terça-feira, 22 de outubro de 2019

Entregas Especiais 9 – O Interrogatório

Dois dias antes, quinta-feira, véspera do feriado de 21 de abril.

Em uma reunião da equipe que investigava o caso Luana, parte dela trabalhava com a hipótese de homicídio. O sequestro relâmpago foi descartado, assim como o sequestro com a intenção de pagamento de resgate, já que não houve saques em suas contas, compras com cartões de crédito ou contato pedindo dinheiro. Na tarde da quinta-feira anterior, a desaparecida sacou pessoalmente, em sua agência bancária, dois mil reais de sua conta.
— Onde terminam nossas pistas?
Segundo o relatório com os dados das centrais telefônicas que abrangem a região de Bragança Paulista até São Sebastião, a última chamada do celular da vítima foi em sua própria residência às 20h18. Uma ligação para Bragança Paulista, casa de sua tia, com duração de 2 minutos. O aparelho permaneceu conectado à internet, via wi-fi da casa, até 5h da manhã de sexta-feira. Não há registro de sinal depois disso.
— O que isso significa? — questionou o investigador Freitas.
— Ou desligaram o aparelho ou saíram levando o mesmo com o envio de dados desativado — explicou um técnico.

A Luana não era uma pessoa informatizada, sua relação com o Smartphone de chip pré pago era quase exclusivamente para fazer ligações, nunca se interessou em aprender a usar os outros recursos ou participar de redes sociais. Isso era um ponto a favor do casal criminoso e era conhecido pelo Edgar quando decidiu sumir com o cadáver.

***

Manhã de sábado pós feriado de Tiradentes

Apenas pesadelos fizeram-me companhia durante o meu sono de sexta para sábado. Revivi em detalhes o final de semana macabro na praia de Maresias, principalmente a cena do esquartejamento; foi a parte mais repugnante depois da batalha mortal. Tiramos toda nossa roupa e vestimos capas de chuva, botas de faxina e luvas. O Edgar pensou nos mínimos detalhes para não deixarmos nenhum vestígio. Despimos o cadáver e o rolamos para cima do plástico grande com o qual forramos o piso cerâmico da sala.
O homem começou a separar as partes do corpo com tamanha frieza que até parecia que cortava um frango assado. Eu assisti com dificuldade e sentia cada corte como se fosse feito em mim. Ainda fiquei agoniada vendo tanto sangue derramado.
No instante em que ele cortou a barriga da mulher e o cheiro nojento impregnou minhas narinas embrulhando de vez o meu estômago, achei que nunca mais conseguiria comer novamente, tamanho era o nojo.
TUM, TUM TUM… Surtei, fiquei aterrorizada quando ouvi batidas fortes na porta. A casa toda estremeceu como se algo sobrenatural a envolvesse. Queria correr, mas minhas pernas pareciam adormecidas, fiquei agoniada e  tentava fugir me arrastando, mas nem conseguia sair do lugar… Mais pancadas na porta.
Acordei assustada. Somente vários segundos depois dei-me conta que estava em minha cama e no silêncio do meu quarto. "Ufaaa! Foi só um pesadelo". Pensei sentindo um alívio enorme. Todavia, o meu coração voltou a acelerar ao ouvir novamente as batidas na porta. Mas dessa vez fora real, tinha certeza de que estava acordada. 
— Quem é? — gritei sem sair da cama.
— Investigador Freitas do departamento de homicídios.
“Caralho, fudeu!” Fiquei receosa. Não sabia o que era pior: se os meus pesadelos mantendo vivo em minha mente os detalhes macabros daquele crime, ou acordar com a polícia batendo em minha porta. Tentei manter a calma, aquele investigador já esteve na loja fazendo perguntas e sabia que me procuraria. Só não esperava que fosse assim de surpresa em minha residência.
Caminhei até à porta e abri só uma fresta, visualizei o homem pardo, de barba curta e bigode, uns quarenta anos de idade e corpo sarado. Mostrou sua identificação de policial.
— Bom dia! — senhorita Deisiane Santos?
— Sim.
— Gostaria de lhe fazer algumas perguntas sobre a sua patroa.
— Pois não, o que o senhor quer saber?
— Eu poderia entrar, por favor? — tomarei só alguns minutos do seu tempo.
— Só um instante, moço, eu vou me vestir.
Encostei a porta e vesti o robe por cima do pijaminha. Depois o convidei a entrar e a sentar-se no pequeno sofá. Ele se desculpou por ter vindo cedo e me acordado, mas ele queria ter uma conversa individual comigo, fora da loja. Pegou um caderninho de notas e uma caneta.
— Quando foi que você viu a senhora Luana pela última vez?
Ele já tivera a minha resposta quando esteve na loja e entrevistou a todos, principalmente o patrão, nossa resposta foi quinta-feira. Talvez ele quisesse analisar qual era a minha reação. Dizem que bons policiais sabem quando o depoente está mentindo.
— Na tarde de quinta-feira da semana passada — respondi.
— Por acaso você percebeu se ela estava nervosa, angustiada, com comportamento diferente do que você costumava ver?
— Pra mim ela estava normal, séria como sempre.  
— Você sabe sobre a relação dela com o marido, o Sr. Edgar, e se eles brigavam?
— Não que eu saiba, eles conversavam pouco na loja, são muito reservados, mas se dão bem.
— Você viajou para o litoral com o seu patrão no fim de semana anterior, não foi?
Mais uma vez não adiantaria mentir, ele já ouvira do Edgar que estivemos juntos na casa da praia por três dias. Ele disse para não mentirmos, pois a polícia poderia fazer o levantamento das chamadas dos nossos celulares e saberiam das nossas conversas antes de viajarmos e também da localização dos aparelhos durante aqueles dias sinistros.
— Sim, passamos três dias em uma casa de praia.
— Na praia de Maresias?
— Sim, foi.
— Tinha mais alguém na casa com vocês?
— Não, senhor, só nós dois.
— Vocês estão tendo um caso?
— Magina, moço… desculpe… policial, o patrão é como um pai pra mim, ele sabe que estou sempre sozinha e a gente gosta de conversar. Somos só amigos.

“É sempre a mesma história, basta um rostinho bonito, uma bunda novinha e peitinhos durinhos aparecerem se oferecendo para que o marido fiel esqueça os votos de fidelidade e corra atrás de uma aventura.” Pensou com sarcasmo o policial.

— Você mora aqui sozinha?
— Sim, senhor.
— Não precisa me chamar de senhor — falou tentando ser simpático.
— É alugado, né?
 Respondi que sim. 
— Desculpe perguntar, mas quanto você paga de aluguel? 
— Eu pago $1.100 com o condomínio, água está incluso.
— E você consegue bancar isso trabalhando de entregadora?
— Sim, consigo, eu ganho boas caixinhas dos clientes da loja.
— E os seus pais, moram por perto?

No dia anterior, o Jaime, em sua conversa reservada com o investigador Freitas, havia contado detalhes sobre a Daisy: sua origem, a relação carinhosa com o patrão, também que não queria ser registrada, etc e tal. 
Mais tarde, no distrito, o policial se inteirou do caso de atropelamento no RN. Oficialmente tomou conhecimento de que não havia mais queixa contra a garota.
Ele não introduziu o assunto durante aquela conversa na casa da jovem.

— Eu não conheci meu pai, a minha mãe era solteira e me deixou com meus avós no interior do Rio Grande do Norte e sumiu no mundo. Eu era apenas uma recém nascida. Não tem muito trabalho em minha cidade, então vim sozinha para trabalhar e futuramente estudar em São Paulo.
— Por hora é só isso senhorita Deisiane.
— Pode me chamar de Daisy, por favor — quer tomar um café? Eu faço rapidinho. 
— Não, obrigado, Daisy, fica para a próxima vez. Provavelmente voltaremos a conversar.
Enquanto ele caminhava em direção à porta, tirou um cartão do bolso e me deu.
— Caso você se lembre de algo que tenha visto ou ouvido e que ache importante, por gentileza, não exite em me ligar.

Aff! Assim que fechei a porta comecei a me questionar e a tremer igual vara verde: “Ai meu Deus! Quanto tempo ainda irá durar essa tortura? Será que ele suspeita de mim? Claro que sim, né? E aquele meu papo de pai e filha… me deu até vergonha. Está mais que na cara que eu e o patrão somos amantes. Mas a pergunta que vale um milhão de dólares: será que conseguirão provas que incrimine a gente?” Pensei cheia de medo.
As lembranças sobre nossos procedimentos para ocultação das provas continuavam em minha mente: fizemos uma limpeza minuciosa na casa da praia logo após ensacarmos o corpo, o homem disse para usarmos desinfetante à vontade por todos os cômodos.
— Tá precisando mesmo, sua mulher fede pra caramba, credo! — falei inocentemente. 
Ele sorriu pela primeira vez desde o momento trágico ocorrido pela manhã, depois explicou que o desinfetante era para camuflar as manchas de sangue no caso de peritos da polícia procurarem as mesmas pela casa.
O cheiro do desinfetante era agradável, porém, tornou-se enjoativo depois de algum tempo inalando aquilo. Ainda sinto enjoo ao lembrar do odor ao voltarmos de um banho de mar no sábado, o calor daquele final de tarde estava sufocante, evitei ficar no interior da casa, o cheiro estava embrulhando o meu estômago. Deitei em uma espreguiçadeira nos fundos, ao lado da piscina, precisava dormir um pouco. Havia dado uma cochilada na praia, mas não chegou nem perto de recuperar o sono perdido e o desgaste com o trabalho que tivemos com a ocultação do cadáver na última noite.
O Edgar não me deixou dormir de imediato, grudou em mim cheio de más intenções e foi me despindo entre carícias e sussurros. O viúvo não ouviu meus pedidos para deixar-me descansar, também nem respeitou um tempo decente para que o defunto da ex esfriasse por completo, sentou na espreguiçadeira e colocou-me sentada em seu colo com as pernas abertas e encaixou o seu sexo no meu. Tombei a cabeça em seu ombro e praticamente adormeci sentindo meu corpo subir e descer durante aquela transa comandada por ele.
O homem chegou ao orgasmo, mas não parecia satisfeito. Pegou-me nos braços e deitou-me em um colchão inflável, próprio para piscinas, que estava no gramado. Senti o desconforto do seu gozo da primeira pegada escorrendo do meu sexo. Ele se aninhou atrás de mim e penetrou minha vagina molhada. Suas bombadas brutas pareciam ser um castigo por eu o ter metido nessa roubada. 
Não curti a pegada, não estava nem um pouco a fim de transar. Cochilei com ele ainda dentro de mim, de conchinha e me abraçando. Estava esgotada e apaguei de vez.

Acordei quando o dia começava a clarear, doida pra fazer xixi. Estava no quarto e na cama. Meu sono foi tão profundo que nem percebi quando ele me carregou para dentro.

Continua…

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