Durante meu período de recuperação física, após meu aborto espontâneo, sobrou um tempinho para refletir e traçar uma linha do tempo de quando ainda éramos uma família de três.
Cheguei à conclusão que seu Flávio e eu demos muito trabalho para a dona Helena durante muito tempo. Tadinha da mamãe!
Com certeza os momentos memoráveis se destacaram ofuscando os de tédio e monotonia, que foram quase inexistentes. Sempre acontecia algo interessante ou alguma treta para preencher o vazio. Diariamente, tentava sem êxito, controlar meu fascínio pelo proibido e a minha necessidade de estímulos sexuais. Passava boa parte do meu tempo à procura de oportunidades de vivenciar minhas fantasias eróticas.
Felizes eram meus dias quando papai aprontava alguma e a mamãe o evitava mandando ele dormir na sala. A atitude dela tornava tudo mais fácil para o sacana. Nessas noites conseguia doses cavalares do meu remédio para não pirar. O sexo praticado com ele tarde da noite, era o que ainda mantinha sob controle o meu nível de ansiedade. Perdi a conta das vezes em que o sino da igreja do bairro badalou seis da manhã e o homem ainda estava nu na minha cama, de conchinha comigo, e com pelo menos uma camisinha cheia de porra sobre meu criado mudo. Por vezes, o seu líquido ainda estava em meu ânus.
Após acordarmos assustados, ele se vestia a jato, recolhia os vestígios e saia de fininho corredor afora.
Desde a separação dos meus pais, em pelo menos dois anos concordei em fazer a terapia recomendada pelo ministério público, ainda assim não consegui controlar o meu desejo de praticar relações sexuais fora dos padrões considerados aceitos por essa sociedade hipócrita. A adrenalina de situações com pessoas proibidas torna o sexo prazeroso demais, assim como meu entusiasmo por transas em lugares incomuns.
Outro complicador é minha propensão de falar sobre assuntos íntimos em momentos inadequados. Acabo deixando as pessoas sérias constrangidas, os normais com falsas expectativas, e os devassos em ponto de bala e encorajados a praticarem uma aventura perigosa comigo.
Não herdei isso da minha mãe, a dona Helena é tranquila, até conseguiu zerar suas relações íntimas durante o isolamento em razão da Covid-19. Ela só voltou a namorar no final de 2022, na mesma época quando comecei a fazer secretamente o trabalho de massagem erótica.
— Acorda, Nicole, vamos votar!
Ainda eram sete e pouco da manhã do domingo quando mamãe me tirou da cama. Ela queria votar cedinho porque seu namorado viria para almoçar conosco.
Depois da ducha vesti uma calcinha vermelha e um macaquinho da mesma cor. Comprei especialmente para votar pela primeira vez.
Pouco mais tarde, após retornar ao lar, enquanto fazia sala para o homem com idade acima a do meu pai, iniciei um papo somente para descontrair ao notar o cara tão retraído.
— Seu Gabriel? Você gosta de tatuagens?
— Dificilmente faria uma, Nicole, ainda assim aprecio em pessoas que fazem desenhos discretos.
— Fiz uma tattoo esta semana, é bem discreta.
— Que tipo é?
— Na verdade, eu não sei explicar, tem a ver com pirâmide, esfinge.
— Posso ver para tentar decifrar o enigma? — disse ele e sorriu respeitosamente.
— Hum? Poder, pode. E gostaria muito de mostrar. Mas é embaçado ficar pelada aqui na sala, pois só assim você conseguiria ver.
— Menina, para com isso!
Continuava com os mesmos dois trajes vestidos pela manhã: o macaquinho e a calcinha, pois raramente uso sutiã.
Não comentei nada sobre minha tattoo ser na virilha, mas pela reação do homem sério, ficou evidente ter entendido tratar-se de uma zona íntima.
O homem educado voltou a ficar calado, talvez preocupado com a possibilidade da mamãe ouvir nossa conversa.
Percebi seu medo e receio demasiado. Levantei dizendo que iria ajudar com o almoço e não brinquei mais com ele no decorrer do dia.
O coroa me deu a carona, mas duvido que teria dado se tivesse como justificar a negativa para a dona Helena. Meu lado moleca irreverente deve ter perturbado o homem tímido e respeitador.
Durante o trajeto a conversa foi sobre o clima, também da minha alegria pelo meu primeiro voto. A seguir entrei em um campo mais escorregadio:
— Seu Gabriel, você já ouviu falar sobre massagem erótica?
— Já, mas suponho ser apenas um disfarce para a prática de prostituição.
— Por quê? Não é só uma massagem feita ao esfregar o corpo lubrificado no corpo do cliente?
— É muito mais, já que há o contato íntimo dos corpos nus e carícias nas partes genitais propiciando o orgasmo.
— Aff, olha! O modo como falou me deixou excitadinha — falei apontando para meus mamilos inchados, super evidentes sob a blusa de seda — Isso deve ser muito louco. Você já fez?
— Não, magina! Mas já li a respeito — disse ele todo sem graça, após desviar o olhar do meu peito.
— Deve ser tão gostoso como abraçar alguém ensaboado no banho, né? — falei mirando o homem com a minha melhor carinha de safada.
Ele não respondeu e parou o carro. Havíamos chegado onde eu ficaria.
Agradeci a carona e dei tchau deixando o homem com o pau duro.
A seriedade desse coroa não passa de fachada, na primeira oportunidade ele vai tentar me comer, pode apostar.
Por ora, é isso, beijos!
Contarei mais depois.
Será que minha mãe contou pra ele sobre o dia que pegou papai e eu "lutando" nus com os corpos ensaboados? Pensei. ^^