terça-feira, 12 de maio de 2020

Nem a Lua como Testemunha

O sol estava se pondo e corri mar adentro para dar meu último mergulho apesar dos protestos da mamãe. Era a despedida do nosso derradeiro dia de férias no RN. Meu avô costumava dizer que se a natureza tivesse bobeado um pouquinho, eu teria nascido peixe, pois era difícil me tirar da água.

Mergulhei por baixo de uma onda e ao levantar fui surpreendida por outra maior. Após levar o caldo, chacoalhei a cabeça para tirar o cabelo e a água dos olhos. Levei um baita susto ao dar de cara com uma moça. Ela se aproveitou da proximidade dos nossos lábios e me roubou um beijo. Deixou-me pasmada e tentei recuar, mas não estava dando pé.

— Desculpe, não quis assustá-la — disse ela gentilmente.

— "Magina", não por isso!


Algo de gracioso em seu sorriso, em conjunto com seus olhos negros e ternos, substituíram meu contratempo sofrido com a onda por um bem-estar repentino. Também não saberia explicar a razão do desejo repentino de ter outro beijo roubado. No entanto, tentei não demonstrar minha vulnerabilidade.


Só então percebi seu busto nu.

— Perdeu seu biquíni? — perguntei inocentemente.

— Eu não tenho um — explicou e fez uma carinha marota. 

— REBEEECAAA!!! SAI LOGO DESSA ÁGUA! — veio o grito lá da praia.

— É a sua mãe?

— Sim, é ela. Mamãe me trata como se eu ainda fosse um bebê.

— Minha mãe também é assim. Volte aqui mais tarde pra gente conversar um pouco.

— Vai ser difícil.

Minha mãe deu mais um grito em forma de ultimato.

— Vai lá, acalma ela e tenta voltar mais tarde!

— Vou tentar, tchau!

— Tchau, Rebeca! Estarei esperando por você. — ouvi enquanto dava as primeiras braçadas.

Vai ser difícil, pensei enquanto nadava.


De volta à pousada, tentei imaginar qual seria o desenrolar do lance com a garota pelada caso o cão de guarda da minha mãe não estivesse me vigiando. Enfim, é uma merda considerar-se madura, contudo, ainda ser tratada como se fosse uma pirralha.

 

Bem mais tarde, nossas malas estavam prontas, pegaríamos um voo de volta a São Paulo na manhã seguinte. Mamãe retornaria de imediato ao trabalho. Eu ainda teria uns dias de folga antes de iniciar o ano letivo.

Minha mãe estava dormindo já há algum tempo. Quanto a mim, tentava criar coragem para sair, pois não parava de pensar na moça nua. Ela mexeu comigo como nenhuma outra pessoa já havia feito antes. Era uma loucura, sabia disso, ainda assim, meu desejo era ir ao seu encontro.

Decidi enfrentar a aventura: silenciosamente peguei uma saída de praia em minha mochila e vesti por cima do conjuntinho de dormir. Eu não tinha a intenção de entrar na água, só tinha a curiosidade de ver se a louca estava mesmo me esperando na praia.


Saí da pousada sem chamar a atenção, facilitado foi pelo entra e saí de hóspedes até tarde da noite. Caminhei uns cem metros até o calçadão e parei ao lado do quiosque frequentado por nós durante os últimos dias. O comércio estava fechado e a praia deserta. Desci o barranco formado pela erosão e andei temerosa pela areia me aproximando da água. Girei o corpo olhando ao redor… Nem sinal da loira. Talvez eu tenha demorado demais, pensei.


A iluminação do calçadão não ajudava muito, e era uma noite sem luar. Ao dar meia volta para retornar, ouvi sua voz:

— Espera, Rebeca!

Virei assustada e a vi deslizando sobre uma onda se desfazendo na praia. Ela ficou em pé, porém, eu poderia jurar ter visto uma cauda de sereia e a mesma ter se transformado em pernas em fração de segundos. Ela avançou em minha direção, completamente nua e com seus olhos brilhantes fixos nos meus. Causou-me uma sensação estranha, similar a um estado de entorpecimento.

— Não sabe como fiquei feliz por ter vindo — disse ela e pegou em minha mão —, vem comigo!

— Linda a sua roupa, parece um vestido de noiva.

— Obrigada, mas é só uma saída de praia — respondi meio no automático, em razão de estar confusa com tudo aquilo, principalmente com a anatomia do seu corpo perfeito, ou quase, em razão da protuberância em sua vagina: a sua glande do clitóris se assemelhava em tamanho a uma glande do pênis de um homem adulto.

— Aqui está bom, estaremos fora do alcance dos olhares curiosos — disse ela quando chegamos ao pé do barranco acidentado.

Com certeza eu não estava em meu normal, meu sexo pulsava de tesão imaginando onde aquilo chegaria.

De repente a minha roupa começou a ser retirada com a minha anuência. A danada deixou-me nua sem ao menos pedir licença. Nossos corpos se juntaram em um abraço e ganhei um beijo cheio de volúpia. O desconforto foi em razão dela estar gelada, apesar do calor da noite. Deixei ela me deitar na areia e recebi seu corpo sobre o meu. O seu beijo continuou ardente e sua boca de hálito morno desceu beijando meu pescoço e chegou ao meu mamilo intumescido proporcionando-me prazeres incomuns. O fato de estarmos em um local público, e do perigo de sermos vistos ou não, deixou de ser uma preocupação, estava doida para sentir sua boca descer até atingir meu sexo. No entanto, ela levantou parcialmente o tronco, olhou-me carinhosa e enigmaticamente nos olhos ao dizer:

— Eu quero muito te possuir agora.

E qual não foi minha surpresa ao sentir algo roliço e rígido se alojando entre minhas coxas. Mais que depressa olhei para aquilo e pensei na hipótese de um pênis de loja sex shop.

— De onde você tirou isso?

— Isso é meu, é de nascença.

Apesar da nova surpresa e de ter ficado sinistro e esquisito pra caramba aquele encontro, deixei-me levar pelo desejo sexual. Talvez seus beijos continham algo de alucinógeno, a ponto de deixar-me refém e entregue às suas vontades.

Fiquei excitada e, ao mesmo tempo, temerosa, pois nunca pratiquei sexo com penetração, contudo, queria ser possuída quanto antes por ela, ou seria ele? Não me importava, não aguentava mais, estava louca de vontade de transar. Evidente que o desejo era recíproco. E sem mais delongas aquele membro, surgindo praticamente do nada e crescendo absurdamente em minhas coxas, foi direcionado em meu sexo encharcado e penetrou-me devagar até chegar ao meu hímen. Senti ela reduzir a força de penetração, e murmurou carinhosamente que não ia me machucar. Senti medo e um ligeiro desconforto, mas o desejo me consumia e me entreguei inteiramente ao ato. A pressão foi suave, e a película não ofereceu muita resistência… Ahhh! Aquele pênis atravessou chegando ao fundo da minha alma. E quando seu ritmo ganhou velocidade, não consegui controlar meus gritinhos de um prazer jamais experimentado.

— O que é você? — sussurrei entre gemidos e deliciosamente em transe.

— Sou uma sereia.

— Não acredito. — murmurei gaguejando quase em prantos e sentindo um gozo precoce e indescritível. Remexi alucinada feito um réptil.

Ela pegou em minha mão e a levou até sua fenda. Induziu-me a explorar com os dedos o interior de sua boceta. Aquilo, unido ao meu gozo sem fim, foi algo impossível de descrever com palavras.


Nós transamos madrugada adentro até ser derrotada fisicamente pelo cansaço. Minha última recordação foi a de perguntar seu nome.

— Gosto que me chamem de Iara.

E adormeci em seus braços, ainda nua. 


Fui acordada pela voz de um ou mais rapazes. Estava morrendo de sono e resmunguei alguma coisa. Mal conseguia abrir os olhos por conta do sol ofuscante pouco acima da linha do horizonte… A ficha caiu, levantei assustada ao perceber que ainda estava no mesmo lugar ao pé do barranco, e trajando apenas o pijaminha (short e regatinha). Não lembrava de ter me vestido, provavelmente isso foi feito pela minha companheira daquela noite. Com a mente a milhão eu nem dei atenção aos três garotos. Olhei em volta à procura da Iara, ela havia desaparecido, assim como a minha saída de banho. No local só havia as três pranchas dos garotos.

 — Puta merda, tô ferrada! — exclamei ao lembrar da mamãe e do nosso voo de retorno para São Paulo. Saí correndo.


Cheguei na pousada sem nenhuma ideia ou desculpa decente para dar. Por sorte, ela acordou somente após eu adentrar o quarto e fechar a porta. Fui direto para o banho. Durante a ducha gostosa caindo sobre mim, não conseguia conter o sorriso ao repassar na memória cada instante vivido com a Iara naquela noite. Mamãe entrou apavorando e reclamando do meu banho demorado. Falou da necessidade de sairmos logo para fazermos o check-in. Eu saí do box do chuveiro e ela entrou. 

— Seu avô tinha razão, você parece um peixe, o chão tá cheio de escamas. De onde veio isso?

Saí do banheiro sem lhe dar uma resposta. E com isso acabei poupando-lhe de ter uma crise nervosa.

 

***


Meses mais tarde, naquela mesma região praiana, soube que começou a circular uma história de pescador sobre uma moça loira vestida de noiva que saia do mar durante as noites sem lua para atacar as jovens e virgens.

E, por coincidência ou consequência, enquanto acontecia o “disse me disse” sobre a loira, o número de adolescentes grávidas triplicou na região, segundo a secretaria municipal de saúde.

Pensei com meus botões: provavelmente eu não estava em um período fértil naquela noite. Ufa!


Fim