segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Entregas Especiais 11 – Reencontro Fatal

O Augusto levou-me em um bar no bairro de Santana, o pessoal costumava reunir-se no local para comerem algo e já começavam a beber antes de irem para as casas noturnas. Só então fiquei sabendo que a festa privada, a qual iríamos, tinha uma pegada diferente; era um misto de "Balada" e "Festa do Pijama" para adultos. Rolaria até o avançar do dia seguinte (domingo). O local era na Serra da Cantareira,  ali mesmo na zona norte de São Paulo.
Ainda no bar, conheci alguns dos seus colegas, inclusive um que parecia ser o mais sem noção da turma; além de ficar me assediando com olhares, caras e bocas, ainda fez questão de ficar exibindo um chaveiro com o logotipo nada discreto da BMW. O Augusto já havia me falado dessa tática do colega para tentar "pegar" garotas nas baladas. No entanto, o carro dele era um Corsa Classic 2012.
— E funciona? — questionei só de farra.
— Não, ele continua indo embora sozinho — respondeu o Augusto e gargalhou.
Era meia-noite e pouco quando chegamos em uma casa enorme que parecia estar em meio ao nada, em razão de só haver vegetação por toda volta. E o ponto alto do agito, aparentemente, acontecia na área externa, já que a noite estava quente e a piscina liberada. As condições eram propícias para uns figurinos mais praianos, tanto para homens quanto para mulheres que curtiam exibir suas formas físicas nessas baladas particulares.
Uma novidade, pelo menos para mim, eram as pequenas tendas tipo barracas de camping, oito ao todo e ao lado da piscina. Os convidados teriam privacidade para transarem no decorrer da festa. Pegamos uma "senha" assim que chegamos e também duas bebidas. Mais que depressa nos instalamos em um dos "moteizinhos de lona". Extravasamos todo o desejo acumulado durante aquela semana o transformando em uma pegada com orgasmos seguidos.
Mais tarde, depois do love gostoso, fomos abastecer nossos copos com a mistura de uísque e energético; a bebida era servida à vontade, assim como vodca. No caminhar entre os convidados o Augusto foi me apresentando para alguns dos seus colegas de trabalho e outros de noitadas.

O momento constrangedor aconteceu instantes depois: o encontro dele com sua ex-namorada. A fulana estava no interior da casa em companhia de um cara do círculo de amizades deles e, pelo grau das intimidades e carícias trocadas em um sofá, era evidente que estavam namorando (praticamente transando). O Augusto apontou para o casal e disse que ia até lá falar umas verdades para a vadia. Eu tentei contê-lo, pois pela sua linguagem, era óbvio que daria treta. Ainda tinha o agravante do homem estar embriagado, ele começou a beber no bar e não havia parado até então.
Não consegui contê-lo, o doido abordou o casal com grosserias acusando o cara de fingir ser seu amigo só para pegar sua mulher. A garota ficou puta dizendo para ele respeitá-la e que ela não era sua propriedade. Completou dizendo que apesar de não ser da conta dele, ela só começou a ficar com o outro após terminarem o namoro.
Meu acompanhante perdeu a linha de vez a chamando de vadia mentirosa e ao outro de amigo sacana, entre outros pejorativos. Ela o chamou de bêbado descontrolado e disse que foi por isso que o deixou. Aí não prestou, fechou o tempo e foi um barraco total. Porém sempre tem a turma do deixa disso, eu ajudei a separar o trio com o auxílio do cara do chaveiro da BMW e uns outros.

A ex saiu com o namorado, eu fiquei com o Augusto no interior da casa. Ele estava igual ao dia em que o conheci: de baixa autoestima e carente, fugindo da realidade consumindo álcool e provavelmente drogas. Mas pelo menos acalmou-se.
Ficou tarde pra mim, precisava sair fora e dormir pelo menos um pouquinho antes do sol raiar. Depois precisaria ir para a porta da casa da colega antes da chegada do Edgar. Pedi para irmos embora, o Augusto disse que não estava em condições de dirigir. Falei que eu estava legal e dirigiria. Com a voz pastosa ele retrucou dizendo que estava curtindo a festa, pediu para ficarmos só mais um pouco. Eu pensei em pegar uma carona com qualquer um que estivesse saindo, porém precisaria da minha mochila que estava em seu carro.
— Me empresta a chave para eu pegar minha necessaire? Estou precisando retocar minha maquiagem.
Ele tirou o chaveiro do bolso e disse que ia comigo, no entanto, mal conseguia levantar-se. Puxei o chaveiro da sua mão e sai andando dizendo que voltaria rapidão, nem liguei para os seus protestos. Retornei com a mochila e encontrei o homem apagado de tão bêbado (eu supus a princípio). Nem se mexeu quando enfiei a mão em seu bolso para guardar o chaveiro… Fiquei apreensiva quando meus dedos tocaram algo, eram "pinos" de cocaína, havia vários. Deduzi que a droga não era apenas para consumo próprio, ele deveria estar vendendo para o pessoal da festa, era um traficante "vip".
"Caraca! Em que roubada eu estava me metendo?" Eu pensaria naquilo em outra oportunidade, naquele instante eu só queria sair dali e teria que ser antes do amanhecer, mas aquela turma da festa estava animadíssima, calculei que não iria rolar uma carona tão cedo. Até pensei em sair com o carro do Augusto, mas lembrei de imediato que o veículo tinha um sistema biométrico de ignição, ou seja, eu precisaria da digital do homem para dar a partida. “E se eu pegasse o dedo dele emprestado? Hahaha — pensei sorrindo — não é uma boa ideia, mesmo adorando seu dedo "mau", não o cortaria.”

O cara sem noção, o do chaveiro da BMW, chegou junto e ficou me assediando grandão depois que o Augusto apagou. Convidou-me para um drink dentro do ofurô. Eu recusei, expliquei que não trouxe biquíni. O safado disse que não era preciso roupa de banho, estávamos em uma festa adulta e liberal. Isso era verdade havia alguns peitos de fora ao redor e carícias pra lá de "calientes" fora das tendas. Vislumbrei a oportunidade de conseguir transporte para sair fora, não com ele, pois com certeza o tarado iria querer algo mais em troca. A ideia era pegar suas chaves e seu carro emprestado sem ele saber.
Felizmente os anjos conspiraram a meu favor; uma perua, digo, uma mulher ao nosso lado intrometeu-se na conversa e revelou seu desejo incontrolável de entrar no tanquinho. Ela estava vestida somente com um body negro (praticamente era um maiô). Pensei deduzindo: “Essa será minha chance de conseguir as chaves desse cara assim que ele der mole.”
Fiquei à espreita e esperei eles começarem a diversão dentro d'água. Quando vislumbrei uma oportunidade eu passei ao lado das roupas e arrastei as chaves discretamente com o pé. A seguir as peguei sem que minha ação fosse notada.
Fui para a área de estacionamento e com o controle do alarme localizei o Corsa. Felizmente o som da balada era mais alto que o apitinho do alarme e também abafou o barulho do motor. Saí devagar e tudo conspirava a favor até então. O filme escuro dos vidros do veículo impediriam que alguém identificasse quem estaria ao volante. Afastei-me o suficiente da casa e comecei a dar um gás nos quilômetros seguintes. Fiquei pensando até onde iria e qual seria o melhor local para abandonar o carro do cara sem que eu fosse vista saindo dele.
Peguei meu celular que deu aviso de entrada de mensagem, poderia ser o Augusto. Não era, também não era importante. Depois eu mandaria uma mensagem para ele avisando que peguei uma carona pra casa.
— Merda! — dei uma bobeada na curva e a porra do celular escapou da minha mão caindo no piso do carro.
Não levei mais que um segundo para abaixar e pegar o danado, mas foi o suficiente para não perceber um cara cambaleando no meio da rua… Freei tarde demais e o acertei em cheio.
Super apavorada eu parei o carro e rezei para vê-lo ficar em pé. Girei o olhar em busca de algum observador, felizmente ali só tinha vegetação. Eu estaria fodida se fosse pega pela polícia. Seria acusada de roubo de carro, dirigindo sem habilitação e alcoolizada. Ainda tinha o meu passado que me condenava por atropelamento.
Não tinha viva alma naquele lugar. Arrisquei ir olhar como ele estava, poderia ligar para o resgate, mas não do meu celular, teria que achar um telefone público mais adiante. Desci do carro e voltei procurando pela vítima, não o via nem no asfalto e nem na lateral da rua.
Fiquei horrorizada quando o encontrei dentro de uma vala, era uma depressão do terreno. A visão lembrava a de um contorcionista com o corpo dobrado. O agravante era o pescoço quebrado que deixou sua cabeça para trás parecendo a menina do filme o exorcista. Ele não precisava de um médico e, sim, de um padre.
Eu ia correr para o carro e me mandar o quanto antes, porém, aquele rosto sujo de terra e ensanguentado pareceu-me familiar. Mesmo sabendo que precisava fugir enquanto era tempo, eu cheguei pertinho para conferir a minha suspeita… Jeeesus! Era mesmo o Paulinho, filho do prefeito.
— Que mundo pequeno. Você deu sorte da outra vez, mas hoje eu te peguei em cheio. — Descanse em paz, Paulinho!

Daisy saboreou o momento como uma libertação, levantou e olhou novamente em volta procurando testemunhas… Ninguém. Com uma frieza incomum ela olhou para o cadáver apontando o dedo e disse:
— E não atravesse mais o meu caminho!

Voltei correndo para o carro e desapareci daquele lugar. Depois Achei prudente livrar-me do veículo ao rodar por alguns quilômetros. Estacionei em uma praça de uma área residencial do bairro de Santana. Ainda no interior do veículo, vesti minha calça jeans, tirei o vestido, coloquei a blusa e troquei os sapatos pelo tênis. Limpei o interior do carro com meu vestido da melhor maneira que pude. Minha intenção era eliminar minhas digitais tanto dentro quanto do lado de fora do corsa. Não satisfeita, andei em volta do veículo procurando por algum resíduo indesejável. O bagulho estava limpo, mas com uma marca evidente do impacto.
A seguir andei por alguns quarteirões até encontrar o metrô Santana. Livrei-me da chave jogando aquela coisa em uma boca de lobo momentos antes de entrar na estação.

Durante aquele dia algumas rádios deram uma notícia de forma discreta:
"O corpo de um rapaz, de cerca de 20 anos, foi encontrado na lateral da Av. Santa Inês, próximo à serra da Cantareira. A vítima fatal de um atropelamento foi arremessada para fora da pista. Motociclistas passaram pelo local, viram o corpo e chamaram a polícia. Nenhuma identificação estava em posse da vítima. Também não havia indícios do veículo que o atingiu. A polícia vai investigar o caso."

No final do dia a notícia ganhou repercussão quando o prefeito reconheceu o corpo do filho no IML. A autópsia indicou que ele havia consumido álcool e algumas drogas características do golpe Boa Noite Cinderela.
A polícia ainda não tinha nenhuma pista sobre os autores do crime e o carro envolvido no acidente.

Continua…

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Entregas Especiais 10 – Noite de Baladas

Dois meses depois do crime da casa da praia, o processo de investigação continuava em andamento, o policial Freitas seguiu todos os passos nesse período pegando novos depoimentos do pessoal da loja, principalmente do Edgar e da Daisy. Também esteve oficialmente na residência  da tia em Bragança Paulista e na casa em Maresias. Nessas viagens ele conversou com pessoas em busca de possíveis testemunhas que tivessem visto a desaparecida ou que pudessem descrever as atitudes dos suspeitos (o casal de amantes e a tia) durante aqueles dias de feriado prolongado. Todavia, não encontrou nada que desse uma luz ao seu caso, muito menos encontrou vestígios de homicídio e nem da passagem da Luana por aquelas localidades.
A única beneficiada com a morte da Luana seria sua tia Carlota, mas as investigações não apontaram indícios de que ela estivesse ligada ao sumiço da sobrinha. O caso seria encerrado se nada de novo surgisse nos próximos dias.

Eu até pensei que a minha relação com o Edgar melhoraria após a saída da Luana de nossas vidas, mero engano, o homem ficou mais mandão e cimento do que antes. Também financeira e profissionalmente a minha situação não melhorou em nada e pra piorar, nossa convivência tornara-se destrutiva, a cada dia ele aumentava o seu campo de controle sobre mim. Suas críticas grosseiras quando eu não agia do jeito que ele queria era mais um aditivo para deteriorar a nossa relação que ia de mal a pior. Minha vontade era de sumir… Ou então de matá-lo.


— Não gosto que você use esses shortinhos minúsculos — e essa blusa então...
Ele segurou no cós da minha blusa a puxando para baixo, meus seios saíram pelo decote.
— Veste um sutiã, pelo amor de Deus! — parece que gosta que a chamem de oferecida e vadia.
— Mas você adora ver essa "vadia" pelada, não é?
— Sim, gosto, mas é diferente quando estamos em nossa intimidade.
Ele sempre tinha uma resposta pronta. Desde o início eu tentei levar aquela relação numa boa, evitava retrucar e até engoli alguns sapos, mas o homem estava insuportável e divergíamos em tudo.
— Eu não sou uma senhora como sua ex-mulher, me visto igual aos jovens da minha idade.
— Está me chamando de velho? 
— Estou dizendo pra você parar de exagerar e de ficar me dando ordens; até parece que sou sua escrava.
Era meu primeiro desabafo mais contundente, já estava de saco cheio desse homem me ditando regras.
— Me deixa viver uma vida normal, me divertir, ter amigos, não significa que eu irei transar com eles. Que mania você tem de arrumar defeito em tudo o que eu faço, até parece que gosta de brigar.

Acho que o peguei de surpresa, pois o homem baixou um pouco o tom e me devolveu a surpresa usando sua arma favorita, o poder financeiro. Falou que estava considerando a ideia de me dar um carro, mas não tinha certeza se eu merecia o presente.
"Putz! Que golpe baixo. Pensando bem... Acho que consigo engolir mais alguns sapos". Falei comigo mesma e ri por dentro, mas ainda com carinha de brava.


— Vem cá sua ferinha, deixa eu domar você — falou ele enquanto erguia-me em seus braços.
Dei um gritinho de susto, mas foi de farra. Ele costumava fazer isso. Só que ao invés de levar-me para a cama, como de costume, dessa vez fui colocada de bruços sobre a mesa, em posição de 90 graus. Meu short, calcinha e chinelos foram retirados em segundos e jogados longe. Minhas pernas foram arreganhadas e o homem encaixou por detrás de mim enfiando seu pau lubrificado de saliva em meu sexo. Ele tentava demonstrar que estava com raiva e que era o dono daquela boceta, então socou selvagemente arrancando meus gritinhos e gemidos simulados. Já conhecia meu parceiro e sabia que quanto mais eu bancasse a coitadinha submissa e demonstrando sentir dor, mais rápido ele gozaria e depois me deixaria em paz.
Fiz meu papel naquele jogo comportando-me como uma boa menina, assim aumentei minhas chances de ganhar meu primeiro automóvel.


***

Ao completar três meses do desaparecimento da Luana, sua tia Carlota entrou com uma petição para assumir o controle dos bens da sobrinha, assim poderia administrar provisoriamente os negócios.  Já a obtenção definitiva, poderia levar uma década, seria quando o desaparecimento fosse considerado morte presumida. A menos que achassem o cadáver antes.

Naquela mesma semana o Ministério Público requereu o arquivamento do inquérito sobre o desaparecimento. As autoridades já haviam dadas por encerradas as buscas há mais de um mês e não encontraram nenhum indício de que a mulher estivesse viva ou morta.
Quanto ao Edgar, ele continuava retirando o máximo de dinheiro que podia da loja, os trocava por dólares e também euros. Pretendia manter o dinheiro ilegal escondido em sua residência até que fosse solicitado oficialmente que entregasse a casa.
Dayse passou a frequentar e a dormir na residência com certa constância, ela sabia que o homem estava fazendo um grande pé de meia com o desfalque que dava na loja, só não sabia em qual parte da casa ele escondia o dinheiro.
Na semana seguinte à morte da Luana, o homem conseguiu abrir o cofre particular da esposa com a ajuda de um especialista. Naquele compartimento de aço ela escondia seu dinheiro não declarado: parte de uma herança que recebera do seu pai; dinheiro não declarado, fruto de sonegação de impostos. A filha manteve o esquema em menor proporção, mas ainda era dinheiro ilegal, algo em torno de 600 mil dólares.
O Edgar transferiu o montante do cofre para um local secreto no quintal da casa, pois, se por uma eventualidade a tia soubesse do dinheiro, não o acharia e nem poderia dar queixa à polícia, por razão de ser dinheiro ilícito.


***

Carlota teve sua petição aprovada. Ela não tinha conhecimento e nem vocação para este tipo de negócio, então colocou uma representante de sua confiança para administrar a loja em seu lugar. Giulia era o nome da mulher que beirava os trinta anos. Alta, magricela e sem graça. Também sem bunda, sem atrativos e sem namorado. A moça seria o seu braço direito no comércio. Carlota só não previu que a sua escolhida faria um jogo duplo desde o início ao cair na conversa romântica do sócio minoritário. A moça carente de uma relação amorosa tornou-se uma vítima fácil para o novo Edgar, seguro e conquistador. O homem aprendeu bastante sobre relações amorosas nos últimos meses, assediou a Giulia com elogios, cortesias e convites de jantar.
Em uma das noites seguintes ele a levou em um dos seus restaurantes preferidos. Depois de uma refeição maravilhosa e uma garrafa e meia de um bom vinho, foram direto para o quarto do homem terminar a noite romântica.
Pela manhã havia manchas de amor sobre o lençol e mais uma aliada conquistada.
Não foi difícil para que ele a controlasse e continuasse fazendo suas retiradas do Caixa 2. O mais difícil seria manter o romance em segredo e as duas mulheres, pois o Edgar estava transformado e não queria abrir mão de nada.


***

Diversão Noturna

Algumas semanas mais tarde, o Paulo estava em São Paulo acompanhando seu pai, o prefeito, em uma agenda política e de negócios. O rapaz até considerou a ideia de que Daisy estivesse se escondendo na cidade ou no Rio de Janeiro, contudo, sabia que procurar alguém em uma cidade tão grande era como procurar uma agulha em um palheiro.

Na verdade, o Paulinho veio é curtir a noite paulistana e as suas boates convidativas enquanto o pai cuidava dos negócios. Não tinha a mínima intenção de iniciar uma busca impossível.
Todavia, o destino pregaria uma peça nos dois jovens os colocando frente a frente em um reencontro inesperado.
Não muito distante dali, Daisy arquitetava um novo plano para dar mais um "perdido" no Edgar naquela noite.


“Até quando aguentarei este homem monitorando os meus passos”, pensei sentindo raiva do Edgar. Depois que ficou viúvo ele passou a controlar meus horários e a interferir demais em minha vida. Isso já havia acontecido quando me mudei para a quitinete, mas piorou chegando a parecer neurose. Seu ciúme e senso de propriedade estavam exagerados e dificultando meus encontros com o Augusto. Naquele sábado precisei inventar uma história diferente para passar a noite fora, iria com o Augusto em uma balada privada na casa de seus amigos.
Só consegui driblar o Edgar com a ajuda de uma colega que trabalhava na padaria, inventamos uma noite do pijama em sua casa. O homem fez que acreditou, mas disse que me pegaria de manhã cedinho na casa da garota. Caraca! Que homem chato. Teria que perder horas de sono para chegar antes dele e ficar plantada defronte a residência para parecer que dormi lá.
Mais tarde, depois das 22h, fui com a colega para a casa dela; precisava produzir-me para o encontro com o meu amor. Ele veio me pegar pouco depois.


Enquanto isso, na rua Augusta, centro da cidade, o Paulo fugiu do jantar de negócios políticos com o pai e foi se divertir em uma boate. Apesar do requinte da casa noturna, strip-tease com nu total não era muito mais caro que uma dose de uísque. O Paulinho, que não tinha problemas com dinheiro, aceitou a companhia de duas gatas insinuantes e oferecidas. Uma loira tipo ninfetinha de peitos miúdos e bundinha carnuda. A outra morena, uns 20 anos, peitos enormes, naturais e firmes. Seu corpo era tipo mulherão. As duas profissionais o levaram para o reservado e fizeram o strip particular entre uma e outra garrafa de champanhe. Além da dança recheada de erotismo das duas garotas, elas também estimulavam ainda mais o cliente sentando a bunda nua em seu colo, se esfregando, o acariciando e o enlouquecendo de desejos.
O meninão não aguentava mais só olhar e ser esfregado, queria transar com as duas ali mesmo.
Elas disseram que ali não podia, mas poderiam ir para um motel. A diversão ficaria um pouco mais cara, elas explicaram. "Dinheiro não é problema", falou o filho do prefeito. Elas trocaram um olhar discreto... Era um código das perversas. Sugeriram a saideira antes de irem para o motel.
O trio saiu minutos depois, embarcaram no que seria supostamente um Uber e a diversão chegou ao fim; as garotas lhe aplicaram o golpe do Boa Noite Cinderela. Obtiveram as senhas dos cartões com a cooperação dele quando estava apenas atordoado devido ao efeito das drogas. Levaram sua grana, o rolex, celular e o largaram em um bairro distante, deserto e sem testemunhas. As duas ladras, junto com o comparsa do carro, fariam saques com os cartões do rapaz durante o decorrer da noite.

Continua...

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Entregas Especiais 9 – O Interrogatório

Dois dias antes, quinta-feira, véspera do feriado de 21 de abril.

Em uma reunião da equipe que investigava o caso Luana, parte dela trabalhava com a hipótese de homicídio. O sequestro relâmpago foi descartado, assim como o sequestro com a intenção de pagamento de resgate, já que não houve saques em suas contas, compras com cartões de crédito ou contato pedindo dinheiro. Na tarde da quinta-feira anterior, a desaparecida sacou pessoalmente, em sua agência bancária, dois mil reais de sua conta.
— Onde terminam nossas pistas?
Segundo o relatório com os dados das centrais telefônicas que abrangem a região de Bragança Paulista até São Sebastião, a última chamada do celular da vítima foi em sua própria residência às 20h18. Uma ligação para Bragança Paulista, casa de sua tia, com duração de 2 minutos. O aparelho permaneceu conectado à internet, via wi-fi da casa, até 5h da manhã de sexta-feira. Não há registro de sinal depois disso.
— O que isso significa? — questionou o investigador Freitas.
— Ou desligaram o aparelho ou saíram levando o mesmo com o envio de dados desativado — explicou um técnico.

A Luana não era uma pessoa informatizada, sua relação com o Smartphone de chip pré pago era quase exclusivamente para fazer ligações, nunca se interessou em aprender a usar os outros recursos ou participar de redes sociais. Isso era um ponto a favor do casal criminoso e era conhecido pelo Edgar quando decidiu sumir com o cadáver.

***

Manhã de sábado pós feriado de Tiradentes

Apenas pesadelos fizeram-me companhia durante o meu sono de sexta para sábado. Revivi em detalhes o final de semana macabro na praia de Maresias, principalmente a cena do esquartejamento; foi a parte mais repugnante depois da batalha mortal. Tiramos toda nossa roupa e vestimos capas de chuva, botas de faxina e luvas. O Edgar pensou nos mínimos detalhes para não deixarmos nenhum vestígio. Despimos o cadáver e o rolamos para cima do plástico grande com o qual forramos o piso cerâmico da sala.
O homem começou a separar as partes do corpo com tamanha frieza que até parecia que cortava um frango assado. Eu assisti com dificuldade e sentia cada corte como se fosse feito em mim. Ainda fiquei agoniada vendo tanto sangue derramado.
No instante em que ele cortou a barriga da mulher e o cheiro nojento impregnou minhas narinas embrulhando de vez o meu estômago, achei que nunca mais conseguiria comer novamente, tamanho era o nojo.
TUM, TUM TUM… Surtei, fiquei aterrorizada quando ouvi batidas fortes na porta. A casa toda estremeceu como se algo sobrenatural a envolvesse. Queria correr, mas minhas pernas pareciam adormecidas, fiquei agoniada e  tentava fugir me arrastando, mas nem conseguia sair do lugar… Mais pancadas na porta.
Acordei assustada. Somente vários segundos depois dei-me conta que estava em minha cama e no silêncio do meu quarto. "Ufaaa! Foi só um pesadelo". Pensei sentindo um alívio enorme. Todavia, o meu coração voltou a acelerar ao ouvir novamente as batidas na porta. Mas dessa vez fora real, tinha certeza de que estava acordada. 
— Quem é? — gritei sem sair da cama.
— Investigador Freitas do departamento de homicídios.
“Caralho, fudeu!” Fiquei receosa. Não sabia o que era pior: se os meus pesadelos mantendo vivo em minha mente os detalhes macabros daquele crime, ou acordar com a polícia batendo em minha porta. Tentei manter a calma, aquele investigador já esteve na loja fazendo perguntas e sabia que me procuraria. Só não esperava que fosse assim de surpresa em minha residência.
Caminhei até à porta e abri só uma fresta, visualizei o homem pardo, de barba curta e bigode, uns quarenta anos de idade e corpo sarado. Mostrou sua identificação de policial.
— Bom dia! — senhorita Deisiane Santos?
— Sim.
— Gostaria de lhe fazer algumas perguntas sobre a sua patroa.
— Pois não, o que o senhor quer saber?
— Eu poderia entrar, por favor? — tomarei só alguns minutos do seu tempo.
— Só um instante, moço, eu vou me vestir.
Encostei a porta e vesti o robe por cima do pijaminha. Depois o convidei a entrar e a sentar-se no pequeno sofá. Ele se desculpou por ter vindo cedo e me acordado, mas ele queria ter uma conversa individual comigo, fora da loja. Pegou um caderninho de notas e uma caneta.
— Quando foi que você viu a senhora Luana pela última vez?
Ele já tivera a minha resposta quando esteve na loja e entrevistou a todos, principalmente o patrão, nossa resposta foi quinta-feira. Talvez ele quisesse analisar qual era a minha reação. Dizem que bons policiais sabem quando o depoente está mentindo.
— Na tarde de quinta-feira da semana passada — respondi.
— Por acaso você percebeu se ela estava nervosa, angustiada, com comportamento diferente do que você costumava ver?
— Pra mim ela estava normal, séria como sempre.  
— Você sabe sobre a relação dela com o marido, o Sr. Edgar, e se eles brigavam?
— Não que eu saiba, eles conversavam pouco na loja, são muito reservados, mas se dão bem.
— Você viajou para o litoral com o seu patrão no fim de semana anterior, não foi?
Mais uma vez não adiantaria mentir, ele já ouvira do Edgar que estivemos juntos na casa da praia por três dias. Ele disse para não mentirmos, pois a polícia poderia fazer o levantamento das chamadas dos nossos celulares e saberiam das nossas conversas antes de viajarmos e também da localização dos aparelhos durante aqueles dias sinistros.
— Sim, passamos três dias em uma casa de praia.
— Na praia de Maresias?
— Sim, foi.
— Tinha mais alguém na casa com vocês?
— Não, senhor, só nós dois.
— Vocês estão tendo um caso?
— Magina, moço… desculpe… policial, o patrão é como um pai pra mim, ele sabe que estou sempre sozinha e a gente gosta de conversar. Somos só amigos.

“É sempre a mesma história, basta um rostinho bonito, uma bunda novinha e peitinhos durinhos aparecerem se oferecendo para que o marido fiel esqueça os votos de fidelidade e corra atrás de uma aventura.” Pensou com sarcasmo o policial.

— Você mora aqui sozinha?
— Sim, senhor.
— Não precisa me chamar de senhor — falou tentando ser simpático.
— É alugado, né?
 Respondi que sim. 
— Desculpe perguntar, mas quanto você paga de aluguel? 
— Eu pago $1.100 com o condomínio, água está incluso.
— E você consegue bancar isso trabalhando de entregadora?
— Sim, consigo, eu ganho boas caixinhas dos clientes da loja.
— E os seus pais, moram por perto?

No dia anterior, o Jaime, em sua conversa reservada com o investigador Freitas, havia contado detalhes sobre a Daisy: sua origem, a relação carinhosa com o patrão, também que não queria ser registrada, etc e tal. 
Mais tarde, no distrito, o policial se inteirou do caso de atropelamento no RN. Oficialmente tomou conhecimento de que não havia mais queixa contra a garota.
Ele não introduziu o assunto durante aquela conversa na casa da jovem.

— Eu não conheci meu pai, a minha mãe era solteira e me deixou com meus avós no interior do Rio Grande do Norte e sumiu no mundo. Eu era apenas uma recém nascida. Não tem muito trabalho em minha cidade, então vim sozinha para trabalhar e futuramente estudar em São Paulo.
— Por hora é só isso senhorita Deisiane.
— Pode me chamar de Daisy, por favor — quer tomar um café? Eu faço rapidinho. 
— Não, obrigado, Daisy, fica para a próxima vez. Provavelmente voltaremos a conversar.
Enquanto ele caminhava em direção à porta, tirou um cartão do bolso e me deu.
— Caso você se lembre de algo que tenha visto ou ouvido e que ache importante, por gentileza, não exite em me ligar.

Aff! Assim que fechei a porta comecei a me questionar e a tremer igual vara verde: “Ai meu Deus! Quanto tempo ainda irá durar essa tortura? Será que ele suspeita de mim? Claro que sim, né? E aquele meu papo de pai e filha… me deu até vergonha. Está mais que na cara que eu e o patrão somos amantes. Mas a pergunta que vale um milhão de dólares: será que conseguirão provas que incrimine a gente?” Pensei cheia de medo.
As lembranças sobre nossos procedimentos para ocultação das provas continuavam em minha mente: fizemos uma limpeza minuciosa na casa da praia logo após ensacarmos o corpo, o homem disse para usarmos desinfetante à vontade por todos os cômodos.
— Tá precisando mesmo, sua mulher fede pra caramba, credo! — falei inocentemente. 
Ele sorriu pela primeira vez desde o momento trágico ocorrido pela manhã, depois explicou que o desinfetante era para camuflar as manchas de sangue no caso de peritos da polícia procurarem as mesmas pela casa.
O cheiro do desinfetante era agradável, porém, tornou-se enjoativo depois de algum tempo inalando aquilo. Ainda sinto enjoo ao lembrar do odor ao voltarmos de um banho de mar no sábado, o calor daquele final de tarde estava sufocante, evitei ficar no interior da casa, o cheiro estava embrulhando o meu estômago. Deitei em uma espreguiçadeira nos fundos, ao lado da piscina, precisava dormir um pouco. Havia dado uma cochilada na praia, mas não chegou nem perto de recuperar o sono perdido e o desgaste com o trabalho que tivemos com a ocultação do cadáver na última noite.
O Edgar não me deixou dormir de imediato, grudou em mim cheio de más intenções e foi me despindo entre carícias e sussurros. O viúvo não ouviu meus pedidos para deixar-me descansar, também nem respeitou um tempo decente para que o defunto da ex esfriasse por completo, sentou na espreguiçadeira e colocou-me sentada em seu colo com as pernas abertas e encaixou o seu sexo no meu. Tombei a cabeça em seu ombro e praticamente adormeci sentindo meu corpo subir e descer durante aquela transa comandada por ele.
O homem chegou ao orgasmo, mas não parecia satisfeito. Pegou-me nos braços e deitou-me em um colchão inflável, próprio para piscinas, que estava no gramado. Senti o desconforto do seu gozo da primeira pegada escorrendo do meu sexo. Ele se aninhou atrás de mim e penetrou minha vagina molhada. Suas bombadas brutas pareciam ser um castigo por eu o ter metido nessa roubada. 
Não curti a pegada, não estava nem um pouco a fim de transar. Cochilei com ele ainda dentro de mim, de conchinha e me abraçando. Estava esgotada e apaguei de vez.

Acordei quando o dia começava a clarear, doida pra fazer xixi. Estava no quarto e na cama. Meu sono foi tão profundo que nem percebi quando ele me carregou para dentro.

Continua…

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Entregas Especiais 8 – Segredos de um Crime

Daisy, com voz de choro, falou para o Edgar não atender a porta, poderia ser a tia que veio atrás da Luana. 
— Shiu! — calma e fica quietinha!
Ele foi até a fresta de uma janela e deduziu que aquele senhor parado na entrada fosse o condutor do táxi estacionado do outro lado da rua.
O Edgar abriu a janela e atendeu o homem. O taxista queria saber se sua passageira ia ficar, pois ele precisava voltar para São Paulo.
— Ela vai ficar, o senhor pode ir, obrigado!
— Ela tem que acertar o valor da corrida.
Após perguntar quanto era o Edgar pegou sua carteira, saiu pela porta da cozinha e pagou o homem. A seguir o taxista se foi sem mais perguntas.
— Precisamos manter a calma e nos concentrarmos na ocultação do corpo — falou o patrão ao retornar à sala.

O Edgar pediu para que eu permanecesse parada para não espalhar sangue pela casa. Ele trouxe a sua toalha de banho levemente umedecida para limpar meu corpo. Começou passando em meu rosto e perguntou se eu tinha certeza que não estava ferida, pois estava banhada em sangue. Eu já havia respondido que não, mas sentia muitas dores pelas porradas que levei.
A toalha geladinha deslizou pelo meu pescoço, seios, ventre e chegou em meu sexo. Ele perdeu um pouco mais de tempo entre minhas coxas fazendo uma limpeza carinhosa em minha parte íntima. Virei para que fizesse o mesmo em minhas partes traseiras.
Quando terminou a “limpeza” em meu corpo, mandou-me para o banho. Ele faria uma lista e iríamos às compras assim que eu estivesse pronta.
— Você tá doido? — isso lá é hora de pensar em compras?
Se eu não estivesse tão traumatizada com a situação, teria gargalhado de mim mesma quando ele explicou que era a compra do material necessário para sumir com o corpo.
Ele pegou a bolsa da mulher, tinha $2.500 em dinheiro. Enfiou a grana em seu bolso. Claro que tive uma rápida sensação de perda e até pensei: “E a minha parte? Afinal fui eu quem abateu o monstro.“ De pronto ele disse que compraríamos as coisas com aquele dinheiro, não poderíamos vacilar usando cartão de banco.

Enquanto a Daisy se banhava o Edgar olhava o histórico de ligações do celular da falecida. Viu que as duas últimas foram no dia anterior para a tia às 18h11, foi logo após fecharem a loja, a outra às 20h18. A primeira de cinco e a segunda de dois minutos de duração. Não havia chamadas que pudesse ligá-la à casa da praia ele deduziu. Retirou o chip e a bateria do aparelho.
O homem achou prudente limpar aquele excesso de sangue antes de saírem. Usou a mesma toalha para tanto. A seguir colocou o pano ensanguentado dentro de um saco de lixo, assim como os pedaços da cadeira quebrada.
Pouco depois o casal saiu e rodaram por quilômetros comprando além dos sacos de lixo, material de limpeza e ferramentas para cavar. Também um galão de gasolina e uma faca grande. Tudo à dinheiro, em lugares diferentes e distantes uns dos outros.
— Prá que a faca? — tem um monte delas lá na cozinha — indagou a garota.
Ela ficou sem fala e arregalou os olhos quando ele disse que precisavam de uma que poderiam jogar fora depois de esquartejarem o corpo, já que era impossível carregá-lo inteiro.
Ela fez “Em nome do Pai” e disse que não conseguiria fazer isso. Friamente ele disse que ela precisava ser forte, ou estaria tudo perdido.
Só faltava comprar um saco de cal e voltariam para a casa, mencionou o Edgar.
— Cal? — porque não compra látex?
— É para colocar na cova, reduz o odor — não é para pintar.
— Ah, bom! — entendi.

Horas mais tarde, uma das partes mais difíceis daquele pesadelo estava concluído, o esquartejamento, feito pelo Edgar, claro. Eu fechei alguns sacos contendo partes do corpo… argh, e todo o material usado no trabalho e na limpeza da casa. Os sacos pretos ficaram no quintal dos fundos aguardando a noite chegar para efetuarmos a desova. Tudo feito segundo as instruções do homem.
— Você já fez isso antes, Edgar? — quero dizer, ocultar um cadáver?
— Não, mas já pensei em fazer e estudei bastante sobre o assunto.
— Eu percebi.

No início da noite nós enchemos o porta malas da Tucson com os sacos e demais apetrechos que usaríamos. Na sequência partimos em direção a Bragança Paulista, era onde morava a tia da Luana. Enterraríamos em algum lugar no meio do caminho que não fosse possível relacionar a nós, se por azar alguém encontrasse os restos mortais.
Antes de sairmos ele alterou a placa do carro usando fita isolante. Era para o caso de tomar alguma multa ou de haver câmeras de vigilância pelo caminho que capturasse a imagem do carro.
Deixamos nossos celulares na residência e partirmos por um caminho alternativo via Caraguatatuba e depois São José dos Campos; o homem disse que era mais seguro.
Rodamos por 3 horas sem parar, Igaratá havia ficado para trás e uma placa indicava que Nazaré Paulista seria a próxima cidade. Praticamente estávamos no meio do mato. Ele saiu da estrada pegando uma via secundária, de terra. Depois adentrou com o carro em uma vegetação rasteira em meio a algumas árvores. Era quase meia-noite quando parou e disse que o local era bom e não seríamos vistos trabalhando.
Desligou as luzes do carro e cavamos só com a luz do luar e uma lanterna quando era preciso.
Uma hora e meia depois havíamos cavado um buraco fundo o suficiente para cobrir-me em pé. Enterramos somente as partes do corpo. Os sacos pretos, também o plástico que cobria o porta malas e tudo mais que usamos, seriam deixados pouco a pouco durante o trajeto da volta. 

Passava das nove da manhã quando chegamos de volta à casa de praia. Ele fez uma nova inspeção procurando vestígios, depois nos trocamos, pegamos os celulares e fomos para a praia para sermos vistos e fortalecer nosso álibi. 
Firmamos um pacto de jamais tocarmos no assunto por meios eletrônicos. Em época alguma. Tudo o que fosse dito sobre o acontecido só seria tratado pessoalmente e em local seguro, pois as paredes têm ouvidos. Deduziu que sua mulher chegou para dar-lhes um flagrante porque deve ter ouvido algo na loja.

No domingo, demos mais um rolê na praia para sermos vistos e depois de um almoço em um restaurante movimentado, voltamos para São Paulo. O corpo estava devidamente desovado e o local limpo. Nossas atitudes nos próximos dias teriam que ser de muita frieza e naturalidade. 

No decorrer daquela nova semana, só queria parar de ter pesadelos e esquecer, nem que fosse só por uma hora, todo aquele trauma vivido na praia. Estava carente dos carinhos do Augusto. Meus pensamento coincidiram com a mensagem que recebi, era ele convidando-me para passar a sexta-feira (feriado 21 de abril) em uma chácara em Igaratá, uns 50 km distante de São Paulo.
Convenci o Edgar a trocar minha folga de segunda para sexta, já que nós estávamos dando um tempo na relação enquanto o sumiço da Luana estivesse em evidência. A polícia esteve na loja fazendo mil perguntas para todos depois que o Edgar notificou o desaparecimento.

***

Sexta-feira, feriado

Só quando estávamos nos aproximando da chácara em Igaratá foi que percebi que fizemos a desova da patroa a poucos quilômetros daquele local. Os momentos punks da semana anterior martelaram a minha mente como se houvera acabado de acontecer. Cheguei até a ter um forte arrepio como se algo gelado atravessa-se o meu corpo.
— O que foi, linda? — perguntou o Augusto.
Tentei disfarçar meu repentino mal estar fazendo uma graça.
— Não é nada, não, acho que é só tesão — e ri tentando ser natural.
— Safadinha! Pode deixar que resolvo isso quando chegarmos. 
Fomos recebidos pelos caseiros e, pelo o que eu entendi, chegamos cedo demais, éramos os primeiros. Nem o patrão do Augusto havia chegado ainda. Meu acompanhante já conhecia o local e levou-me para a sauna. Lá teríamos privacidade e algum tempo para curtirmos um love, disse ele.
Já dentro do ambiente com vaporização exalando odores de flores, e vestida somente com uma toalha, ganhei um abraço por detrás e fui cúmplice em suas safadezas deliciosas apenas observando ele soltar a minha toalha a deixando ir ao chão. Suas mãos acariciaram meus seios e direcionaram meu corpo para que sentasse sobre suas pernas e de costas para ele. O homem estava acomodado em um dos degraus da sauna. Sua boca safada em minha orelha e sua mão máscula percorrendo meus quadris a caminho do meu sexo, fez-me ronronar quando seus dedos ágeis e firmes penetraram minha fenda.
Nossas preliminares estavam mais gostosas a cada dia devido ao nosso avançado grau de intimidades. Com o conhecimento que ele adquiriu dos meus pontos mais sensíveis, conseguiu me transportar para mundos ainda não explorados, tamanho era o prazer.
Nossa viagem sexual chegara ao ápice do clímax quando fomos surpreendidos pelo filho do chefe e sua mulher. Foi constrangedor ser pega arreganhadinha, com as pernas para cima enquanto recebia as últimas gotas de sêmen e os últimos golpes em meu ânus já todo inundado. O casal foi simpático nos incentivando a continuar e saíram rapidão do local.

Um tempo depois fui apresentada ao restante do pessoal na área da piscina. Imaginei que estava em uma praia de nudismo, pois assim estavam todos os presentes. Fui apresentada ao chefe do Augusto, um dos peladões. O coroa sugeriu que eu tirasse meu biquíni, era costume da casa todos ficarem ao natural. Argumentei que não estava acostumada e não havia sido alertada a respeito. Fiquei muito sem graça, uma vez que todos eles me eram estranhos.
O coroa continuou insistindo e praticamente me forçando a ficar pelada. O Augusto já havia tirado a sua bermuda e pediu com jeitinho para que eu fizesse o mesmo. O patrão, ainda colado em nós, parecia ansioso em ver minhas partes íntimas. Tirei o top do biquíni, não queria prejudicar meu acompanhante criando um constrangimento só por causa de duas pequenas peças de pano. “Na sauna o filho já tinha visto mais do que a minha nudez, porque bancaria a mocinha casta, né?” Pensei enquanto tirava a tanguinha. Acho que foi ali que comecei a ser ousada.
Após ficar peladinha, tentei parecer natural, no entanto, não sabia como posicionar braços e mãos, mas logo senti-me à vontade e até consegui administrar os assédios do coroa safado e, que “atacou-me” disfarçadamente, tocando o meu corpo nas oportunidades que teve. Levei de boa e na brincadeira, pois eu tinha outras preocupações mais sérias ocupando minha mente.

No dia seguinte (sábado) acordei com batidas em minha porta, olhei as horas, 7h30. “Quem seria tão cedo?”
— Quem é?
— Investigador Freitas do departamento de homicídios.
“Fudeu!” — pensei apavorada.

Continua…