela escancarou a porta. Estava com um sorriso largo no rosto e ajeitando os cabelos, porém, sua expressão ficou séria ao ver-me, fechou um pouco a porta ficando com o corpo parcialmente coberto. 
— Desculpe-me por não ser o Léo. 
— Magina, não tem de quê — o Léo é um dos rapazes que está trabalhando na casa debaixo, ele à pouco disse que vinha pegar o almoço. Pensei que fosse ele.
“Essa malandrinha se justifica demais para quem não tem nada a esconder.” Pensou o homem e, não, o investigador. 
— Eu estava passando e aproveitei para lhe fazer mais umas perguntas… — O celular dele tocou e era urgente, tinha que ir para uma cena de crime. Disse para a moça que a procuraria outro dia.

“Só hoje me dei conta de que não vi nada mais em seu corpo além do aventalzinho que cobria seios e quadris. Ela provavelmente estava com a bundinha de fora e o felizardo do pedreiro é quem se deliciou com a cena da menina exibida. Droga de telefone, não poderia ter esperado quinze minutos antes de tocar?” Lamentou-se o policial em pensamento. 

Freitas continuou examinando os vídeos. No próximo ela aparentava embriaguez, contudo estava calma e amorosa dessa vez. Cheia de malícia e com gestos de sensualidade diz que faria um strip-tease e masturbaria a si e a ele também. Permitiria que a filmasse, em troca queria parte do pé de meia dele. Ela fez sinal de aspas com as mãos ao dizer “pé de meia”, sem largar o copo de vinho. O vídeo foi pausado e ao continuar mostra a jovem caminhando rápido em direção à pia. Está completamente nua novamente e desta vez parecia ser real a sua fúria. A moça pegou uma faca de cozinha e o ameaçou:
— Para caralho! Você sabe do que sou capaz, faço o mesmo com você se continuar me emputecendo — o homem a chama de boca suja e encerra o vídeo.
Freitas balança negativamente a cabeça, sorri e se recusa a acreditar na teoria que acabara de formular: que aquele anjo sedutor não fosse uma vítima e, sim, uma assassina fria e calculista.

Horas mais tarde, em uma cidade do estado de Santa Catarina, Daisy admirou-se no espelho de uma pousada. Ela cortara seus cabelos longos e castanhos e os tingira de negro. Comparou com a foto da identidade da Jessie e sorriu satisfeita. A jovem criminosa ganhou um visual diferente e documentos que certificavam sua atual aparência. Com dinheiro suficiente para não precisar trabalhar por anos, ela só teria a preocupação de nunca ser presa ou sua vida de vilanias chegaria ao fim.

Fim

Quero agradecer a todos que tornaram esta obra possível, especialmente ao meu amigo Caio Renato Gadelha que disponibilizou seu tempo me ajudando com a minha dificuldade em desenvolver cenas de crime. Também foi fundamental na construção do perfil criminoso da minha protagonista (Daisy).

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Entregas Especiais 12 – Caça ao Tesouro

Daisy percebeu que estava sendo colocada de lado pouco a pouco. Suspeitava que sairia da relação com o Edgar e também da loja com uma mão na frente e outra atrás. Ela obteve conhecimento de que limparam a sua ficha com a justiça referente ao primeiro atropelamento que ela cometera contra o filho do prefeito, caso ocorrido no RN e com a motocicleta do seu avô. Com a ficha limpa, decidiu ter alguma salvaguarda no emprego atual: ela pediu para que o Edgar a registrasse. O homem transferiu a responsabilidade para a patroa substituta (a Giulia). A mulher, que por motivos óbvios não gostava da Daisy, enrolou a jovem concorrente dando-lhe evasivas e dizendo para deixarem assim por hora, pois a situação da loja estava em mudança. O registro seria feito no início do próximo ano.
A garota sacou o joguinho do casal de patrões e sabia que não passaria o Réveillon empregada. Decerto teria que sair da quitinete também.

Eu precisava pôr a mão na grana que o Edgar estava ocultando, depois daria um perdido em algum lugar bem longe de São Paulo.
Em uma das últimas noites em que dormi na casa dele, fui para o banho assim que chegamos. Enquanto estava sentada no vaso pensando na vida, ouvi um barulho rápido, similar ao de uma tampa de bueiro sendo removida ou recolocada. Aquilo só chamou a minha atenção porque era quase meia noite, porém, somente um dia depois, em meio aos meus pensamentos, dei-me conta que poderia ser o homem escondendo a grana desviada da loja.
Em minha visita seguinte fiquei ligada no barulho, mas nesse dia não ouvi nada. Ainda assim, pela manhã, enquanto ele estava no banho, dei uma olhada rápida no quintal em busca de algo similar. Encontrei duas tampas de ferro de uns 80x40cm, no chão, rente à parede no interior da pequena área onde ficava a churrasqueira, e sob um balcão de alvenaria que separava o ambiente do quintal. Tentei levantar uma das tampas enfiando dois dedos em um pequeno orifício lateral… Sem chance, a chapa era grossa e pesada, precisaria de um ferro para fazer de alavanca. Voltei rapidinho para dentro antes que ele saísse do banho e me pegasse bisbilhotando.

Na última sexta-feira daquele mês, a tia Carlota chegou de surpresa para conferir de perto como o seu patrimônio, herdado da sobrinha, estava sendo administrado. A princípio ela se hospedaria no apartamento alugado pela Giulia. Foi um balde de água fria nos planos da mulher que estava cada vez mais envolvida em seu relacionamento secreto com o Edgar. O casal havia combinado de saírem para jantar e depois, como era costume nos dias de encontro, dormiriam na casa dele. Ela também não queria dar oportunidades para que a Daisy fosse em seu lugar. Apesar de que o homem jurava que acabara há meses o seu envolvimento com a menina, mas a Giulia sabia que continuavam se encontrando (a mulher sempre sabe).

Quando eu voltei da última entrega, naquele final de expediente de sexta, felizmente as duas mulheres já haviam saído, pois eu queria ficar sozinha com o Edgar e pedir para dormir em sua casa. Desconfiei que com a aproximação repentina da tia, minhas chances de conseguir pôr as mãos no dinheiro estariam terminando.
Ele não se opôs, passamos em um drive-thru e levamos nosso jantar.
Quando chegamos, ainda dentro de sua garagem, ele estava todo safado e queria transar dentro do carro. Escapei dele com minhas calças quase arriadas, desci falando que precisava fazer xixi — realmente precisava — o homem desceu agarrando em minha cintura e colocou-me sobre o capô, disse que não aguentava mais de tesão e queria me ter naquele instante.
Na hora eu não entendi nada, mas depois pensei que estivesse preocupado que a Giulia visse as evidências que deixaríamos na cama.
Não dei importância e até curti o calorzinho da lataria sobre o motor em minha bunda nua, posto que ele já havia puxado o meu jeans e a minha calcinha até o meio de minhas pernas.
O homem estava mesmo a fim; meu jeans justinho e minha lingerie passaram pelos meus pés em tempo recorde e a sua boca chegou ao meu sexo frações de segundo depois. Ahh! Ele judiou de mim; não resisto à uma língua safada em minha vagina. Fez-me contorcer sobre a lataria e já ia gozar em sua boca sem aviso prévio, contudo, ele desceu as calças junto com a cueca e enterrou tão rapidamente que continuei no estado de clímax e gozei mesmo antes que seu pau iniciasse as bombadas em minha boceta. Deeeeus! Suas estocadas a seguir intensificou meu gozo, nunca foi tão bom com ele antes. O quarentão me fez delirar naquela noite.

Segundos após ele gozar e tirar de dentro todo satisfeito, subi correndo com uma mão na xoxota segurando a meleca dentro de mim e quase mijando escada acima. Cheguei ao banheiro e instantes depois aconteceu novamente o lance do barulho como se alguém removesse a tampa de um bueiro.  Permaneci sentada no vaso e de orelhas em pé. Ouvi um baque: "com certeza é o som de uma das chapas de ferro sendo colocada de volta no lugar", pensei. 
Naquela noite eu fui preparada para achar aquela grana a qualquer custo, levara um sonífero para fazer o Edgar dormir pesado por várias horas, assim eu poderia remover as tampas em busca do dinheiro, ou continuar procurando por toda a casa enquanto ele estivesse  apagado.


Ao final do nosso jantar ele  capotou e não acordaria tão cedo, pois eu havia colocado porções generosas da droga nas duas últimas doses que o homem ingeriu. Comecei a agir rápido: desci à procura de alguma ferramenta para remover as tampas. Achei um pé de cabra que estava em destaque dentro de um armário na área de serviço. Imaginei que o Edgar usava o negócio com o mesmo fim.
Levantei e arrastei a primeira chapa de ferro… Nada, só buracos de canos grandes de esgoto. Na segunda, assim que a arrastei parcialmente, já bateu a emoção, pois vi algo interessante.
Descobri totalmente aquele vão no piso, dentro havia uma caixa do tamanho de um micro-ondas grande. Abri a tampa de plástico e quase tive um treco, o bagulho estava estufado de dinheiro, pacotes de dólares com notas de 100, 50 e 20, além de um maço de uns dez centímetros com notas de 50 e 100 reais.
Tirei a caixa com o dinheiro e ia repor a chapa de ferro para depois sair fora rápidão, porém, um som vindo da cozinha me fez gelar. Abaixei ficando quietinha e ouvi novamente a voz da Giulia chamando pelo patrão. Fodeu! Eu não tive como apagar a luz para ficar em silêncio e escondida debaixo do balcão. Daí não seria percebida.
Aquela infeliz entrou na área da churrasqueira e tornou a chamá-lo. Ouvi o som do seu salto vindo em direção da entrada da varandinha; ela veria a mim, a caixa do dinheiro e tudo estaria perdido.
"Tô fodida, preciso me livrar dessa intrometida". Falei comigo mesma. Levantei e dei um sorriso forçado.
— Oi, chefinha, você aqui? — ela odiava que eu a chamasse de chefinha, nem lembrei na hora, estava muito nervosa.
Ela também ficou nervosa e disse ironicamente:
— Então a menina continua fazendo hora extra aqui — cadê o Edgar?
Ela ainda estava do lado de fora do balcão. Falei que ele estava vendo um encanamento entupido. Percebi sua cara de quem não entendeu nada, então adiantei-me antes dela falar.
— Vem aqui ver, ele está lá dentro.
E apontei para debaixo do balcão, depois peguei discretamente o pé de cabra e o segurei escondido por detrás da minha perna. Ela aproximou-se caminhando toda cheia de pose com seu salto alto e seu jeito arrogante. Chamou pelo homem novamente. 
— Acho que ele não consegue te ouvir lá de dentro.
Ela olhou para a caixa, olhou para a luva de limpeza em minha mão e para o buraco.
— Você tem que chamar mais perto da entrada para que ele te ouça.
Ela parecia desconfiada. Eu pensei em acertar a cara dela enquanto era tempo, no entanto, a sonsa abaixou quase ajoelhando na beirada da cavidade vazia. Quando ela gritou "EDGARRRR" eu levantei o pé de cabra e dei uma pancada com toda a minha força em sua cabeça. Ela caiu tombada com o tronco dentro do buraco, a ferramenta foi junto escapando de minhas mãos. Eu ia pegar o bagulho e bater novamente, pois ela não poderia sair dali com vida e contar o que viu.
Mas nem foi preciso um segundo golpe, eu tinha mais força do que imaginava, a parte da ferramenta que é usada para arrancar pregos, havia entrado totalmente na cabeça dela e foi com dificuldade que consegui tirar.

Algumas horas antes, no apartamento da Giulia.
Durante o jantar a tia Carlota pressionou a moça sobre seu envolvimento com o Edgar. Ela negou e quis saber de onde ela tirou aquela ideia. A mulher não revelou como soube. Ela ouvira um comentário maldoso da Daisy no decorrer do dia, dito para outro funcionário:
— Esperta essa gerente, além de administrar a loja, ela também administra o patrão na cama da nossa ex-patroa.
A tia passou a prestar mais atenção nas atitudes do casal referido e percebeu um excesso de simpatia entre eles. Ficou decepcionada com a sua gerente.
Depois do jantar e da conversa, a senhora sentia-se incomodada e visivelmente irritada. Disse que voltaria para Bragança Paulista naquela noite mesmo.
Ao decidir não pernoitar no apto, sem saber ela estava assinando a sentença de morte da assistente que havia traído sua confiança. 
A Giulia não insistiu. Assim que a mulher saiu, mais que depressa ela mandou uma mensagem de texto para o Edgar dizendo que estava indo dormir com ele. Não obteve resposta. Ela ligou, mas só deu caixa postal. Deduziu que o homem já estivesse dormindo. "Sem problemas", pensou, ela tinha as chaves da casa e faria uma surpresa.

"Meu plano inicial era achar o pé de meia do patrão e sair com a grana dentro da minha mochila. Depois vi que precisaria de outra mochila, era muito dinheiro. E agora me acontece isto. Por que esta infeliz tinha que aparecer?" Fiquei me lamentando e xingando a morta idiota que atrapalhou tudo.
Refletia tentando elaborar um plano de fuga que não me incriminasse. As ideias fluíam desordenadas, mas já tinha um esboço do que faria, pois não poderia ficar perdendo tempo.
Depois que participei do esquartejamento da patroa, nada mais me impressionava. Pensei em tudo que precisaria e fui juntando na garagem. Depois ensaquei a cabeça dela com uma sacolinha plástica para não espalhar sangue pela casa toda. Arrastei e coloquei o corpo no porta malas do carro do homem, também a arma do crime e as coisas necessárias para me livrar do corpo e para a minha fuga. Dividi o dinheiro da caixa: parte em minha mochila e  parte em uma bolsa de lona. Limpei o sangue do piso com um pano e recoloquei a caixa de volta na cavidade, também a tampa de ferro. Não queria que o homem descobrisse de imediato que houve violência ali, ele só pensaria no roubo do seu dinheiro e não chamaria a polícia. Ainda acrescentei algumas gotas do meu sangue ao pano com o sangue da Giulia. Coloquei no fundo do cesto de lixo.
Peguei minhas coisas, a carteira do homem com os documentos da Tucson, os copos em que eu coloquei o sonífero, dei uma última conferida e partiu desova.

Eu iria queimá-la dentro do carro em um lugar deserto, queria que pensassem que a carbonizada fosse eu. Para tanto teria que ser forte o suficiente para cortar as falanges dos dedos dela… E também a cabeça. Argh!
Não havia tempo para carbonizar as partes cortadas e o fogo de madrugada chamaria a atenção. Enterrei bem distante de onde deixaria o corpo.

Cheguei ao local escolhido, próximo à represa. Já havia me livrado das ferramentas e acessórios pelo caminho. Troquei de roupa e deixei a que estava suja dentro do carro. Encharquei todo o interior, também o cadáver, com quase dez litros de gasolina, recuei alguns metros, acendi uma tocha que fiz enrolando um pano umedecido de gasolina no salto do sapato dela e joguei no carro.
Aff! O fogo enorme chamaria a atenção a quilômetros de distância. Peguei a mochila e a bolsa que estavam mais à frente e desapareci do local.

Eram quase quatro horas da manhã. Teria que caminhar meia hora até a estação de trem.

Continua…

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Entregas Especiais 11 – Reencontro Fatal

O Augusto levou-me em um bar no bairro de Santana, o pessoal costumava reunir-se no local para comerem algo e já começavam a beber antes de irem para as casas noturnas. Só então fiquei sabendo que a festa privada, a qual iríamos, tinha uma pegada diferente; era um misto de "Balada" e "Festa do Pijama" para adultos. Rolaria até o avançar do dia seguinte (domingo). O local era na Serra da Cantareira,  ali mesmo na zona norte de São Paulo.
Ainda no bar, conheci alguns dos seus colegas, inclusive um que parecia ser o mais sem noção da turma; além de ficar me assediando com olhares, caras e bocas, ainda fez questão de ficar exibindo um chaveiro com o logotipo nada discreto da BMW. O Augusto já havia me falado dessa tática do colega para tentar "pegar" garotas nas baladas. No entanto, o carro dele era um Corsa Classic 2012.
— E funciona? — questionei só de farra.
— Não, ele continua indo embora sozinho — respondeu o Augusto e gargalhou.
Era meia-noite e pouco quando chegamos em uma casa enorme que parecia estar em meio ao nada, em razão de só haver vegetação por toda volta. E o ponto alto do agito, aparentemente, acontecia na área externa, já que a noite estava quente e a piscina liberada. As condições eram propícias para uns figurinos mais praianos, tanto para homens quanto para mulheres que curtiam exibir suas formas físicas nessas baladas particulares.
Uma novidade, pelo menos para mim, eram as pequenas tendas tipo barracas de camping, oito ao todo e ao lado da piscina. Os convidados teriam privacidade para transarem no decorrer da festa. Pegamos uma "senha" assim que chegamos e também duas bebidas. Mais que depressa nos instalamos em um dos "moteizinhos de lona". Extravasamos todo o desejo acumulado durante aquela semana o transformando em uma pegada com orgasmos seguidos.
Mais tarde, depois do love gostoso, fomos abastecer nossos copos com a mistura de uísque e energético; a bebida era servida à vontade, assim como vodca. No caminhar entre os convidados o Augusto foi me apresentando para alguns dos seus colegas de trabalho e outros de noitadas.

O momento constrangedor aconteceu instantes depois: o encontro dele com sua ex-namorada. A fulana estava no interior da casa em companhia de um cara do círculo de amizades deles e, pelo grau das intimidades e carícias trocadas em um sofá, era evidente que estavam namorando (praticamente transando). O Augusto apontou para o casal e disse que ia até lá falar umas verdades para a vadia. Eu tentei contê-lo, pois pela sua linguagem, era óbvio que daria treta. Ainda tinha o agravante do homem estar embriagado, ele começou a beber no bar e não havia parado até então.
Não consegui contê-lo, o doido abordou o casal com grosserias acusando o cara de fingir ser seu amigo só para pegar sua mulher. A garota ficou puta dizendo para ele respeitá-la e que ela não era sua propriedade. Completou dizendo que apesar de não ser da conta dele, ela só começou a ficar com o outro após terminarem o namoro.
Meu acompanhante perdeu a linha de vez a chamando de vadia mentirosa e ao outro de amigo sacana, entre outros pejorativos. Ela o chamou de bêbado descontrolado e disse que foi por isso que o deixou. Aí não prestou, fechou o tempo e foi um barraco total. Porém sempre tem a turma do deixa disso, eu ajudei a separar o trio com o auxílio do cara do chaveiro da BMW e uns outros.

A ex saiu com o namorado, eu fiquei com o Augusto no interior da casa. Ele estava igual ao dia em que o conheci: de baixa autoestima e carente, fugindo da realidade consumindo álcool e provavelmente drogas. Mas pelo menos acalmou-se.
Ficou tarde pra mim, precisava sair fora e dormir pelo menos um pouquinho antes do sol raiar. Depois precisaria ir para a porta da casa da colega antes da chegada do Edgar. Pedi para irmos embora, o Augusto disse que não estava em condições de dirigir. Falei que eu estava legal e dirigiria. Com a voz pastosa ele retrucou dizendo que estava curtindo a festa, pediu para ficarmos só mais um pouco. Eu pensei em pegar uma carona com qualquer um que estivesse saindo, porém precisaria da minha mochila que estava em seu carro.
— Me empresta a chave para eu pegar minha necessaire? Estou precisando retocar minha maquiagem.
Ele tirou o chaveiro do bolso e disse que ia comigo, no entanto, mal conseguia levantar-se. Puxei o chaveiro da sua mão e sai andando dizendo que voltaria rapidão, nem liguei para os seus protestos. Retornei com a mochila e encontrei o homem apagado de tão bêbado (eu supus a princípio). Nem se mexeu quando enfiei a mão em seu bolso para guardar o chaveiro… Fiquei apreensiva quando meus dedos tocaram algo, eram "pinos" de cocaína, havia vários. Deduzi que a droga não era apenas para consumo próprio, ele deveria estar vendendo para o pessoal da festa, era um traficante "vip".
"Caraca! Em que roubada eu estava me metendo?" Eu pensaria naquilo em outra oportunidade, naquele instante eu só queria sair dali e teria que ser antes do amanhecer, mas aquela turma da festa estava animadíssima, calculei que não iria rolar uma carona tão cedo. Até pensei em sair com o carro do Augusto, mas lembrei de imediato que o veículo tinha um sistema biométrico de ignição, ou seja, eu precisaria da digital do homem para dar a partida. “E se eu pegasse o dedo dele emprestado? Hahaha — pensei sorrindo — não é uma boa ideia, mesmo adorando seu dedo "mau", não o cortaria.”

O cara sem noção, o do chaveiro da BMW, chegou junto e ficou me assediando grandão depois que o Augusto apagou. Convidou-me para um drink dentro do ofurô. Eu recusei, expliquei que não trouxe biquíni. O safado disse que não era preciso roupa de banho, estávamos em uma festa adulta e liberal. Isso era verdade havia alguns peitos de fora ao redor e carícias pra lá de "calientes" fora das tendas. Vislumbrei a oportunidade de conseguir transporte para sair fora, não com ele, pois com certeza o tarado iria querer algo mais em troca. A ideia era pegar suas chaves e seu carro emprestado sem ele saber.
Felizmente os anjos conspiraram a meu favor; uma perua, digo, uma mulher ao nosso lado intrometeu-se na conversa e revelou seu desejo incontrolável de entrar no tanquinho. Ela estava vestida somente com um body negro (praticamente era um maiô). Pensei deduzindo: “Essa será minha chance de conseguir as chaves desse cara assim que ele der mole.”
Fiquei à espreita e esperei eles começarem a diversão dentro d'água. Quando vislumbrei uma oportunidade eu passei ao lado das roupas e arrastei as chaves discretamente com o pé. A seguir as peguei sem que minha ação fosse notada.
Fui para a área de estacionamento e com o controle do alarme localizei o Corsa. Felizmente o som da balada era mais alto que o apitinho do alarme e também abafou o barulho do motor. Saí devagar e tudo conspirava a favor até então. O filme escuro dos vidros do veículo impediriam que alguém identificasse quem estaria ao volante. Afastei-me o suficiente da casa e comecei a dar um gás nos quilômetros seguintes. Fiquei pensando até onde iria e qual seria o melhor local para abandonar o carro do cara sem que eu fosse vista saindo dele.
Peguei meu celular que deu aviso de entrada de mensagem, poderia ser o Augusto. Não era, também não era importante. Depois eu mandaria uma mensagem para ele avisando que peguei uma carona pra casa.
— Merda! — dei uma bobeada na curva e a porra do celular escapou da minha mão caindo no piso do carro.
Não levei mais que um segundo para abaixar e pegar o danado, mas foi o suficiente para não perceber um cara cambaleando no meio da rua… Freei tarde demais e o acertei em cheio.
Super apavorada eu parei o carro e rezei para vê-lo ficar em pé. Girei o olhar em busca de algum observador, felizmente ali só tinha vegetação. Eu estaria fodida se fosse pega pela polícia. Seria acusada de roubo de carro, dirigindo sem habilitação e alcoolizada. Ainda tinha o meu passado que me condenava por atropelamento.
Não tinha viva alma naquele lugar. Arrisquei ir olhar como ele estava, poderia ligar para o resgate, mas não do meu celular, teria que achar um telefone público mais adiante. Desci do carro e voltei procurando pela vítima, não o via nem no asfalto e nem na lateral da rua.
Fiquei horrorizada quando o encontrei dentro de uma vala, era uma depressão do terreno. A visão lembrava a de um contorcionista com o corpo dobrado. O agravante era o pescoço quebrado que deixou sua cabeça para trás parecendo a menina do filme o exorcista. Ele não precisava de um médico e, sim, de um padre.
Eu ia correr para o carro e me mandar o quanto antes, porém, aquele rosto sujo de terra e ensanguentado pareceu-me familiar. Mesmo sabendo que precisava fugir enquanto era tempo, eu cheguei pertinho para conferir a minha suspeita… Jeeesus! Era mesmo o Paulinho, filho do prefeito.
— Que mundo pequeno. Você deu sorte da outra vez, mas hoje eu te peguei em cheio. — Descanse em paz, Paulinho!

Daisy saboreou o momento como uma libertação, levantou e olhou novamente em volta procurando testemunhas… Ninguém. Com uma frieza incomum ela olhou para o cadáver apontando o dedo e disse:
— E não atravesse mais o meu caminho!

Voltei correndo para o carro e desapareci daquele lugar. Depois Achei prudente livrar-me do veículo ao rodar por alguns quilômetros. Estacionei em uma praça de uma área residencial do bairro de Santana. Ainda no interior do veículo, vesti minha calça jeans, tirei o vestido, coloquei a blusa e troquei os sapatos pelo tênis. Limpei o interior do carro com meu vestido da melhor maneira que pude. Minha intenção era eliminar minhas digitais tanto dentro quanto do lado de fora do corsa. Não satisfeita, andei em volta do veículo procurando por algum resíduo indesejável. O bagulho estava limpo, mas com uma marca evidente do impacto.
A seguir andei por alguns quarteirões até encontrar o metrô Santana. Livrei-me da chave jogando aquela coisa em uma boca de lobo momentos antes de entrar na estação.

Durante aquele dia algumas rádios deram uma notícia de forma discreta:
"O corpo de um rapaz, de cerca de 20 anos, foi encontrado na lateral da Av. Santa Inês, próximo à serra da Cantareira. A vítima fatal de um atropelamento foi arremessada para fora da pista. Motociclistas passaram pelo local, viram o corpo e chamaram a polícia. Nenhuma identificação estava em posse da vítima. Também não havia indícios do veículo que o atingiu. A polícia vai investigar o caso."

No final do dia a notícia ganhou repercussão quando o prefeito reconheceu o corpo do filho no IML. A autópsia indicou que ele havia consumido álcool e algumas drogas características do golpe Boa Noite Cinderela.
A polícia ainda não tinha nenhuma pista sobre os autores do crime e o carro envolvido no acidente.

Continua…

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Entregas Especiais 10 – Noite de Baladas

Dois meses depois do crime da casa da praia, o processo de investigação continuava em andamento, o policial Freitas seguiu todos os passos nesse período pegando novos depoimentos do pessoal da loja, principalmente do Edgar e da Daisy. Também esteve oficialmente na residência  da tia em Bragança Paulista e na casa em Maresias. Nessas viagens ele conversou com pessoas em busca de possíveis testemunhas que tivessem visto a desaparecida ou que pudessem descrever as atitudes dos suspeitos (o casal de amantes e a tia) durante aqueles dias de feriado prolongado. Todavia, não encontrou nada que desse uma luz ao seu caso, muito menos encontrou vestígios de homicídio e nem da passagem da Luana por aquelas localidades.
A única beneficiada com a morte da Luana seria sua tia Carlota, mas as investigações não apontaram indícios de que ela estivesse ligada ao sumiço da sobrinha. O caso seria encerrado se nada de novo surgisse nos próximos dias.

Eu até pensei que a minha relação com o Edgar melhoraria após a saída da Luana de nossas vidas, mero engano, o homem ficou mais mandão e cimento do que antes. Também financeira e profissionalmente a minha situação não melhorou em nada e pra piorar, nossa convivência tornara-se destrutiva, a cada dia ele aumentava o seu campo de controle sobre mim. Suas críticas grosseiras quando eu não agia do jeito que ele queria era mais um aditivo para deteriorar a nossa relação que ia de mal a pior. Minha vontade era de sumir… Ou então de matá-lo.


— Não gosto que você use esses shortinhos minúsculos — e essa blusa então...
Ele segurou no cós da minha blusa a puxando para baixo, meus seios saíram pelo decote.
— Veste um sutiã, pelo amor de Deus! — parece que gosta que a chamem de oferecida e vadia.
— Mas você adora ver essa "vadia" pelada, não é?
— Sim, gosto, mas é diferente quando estamos em nossa intimidade.
Ele sempre tinha uma resposta pronta. Desde o início eu tentei levar aquela relação numa boa, evitava retrucar e até engoli alguns sapos, mas o homem estava insuportável e divergíamos em tudo.
— Eu não sou uma senhora como sua ex-mulher, me visto igual aos jovens da minha idade.
— Está me chamando de velho? 
— Estou dizendo pra você parar de exagerar e de ficar me dando ordens; até parece que sou sua escrava.
Era meu primeiro desabafo mais contundente, já estava de saco cheio desse homem me ditando regras.
— Me deixa viver uma vida normal, me divertir, ter amigos, não significa que eu irei transar com eles. Que mania você tem de arrumar defeito em tudo o que eu faço, até parece que gosta de brigar.

Acho que o peguei de surpresa, pois o homem baixou um pouco o tom e me devolveu a surpresa usando sua arma favorita, o poder financeiro. Falou que estava considerando a ideia de me dar um carro, mas não tinha certeza se eu merecia o presente.
"Putz! Que golpe baixo. Pensando bem... Acho que consigo engolir mais alguns sapos". Falei comigo mesma e ri por dentro, mas ainda com carinha de brava.


— Vem cá sua ferinha, deixa eu domar você — falou ele enquanto erguia-me em seus braços.
Dei um gritinho de susto, mas foi de farra. Ele costumava fazer isso. Só que ao invés de levar-me para a cama, como de costume, dessa vez fui colocada de bruços sobre a mesa, em posição de 90 graus. Meu short, calcinha e chinelos foram retirados em segundos e jogados longe. Minhas pernas foram arreganhadas e o homem encaixou por detrás de mim enfiando seu pau lubrificado de saliva em meu sexo. Ele tentava demonstrar que estava com raiva e que era o dono daquela boceta, então socou selvagemente arrancando meus gritinhos e gemidos simulados. Já conhecia meu parceiro e sabia que quanto mais eu bancasse a coitadinha submissa e demonstrando sentir dor, mais rápido ele gozaria e depois me deixaria em paz.
Fiz meu papel naquele jogo comportando-me como uma boa menina, assim aumentei minhas chances de ganhar meu primeiro automóvel.


***

Ao completar três meses do desaparecimento da Luana, sua tia Carlota entrou com uma petição para assumir o controle dos bens da sobrinha, assim poderia administrar provisoriamente os negócios.  Já a obtenção definitiva, poderia levar uma década, seria quando o desaparecimento fosse considerado morte presumida. A menos que achassem o cadáver antes.

Naquela mesma semana o Ministério Público requereu o arquivamento do inquérito sobre o desaparecimento. As autoridades já haviam dadas por encerradas as buscas há mais de um mês e não encontraram nenhum indício de que a mulher estivesse viva ou morta.
Quanto ao Edgar, ele continuava retirando o máximo de dinheiro que podia da loja, os trocava por dólares e também euros. Pretendia manter o dinheiro ilegal escondido em sua residência até que fosse solicitado oficialmente que entregasse a casa.
Dayse passou a frequentar e a dormir na residência com certa constância, ela sabia que o homem estava fazendo um grande pé de meia com o desfalque que dava na loja, só não sabia em qual parte da casa ele escondia o dinheiro.
Na semana seguinte à morte da Luana, o homem conseguiu abrir o cofre particular da esposa com a ajuda de um especialista. Naquele compartimento de aço ela escondia seu dinheiro não declarado: parte de uma herança que recebera do seu pai; dinheiro não declarado, fruto de sonegação de impostos. A filha manteve o esquema em menor proporção, mas ainda era dinheiro ilegal, algo em torno de 600 mil dólares.
O Edgar transferiu o montante do cofre para um local secreto no quintal da casa, pois, se por uma eventualidade a tia soubesse do dinheiro, não o acharia e nem poderia dar queixa à polícia, por razão de ser dinheiro ilícito.


***

Carlota teve sua petição aprovada. Ela não tinha conhecimento e nem vocação para este tipo de negócio, então colocou uma representante de sua confiança para administrar a loja em seu lugar. Giulia era o nome da mulher que beirava os trinta anos. Alta, magricela e sem graça. Também sem bunda, sem atrativos e sem namorado. A moça seria o seu braço direito no comércio. Carlota só não previu que a sua escolhida faria um jogo duplo desde o início ao cair na conversa romântica do sócio minoritário. A moça carente de uma relação amorosa tornou-se uma vítima fácil para o novo Edgar, seguro e conquistador. O homem aprendeu bastante sobre relações amorosas nos últimos meses, assediou a Giulia com elogios, cortesias e convites de jantar.
Em uma das noites seguintes ele a levou em um dos seus restaurantes preferidos. Depois de uma refeição maravilhosa e uma garrafa e meia de um bom vinho, foram direto para o quarto do homem terminar a noite romântica.
Pela manhã havia manchas de amor sobre o lençol e mais uma aliada conquistada.
Não foi difícil para que ele a controlasse e continuasse fazendo suas retiradas do Caixa 2. O mais difícil seria manter o romance em segredo e as duas mulheres, pois o Edgar estava transformado e não queria abrir mão de nada.


***

Diversão Noturna

Algumas semanas mais tarde, o Paulo estava em São Paulo acompanhando seu pai, o prefeito, em uma agenda política e de negócios. O rapaz até considerou a ideia de que Daisy estivesse se escondendo na cidade ou no Rio de Janeiro, contudo, sabia que procurar alguém em uma cidade tão grande era como procurar uma agulha em um palheiro.

Na verdade, o Paulinho veio é curtir a noite paulistana e as suas boates convidativas enquanto o pai cuidava dos negócios. Não tinha a mínima intenção de iniciar uma busca impossível.
Todavia, o destino pregaria uma peça nos dois jovens os colocando frente a frente em um reencontro inesperado.
Não muito distante dali, Daisy arquitetava um novo plano para dar mais um "perdido" no Edgar naquela noite.


“Até quando aguentarei este homem monitorando os meus passos”, pensei sentindo raiva do Edgar. Depois que ficou viúvo ele passou a controlar meus horários e a interferir demais em minha vida. Isso já havia acontecido quando me mudei para a quitinete, mas piorou chegando a parecer neurose. Seu ciúme e senso de propriedade estavam exagerados e dificultando meus encontros com o Augusto. Naquele sábado precisei inventar uma história diferente para passar a noite fora, iria com o Augusto em uma balada privada na casa de seus amigos.
Só consegui driblar o Edgar com a ajuda de uma colega que trabalhava na padaria, inventamos uma noite do pijama em sua casa. O homem fez que acreditou, mas disse que me pegaria de manhã cedinho na casa da garota. Caraca! Que homem chato. Teria que perder horas de sono para chegar antes dele e ficar plantada defronte a residência para parecer que dormi lá.
Mais tarde, depois das 22h, fui com a colega para a casa dela; precisava produzir-me para o encontro com o meu amor. Ele veio me pegar pouco depois.


Enquanto isso, na rua Augusta, centro da cidade, o Paulo fugiu do jantar de negócios políticos com o pai e foi se divertir em uma boate. Apesar do requinte da casa noturna, strip-tease com nu total não era muito mais caro que uma dose de uísque. O Paulinho, que não tinha problemas com dinheiro, aceitou a companhia de duas gatas insinuantes e oferecidas. Uma loira tipo ninfetinha de peitos miúdos e bundinha carnuda. A outra morena, uns 20 anos, peitos enormes, naturais e firmes. Seu corpo era tipo mulherão. As duas profissionais o levaram para o reservado e fizeram o strip particular entre uma e outra garrafa de champanhe. Além da dança recheada de erotismo das duas garotas, elas também estimulavam ainda mais o cliente sentando a bunda nua em seu colo, se esfregando, o acariciando e o enlouquecendo de desejos.
O meninão não aguentava mais só olhar e ser esfregado, queria transar com as duas ali mesmo.
Elas disseram que ali não podia, mas poderiam ir para um motel. A diversão ficaria um pouco mais cara, elas explicaram. "Dinheiro não é problema", falou o filho do prefeito. Elas trocaram um olhar discreto... Era um código das perversas. Sugeriram a saideira antes de irem para o motel.
O trio saiu minutos depois, embarcaram no que seria supostamente um Uber e a diversão chegou ao fim; as garotas lhe aplicaram o golpe do Boa Noite Cinderela. Obtiveram as senhas dos cartões com a cooperação dele quando estava apenas atordoado devido ao efeito das drogas. Levaram sua grana, o rolex, celular e o largaram em um bairro distante, deserto e sem testemunhas. As duas ladras, junto com o comparsa do carro, fariam saques com os cartões do rapaz durante o decorrer da noite.

Continua...