terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Parte 8 – Prazer Carnal

Cinco semanas após o golpe em Campinas 


O patrão do Tenório ordenou uma reunião com alguns dos seus pistoleiros, o empresário havia exigido informações sobre o paradeiro do seu dinheiro e dos ladrões. O homem estava possesso e daria um ultimato aos seus subalternos.

Dentre os capangas havia um investigador da polícia civil, ele trouxe uma informação recém-adquirida sobre um dos golpistas: o sujeito era um funcionário não fixo do hotel e fora cobrir a folga de um recepcionista no dia do roubo. 

— Foi esse "hijo de puta" que me deu as bebidas drogadas — vociferou o homem ao ver a foto do Maciel exibida pelo subordinado.

— Vocês têm uma semana para me darem a cabeça desse merda, a localização da vagabunda e do outro puto — ou podem começar a procurar trabalho bem longe daqui.

Após ouvir toda a conversa, o Tenório viu a necessidade de agir rápido e encontrar o Maciel antes dos cães de caça do patrão, ou a casa ia cair pra ele. Contava com a vantagem de saber mais sobre o ex-parceiro, pois quando planejou o roubo, havia chegado até o Maciel através de informações de conhecidos do submundo. O ex-policial soube do tipo de golpe aplicado pelo homem e a garota, quem os protegia e compactuava com eles, também os outros beneficiados pelos lucros. Aproximou-se do concierge para oferecer-lhe a oportunidade de ganhar centenas de milhares de dólares para um trabalho que ele e sua parceira estavam acostumados a fazer com sucesso, contudo, era uma jogada com rendimento de um milhão de dólares. O golpista ganancioso pulou de cabeça sem tomar conhecimento dos riscos envolvidos no negócio. Também não hesitou quando o novo comparsa sugeriu não revelarem o motivo principal do golpe à parceira, assim, os dois homens poderiam dividir o lucro só entre eles. E seria prudente eliminar a garota para não restar testemunhas.


Após arquitetar mentalmente o seu plano de caça ao concierge, Tenório pretendia alegar motivos de saúde para poder ausentar-se dois ou mais dias do trabalho na casa do empresário. Só então o ex-policial poderia partir na captura do Maciel na tentativa de antecipar-se aos capangas do patrão.


Em outro ponto da cidade


Jessie e Pedro Miguel, moravam há algumas semanas em uma casa de dois ambientes, tipo quitinete, em um condomínio com cinco outras casas iguais, situado nas imediações do motel onde se hospedaram na chegada. Fecharam um acordo verbal para ficarem por três meses na residência mobiliada. O proprietário exigiu pagamento adiantado, incluso mais um mês de depósito. A garota, no entanto, pretendia ficar na cidade só o tempo suficiente para recuperar-se fisicamente, então partiria na captura do Maciel (o concierge).


No início da noite de um sábado, o rapaz havia saído para comprar o jantar enquanto a moça terminava seu banho. Saiu do banheiro ainda nua e animou-se ouvindo uma música preenchendo o ambiente: "Nem sempre se pode ser deus" dos Titãs. Caminhou balançando o corpo ao ritmo da melodia enquanto esfregava a toalha nos cabelos molhados. Chegando à cozinha, abriu a geladeira e serviu-se de uma mistura de vodka com suco de laranja, deu um gole e fez cara de aprovação. Dirigiu-se ao quarto e vestiu uma camiseta do Ramones, a mesma entregue por ela ao Pedro Miguel no dia da fuga. Admirou-se no espelho girando nas pontas dos pés para olhar seu bumbum semi exposto, levantou a camiseta e examinou a nudez do seu corpo em ângulos diferentes. Sua expressão foi de alívio; os hematomas adquiridos no dia de terror, estavam quase imperceptíveis. Vestiu um shortinho folgadinho, realçou a beleza dos lábios rosados passando um brilho labial, mandou um beijo para si mesma e sorriu maliciosamente.


Pedro Miguel chegou com a comida, ela o olhou com carinho e havia desejo em seu olhar. O vínculo entre os dois jovens se estreitou nos últimos dias; selinhos e abraços de agradecimento eram constantes. O momento mágico não tardaria a acontecer.

O rapaz estava ligeiramente mudado: deixou crescer os cabelos e a barba por sugestão da Jessie.

— Você não tinha me dado essa camiseta? — ele falou em forma de crítica, mas em tom brincalhão.

— Se quiser ela de volta, precisa me pegar primeiro — ela falou o desafiando e rebolou debochadamente segurando no cós da camiseta.

O rapaz entrou na farra ao colocar os marmitex sobre a mesa e partiu para cima dela. Jessie fez graça dando um gritinho e saiu correndo. Pulou ficando em pé sobre a cama e garrou um travesseiro para se defender do Pedro chegando em seu encalço.

— Não vem não, maluco! Te encho de travesseirada — falou em tom de brincadeira.

Inteiramente no clima o garotão chegou pertinho e ergueu os braços pacificamente.

— Sem violência, só quero a minha camiseta de volta.

— E vai me deixar pelada?

— Não vou negar, era minha intenção.

— Vamos fazer um trato, te devolvo depois do jantar, estou morrendo de fome.

Ele concordou, mas quis um selinho para firmar o acordo. Ela foi além dando-lhe um beijo mais longo. Um beijo sem língua, mas tão gostoso quanto.


Após o jantar e de minha barriga cheiinha, recostei com o Pedro na cabeceira da cama para assistirmos algo na TV. Cerca de meia hora depois, durante um comercial:

— E então, vai me devolver a camiseta agora?

— Eu nem queria mesmo, e também estou morrendo de calor — falou a moça retirando a peça de roupa e ficando vestida só com o shortinho.

— Porém não é justo, esta é a minha banda favorita — concluiu ela.

— Eu troco por um beijo, mas só se for igual ao de uns dias atrás — disse ele.

— Seu safado! — disse ela olhando maliciosamente em seus olhos, e tomou a iniciativa do beijo.


Eles nem viram uma cena de erotismo passando na TV, em razão de estar acontecendo algo real e desejado por ambos há semanas.


Senti sua ereção quando me beijou, aquilo incendiou minhas partes baixas. Após rolarmos curtido um dos beijos mais longos da minha vida, fiquei por cima dele ao desgrudar dos seus lábios e acariciei seu membro por cima do short.

— Ei! Tem algo vivo aqui — falei bancando a safadinha.

Deslizei a mão por dentro para senti-lo, estava vivo como nunca. O despi da peça de roupa e fiz um boquete gostoso o lubrificando e deixando lisinho com minha saliva. Tirei meu shortinho e acomodei-me por cima dele direcionando seu pinto na minha boceta. Caraca! Fiquei descontrolada com o tesão proporcionado durante a invasão suave do seu membro em meu interior. Usei todos os meus truques para curtir ao máximo a fusão dos nossos corpos. Rebolei meus quadris de um lado para o outro em movimentos circulares e alternando com subidas e descidas cada vez mais rápidas. Senti meu parceiro se segurando para não gozar rápido demais, diminui a velocidade subindo devagar até quase tirá-lo de dentro, e com movimentos suaves o torturei brincando com a glande em minha entrada sem deixá-lo ir além… Ele não segurou mais, senti o primeiro jato do seu leite e a ansiedade do homem. Foi o maior bom sentir sua pegada forte em minha bunda e socando até o fundo de minha alma. Entreguei-me à sua vontade apoiando minhas mãos em seu peito e acompanhei o ritmo das suas enterradas. Ahh! O clímax chegou gostoso como um choque suave, me acabei cavalgando sobre o nervo duro golpeando fundo dentro de mim e enchendo minhas entranhas com sua ejaculação animal.

A noite seguiu com brincadeiras gostosas e por várias horas esqueci do mundo de perigos nos esperando lá fora.


Os jovens fugitivos acordaram tarde no dia seguinte. Algo ocorreu durante o período de sono, pois toda a desenvoltura e ímpeto na cama demonstrado pela jovem amante parecia ter desaparecido. O semblante sério não lembrava em nada aquela menina divertida, amorosa e carinhosa nos gestos e frases de horas atrás quando eles adormeceram abraçados após uma atividade sexual intensa. Ela havia mudado da água para o vinho, recusou um beijo de bom dia e evitou o rapaz. Em tom sério e frio disse que tinha uma missão a executar, necessitava de um comparsa e, não, de um amante.

Pedro Miguel ficou confuso, realmente era difícil de entender a garota. Ele repassou em pensamento cada um dos momentos vividos durante a noite, tentava chegar a algum erro cometido por ele. "Ou tudo aquilo não passou de um sonho? Não, foi muito real." Ele mesmo respondeu em pensamento. Ainda sentia o doce aroma e maciez do corpo feminino unido ao seu, e o calor da boca macia sugando e revivendo o seu membro a cada nova etapa de pegação daquela noite amorosa repleta de erotismo.

Ele não encontraria uma falha, a noite foi perfeita e Jessie sabia disso, por isso ela virou a chave e tornou-se fria novamente, reprovou a si mesma por mais uma vez ter se envolvido emocionalmente. Apaixonar-se e levar adiante qualquer relação amorosa não estava em seus planos, ainda sentia raiva de homens e prometera nunca mais abrir seu coração. Relacionamentos sexuais seriam tratados apenas como negócios. Ela tentaria manter o seu novo aliado ao seu lado sem usar o seu corpo e o romantismo.

Era notório que o carinha sério havia mexido com a moça aparentemente fria. Apesar dos vários momentos punks vividos por ela nos seus vinte e um anos incompletos e só ter praticado sexo com interesses financeiros nos últimos dois, ainda assim, em seu coração havia fragmentos de romantismo. No entanto, a relação que despertou seus sentimentos adormecidos, não tirou o foco da sua sede de vingança contra os que quase lhe tiraram a vida. Ela havia se recuperado e chegara a hora de dar o troco.

Jessie contou para o Pedro todo o caso do empresário, e dessa vez não omitiu nada: o ataque de catalepsia, o roubo dos valores do homem, o Audi roubado do estacionamento e contendo um milhão de dólares em seu interior (sem o conhecimento dela), a traição dos parceiros e todos os outros detalhes, inclusive os da tortura.

— Eu fui enganada, espancada, estuprada e colocaram uma arma na minha boca. — Você viu o estrago feito por eles em meu corpo. Quero vingança e a grana que eles me devem. — Em alguns dias entregarei a quitinete e partirei para Santa Catarina. — Você vem comigo?


Continua…



sábado, 23 de fevereiro de 2019

Parte 7 - O Corno e o Nordestino

Semanas antes do golpe


Rocha (o Nordestino) estava em seu trabalho de segurança e pensava na burrada feita quando era policial civil em São Paulo — ele foi exonerado por praticar extorsão. Não estava arrependido dos seus atos ilegais, mas, sim, por não aproveitar melhor as oportunidades para conseguir uma grana suficiente para lhe dar estabilidade financeira. Perdeu tempo extorquindo migalhas de pequenos comerciantes, cafetões, prostitutas e ladrões de galinha. Gastou tudo tão rápido quanto conseguiu subtrair bancando mulheres em noitadas acima do seu padrão.

O seu nome verdadeiro era Tenório, estava beirando os 45 anos. Também por dinheiro fez vários trabalhos avulsos infringindo a lei a mando de uma elite da região. Após sair da polícia não foi difícil conseguir uma colocação como segurança em uma mansão de um industrial estabelecido na cidade de São Paulo.

O empresário viajava a negócios com muita frequência, enquanto isso o ex-policial permanecia na residência fazendo a segurança dos demais familiares, principalmente da patroa, era a pessoa mais carente naquela residência. Logo nos primeiros dias de trabalho ele presenciou os porres dela e seus queixumes de abandono durante a ausência do marido. Apesar da embriaguez constante, a mulher continuava vaidosa e feminina, possuía a leveza de uma modelo, mesmo sem ser magra. Era encantadora com sua constituição mais robusta, de barriguinha charmosa, quadris avantajados e um bumbum arredondado agraciado por Deus. Uma mulher madura e graciosa, com quarenta anos recém completados. No entanto, era triste, tentava preencher com álcool o vazio do seu coração e de sua vida conjugal.

O ex-policial não conseguia entender como alguém poderia deixar uma joia rara como aquela, sozinha dia após dia. Ele foi além em sua função de segurança, passou a ser ouvinte e parceiro de copo da mulher em suas noites solitárias.

As conversas descontraídas do início, ficaram íntimas mais adiante, levaram ao desejo e a primeira oportunidade de contato físico poderia acontecer numa noite de sábado, quando o casal de filhos adolescentes não estavam presentes, eles dormiriam na casa dos avós paternos.


Era quase meia-noite, só o Nordestino e outro segurança circulavam na área externa. A mulher surgiu na varanda do seu quarto no piso superior e defronte para a piscina. Estava vestida com um robe levíssimo de renda negra. A silhueta delimitada pela iluminação proveniente do dormitório, exibia com perfeição suas formas sensuais e as proporções de um corpo feminino perfeito. Seus cabelos escuros de corte repicado, deixados propositalmente bagunçados, lhe davam um toque sexy e selvagem. O Nordestino parou a sua ronda para apreciar o monumento de mulher à sua frente. Ela fez um movimento com o dedo indicador, era o sinal combinado horas antes para ele subir sem chamar atenção e entrar sem bater.


Ela o recebeu em seus aposentos com uma taça de champanhe em cada uma das mãos. O homem continuou parado rente à porta após fechá-la, e ficou apreciando a beleza da patroa. A seminudez causou-lhe desejos incontidos de tê-la imediatamente em seus braços. Ela ofereceu-lhe a bebida, brindaram ao encontro proibido e iniciaram as carícias com beijos carregados de tesão. Tudo já fora dito nos últimos dias, faltava somente a fusão dos corpos, e estava prestes a acontecer.


Uma transa meio adolescente iniciou-se com eles ainda em pé, ela tirou a calcinha e recebeu o Nordestino entre suas pernas. Com a pressa de um colegial, o homem apenas baixou calça e cueca, salivou seu membro ereto com a mão e roçou a vagina umedecida da parceira iniciando a penetração. O contato íntimo iniciado sem preservativos quando fundiram seus sexos pela primeira vez, foi um instante de satisfação imensa. Ao iniciarem o movimento frenético balançando o móvel de madeira em que estavam escorados, o prazer cresceu de maneira acelerada fazendo explodir o primeiro instante de magia que chegou rápido e intenso em razão do desejo acumulado por dias à espera desse momento.

Sem desfazer a fusão genital, ele a pegou nos braços e se acomodaram na cama. No leito conjugal eles continuaram a transar como maníacos e sem pausa até perderem o fôlego.

Após estarem satisfeitos e extenuados, ficaram deitados lado a lado, cada um envolto em seus pensamentos. Os corações não batiam e, sim, espancavam loucamente seus peitos. Tesão e adrenalina de uma situação de risco, combinação perfeita para o deleite.

A mulher sentiu duplo prazer em poder dar o troco no marido, sem o menor sentimento de culpa em o trair no próprio colchão do casal.

Uma semana depois os amantes mantinham uma proximidade não recomendada pelo bom senso; as conversas eram carregadas de intimidade, rolavam carícias e beijos furtivos, todavia, os amassos rápidos já não satisfaziam e ainda aumentavam o desejo. Esperavam ansiosos a oportunidade de transarem novamente.

Durante os momentos de cumplicidade e romance às escondidas, ela revelou que tinha conhecimento a respeito das viagens comerciais de seu marido, eram negócios escusos envolvendo políticos em sua maioria. Ela também desconfiava que entre um trabalho e outro rolava muita putaria sigilosa praticada apenas com a elite dos seus amigos pervertidos, e com a participação de muitas prostitutas, evidente.

O segurança ficou interessado nos negócios escusos, mas ela não tinha os detalhes das falcatruas do empresário, mas tinha a certeza de ter milhões em dinheiro envolvidos na história.


Em mais uma noite de confidências após uns drinks, a patroa falou sobre uma viagem do empresário para a cidade de Campinas. Dessa vez, devido às circunstâncias, ela estava animada com a futura ausência do seu companheiro, teria a possibilidade de ficar com o amante. Disse ter ouvido o esposo conversando com um colega de negócios à beira da piscina, sem notarem a sua presença. Tratava-se de uma soma alta em dólares que ele entregaria pessoalmente a um político.


Tenório, após extrair tudo o que a mulher sabia, investigou sobre o assunto e ficou a par dos detalhes da viagem do patrão. Seria sua chance de fazer um bom pé de meia caso desse um golpe no milionário e metesse a mão na grana. Precisaria conseguir um ou dois comparsas descartáveis, pois não tinha a intenção de dividir o dinheiro e nem pretendia deixar testemunhas ou provas para incriminá-lo.

Após tomar posse do dinheiro e dar um fim nos comparsas, voltaria normalmente à casa do industrial e faria seu trabalho por um período suficiente para não levantar suspeitas. Posteriormente sairia do emprego e do estado carregando consigo o produto do roubo.


Tempo presente, pós-furto do Audi


O plano do Nordestino obteve um sucesso parcial. Logo após fugir com o dinheiro e ocultá-lo, Tenório continuou trabalhando como segurança na residência do industrial e manteve sua relação íntima com a patroa, porém, o desfecho do negócio em Campinas não havia saído como planejou, o concierge e a garota continuavam vivos e, mesmo os dois não tendo conhecimento de como localizá-lo, seriam um perigo constante. Precisaria aparar as arestas antes que fosse tarde demais.


Confissões e desejos


Enquanto isso, em outra região da metrópole paulistana


Seis dias após chegarem a São Paulo, Jessie e Pedro Miguel ainda estavam instalados no mesmo motel. Talvez fosse pelo último dia, esperavam uma resposta a respeito de uma quitinete situada nas proximidades.

Aquela semana foi de conversas e revelações, também de adaptação no convívio de jovens de ritmos de vida tão diferentes. O plano inicial era continuarem juntos enquanto ela estivesse se recuperando. Apesar da constante preocupação do rapaz, temia ser morto só porque foi humanitário e ajudou uma moça acidentada, no entanto, não estava arrependido de sua atual situação, curtia aquele momento inusitado em sua vida, o convívio diário com Jessie e a troca de experiências com uma pessoa de um mundo até então distante do seu era gratificante. Ainda tinha a melhor parte, a visão de um corpo feminino, delicado e excitante. Apreciar sua beleza jovial já era um sonho, mas poder tocar sua pele macia e sentir seu perfume natural enquanto a ajudava com seus ferimentos, isso era impagável. Assim como magia pura era deslizar seus dedos nas costas nuas, chegando próximo aos seios firmes parecidos com duas peras graúdas. Quanta loucura e desejos sacanas invadiram a mente do rapaz durante o trabalho. Disfarçar sua ereção tornou-se cada vez mais difícil.

Quanto a garota, era fria na maioria do tempo, mantinha sob controle seus instintos sexuais, mas gostava de se sentir desejada e curtia os momentos quando era necessário expor sua nudez para a troca de curativos. Ela não fazia isso de forma proposital, mas adorava vê-lo encabulado a observando e controlando seus impulsos ao executar a incumbência. O toque masculino em sua pele durante a aplicação de uma pomada, era de deleite e arrepios, a moça segurava sua onda não se permitindo entrar em um lance de erotismo, e muito menos em um caso amoroso, mesmo porque ainda estava se recuperando dos ferimentos em suas partes íntimas. Seu "enfermeiro" a respeitava como mulher, assim como a situação de enfermidade da jovem. Mas estava cada vez mais difícil não avançar o sinal e acariciar as regiões ainda não exploradas daquele corpo sedutor.


As situações de intimidade extrema só aumentavam o desejo do casal, e certa noite, devido a sua fragilidade momentânea, Jessie deixou-se prender por um olhar carregado de volúpia. Rolou um clima e a proximidade dos rostos era o convite para um beijo, ela entreabriu os lábios o convidando e ele não exitou… o beijo foi longo, carinhoso e com o desejo de ir além. Porém, ela se afastou e falou friamente:

— Obrigada pela ajuda, vou dormir. — E sobre o ocorrido, se voltar a acontecer, será hora de dizermos adeus um para o outro 

O rapaz não ficou frustrado e nem preocupado, o ocorrido era um começo, além de ter sido um prêmio por sua paciência. Saberia esperar pela próxima oportunidade. Provavelmente não demoraria para a sessão de enfermagem se transformar em relação sexual.


No dia seguinte, eles não tocaram no assunto, a conversa girou em torno de um passado mais distante. Ele já havia revelado quase tudo sobre sua vida em Fortaleza, inclusive de ter assassinado o seu padrasto. Depois se apoderou dos documentos do seu irmão chacinado, assumindo assim sua identidade. Caio César era o seu nome verdadeiro, contudo, deixou de existir após o crime e Pedro Miguel renasceu nele.

— E como eu te chamo agora? — de Pedro ou Caio?

— Melhor me chamar de Pedro, o Caio é foragido da justiça.

— Mas o Pedro também é — tá feio o bagulho pro seu lado, hein mano? — falou a moça brincando com a situação.

Ele continuou falando sobre o irmão que era só um ano mais velho. Ambos tinham alguma semelhança física, ademais, a identidade era de quatro anos atrás, a diferença entre sua aparência atual e a do garoto na foto seriam justificáveis.

Jessie, por sua vez, não pretendia revisitar acontecimentos extremamente complicados de seu passado. Seria condenada por todos, supôs.

— Eu fiz coisas horríveis e não quero reviver os momentos ruins.

Ela o deixaria saber apenas sobre suas atividades dos últimos dois anos e seus planos imediatos. Começou contando sobre seu relacionamento com o parceiro, funcionário do hotel, disse que ele seria o primeiro em sua lista negra, Maciel o seu nome.

"Nos conhecemos em Camboriú-SC, ele percebeu meu golpe aplicado nos clientes, geralmente turistas de uma choperia onde ele era gerente na época. Não era nada que rendesse muito dinheiro. Eu assediava os quarentões de aparência distinta, levava para um canto discreto do estabelecimento e quando eu já estava sem calcinha e o cara, de pau de fora, a ponto de me penetrar encostada atrás de uma coluna ou um carro, mentia ser filha do delegado, depois mostrava a minha identidade falsa de menor de idade e pedia uma grana. O valor variava conforme a minha avaliação do sujeito. O ameaçava dizendo:

— Caso não pague, farei um escândalo o acusando de assediar menor de idade.

E realmente começava um barraco quando o cara se recusava a pagar, ou se ficava violento.

Também acontecia de um sujeito ou outro ficar em uma fissura tão grande a ponto de me oferecer uma grana irrecusável para, pelo menos, ter um boquete. Claro que nós chegávamos a um acordo, afinal, negócios são negócios.

Após conseguir uma boa grana, seja por chantagem ou pelo boquete, dava um perdido e só voltava naquele estabelecimento alguns dias depois. Além da diversão, conseguia o suficiente para minhas despesas do dia a dia.”

— O Maciel chegou em mim certo dia — continuou Jessie a relatar — disse que eu tinha talento especial e poderíamos ganhar alguns milhares de reais em outro lugar. Senti firmeza nele. Depois de um bom papo e um acordo, partimos para Campinas, lá ele tinha aliados e os lugares certos para os nossos golpes.

Sem rodeios ela explicou para o Pedro os detalhes do esquema do “Boa noite, Cinderela”. Depois deixou claro, mais uma vez, da ilegalidade do dinheiro que pagava as suas contas.

— São os frutos desses golpes que nos manterão por mais algum tempo — falou a moça sem nenhum constrangimento.


Continua…



quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Parte 6 – Parceiro de Fuga

Pedro Miguel retornou ao presente após relembrar os momentos trágicos de um passado recente. Ele saiu de Fortaleza há seis meses e chegou em Campinas à procura de trabalho para recomeçar sua vida e ser uma pessoa normal em meio a tantos outros. Porém, convivia diariamente com a sensação de ter policiais no seu encalço, em razão do homicídio cometido contra o padrasto. Sua situação era similar a de um clandestino em um país estrangeiro; a prudência aconselhava manter-se longe da polícia e de problemas.

Sobressaltou-se ao ouvir o toque do seu celular, identificou o número da casa do seu patrão. O homem relatou ter sido interpelado por um cliente via telefone. Era o proprietário de uma Kawasaki azul deixada para conserto na loja. Segundo o cliente, ele foi procurado pela polícia e o acusaram do envolvimento em um acidente na rodovia norte. Ele respondeu aos policiais que deveria ser um engano, em razão de sua moto estar há dois dias em uma oficina mecânica.

— Dois investigadores estão indo aí com ele para examinar a moto. — Também estou indo — disse o chefe.

— Desculpe, seu Nilo, mas a moto não está na oficina... Nem eu.

— O QUEEEE!!! VOCÊ ESTÁ DE BRINCADEIRA?

Jessie saiu do banheiro com água escorrendo pelo corpo. Terminou de enrolar a toalha na altura dos seios diante do rapaz. Ela ficou apreensiva com o desenrolar da conversa. Pedro Miguel tentava se explicar ao seu patrão:

— Eu saí só pra dar uma volta e ver se a máquina estava legal, mas...

Calou-se ao ver o sinal aflito da moça solicitando para parar de falar. Ela apontou para si mesma com o indicador e balançou o dedo em sinal de não enquanto sussurrava:

— Não fale sobre mim e nem do acidente.

— RESPONDE SEU MOLEQUE, ONDE VOCÊ ESTÁ? — QUEM TE DEU AUTORIZAÇÃO PRA SAIR COM A MOTO? — NEM HABILITAÇÃO VOCÊ TEM, SEU RETARDADO — continuou aos berros o homem.

— É NISSO QUE DÁ A GENTE CONFIAR EM MOLEQUES, EU POSSO SER PRESO POR SUA CAUSA — VEM IMEDIATAMENTE PRA CÁ COM ESSA MOTO.

— Estou indo, seu Nilo.

O moço encerrou a ligação e relatou toda a conversa tida com o dono da oficina.

— Vou lá levar a moto antes da polícia chegar, ou será pior. Não posso ser preso.

— Ser preso será o menor dos seus problemas se aqueles caras colocarem as mãos em você — olha como me deixaram.

— Não estou entendendo nada. — De quem você está falando?

— Estou falando de gente perigosa e poderosa, sem a menor preocupação em seguir a lei — falou Jessie preparando o terreno para explicar que ele entrou de graça em uma grande roubada.

— Mas eu nem os conheço e muito menos eles a mim.

— Desculpe, Pedro, tem gente graúda e impiedosa querendo a minha cabeça, e agora também estão atrás de você, já sabem sobre a moto. Esses caras pensam que sei como levá-los a um dinheiro roubado.

— De qual dinheiro você está falando? — E que história louca é essa?

— Acredite em mim, a primeira coisa a fazer é partir imediatamente dessa cidade para continuarmos vivos, e não tenho a menor dúvida sobre isso. — Depois eu prometo lhe contar tudo desde o início — concluiu a moça.

— Tu é louca, garota? — quem é você, afinal de contas? — E o que mais preciso saber antes de resolver se entro nessa ou se acabo de te arrebentar?

— Infelizmente, Pedro, você já está até o pescoço nessa parada sinistra e corre risco de vida se ficar na cidade. Acredite em mim, por favor, é sério. Deixa para brigar comigo quando estivermos em segurança bem longe daqui. Por hora só posso dizer que a sua companhia é muito bem-vinda, pois eu preciso da sua ajuda.

O rapaz fez uma cara de quem estava arrependido de ter levantado da cama naquele dia. "Eu sabia, não devia ter voltado, agora me ferrei de vez”, pensou. Sua situação já era a de fugitivo, agravou ainda mais só por ter ajudado uma moça em perigo. Acabou entrando em uma trama estranha e nem conseguia visualizar o quanto perigoso era. 

— Vou pegar somente o necessário, depois daremos o fora — disse Jessie.

Em seguida ela começou a tirar roupas de gavetas e cabides e colocou sobre a cama.

— Minhas roupas estão na oficina, é onde trabalho e moro de favor. Também não tenho verba para uma parada dessa — disse ele e mostrou os trocados em seu bolso.

— Eu tenho um pouco de dinheiro, dá para nos virarmos por um tempo — disse a moça.

Pegou duas camisetas masculinas de bandas de rock em uma gaveta e entregou ao rapaz.

— Estas servem em você, ficam folgadinhas em mim, uso para dormir.

O jovem vestiu a camiseta preta do AC/DC, ela fazia referência à música highway to hell.

Sua nova companheira de aventura olhou para ele, torceu o nariz com expressão de dúvida e disse:

— Não seria melhor a do Ramones?

— Prefiro essa, tem tudo a ver com o momento — respondeu mal humorado.

Jeasie terminou de encher duas mochilas com roupas e coisas diversas.

— Vamos para a rodoviária agora, faremos algumas compras quando estivermos bem longe da cidade.

— Antes preciso entregar a moto.

— Você não pode dar mole voltando lá, deixa o bagulho em um estacionamento. Após estarmos seguros e longe o suficiente, você liga pro seu chefe e diz onde deixou.


***


Anteriormente, naquele mesmo dia em um hospital


O motorista do caminhão envolvido no acidente estava em um leito hospitalar, acabara de sofrer uma cirurgia em sua perna fraturada. Recebeu a visita de dois homens à paisana, se apresentaram como policiais e queriam um depoimento sobre os detalhes do acidente.

O enfermo começou a contar desde o início, no entanto, o interesse dos homens era em uma pessoa específica, e só manifestaram interesse quando o motorista referiu-se a ela, a garota do hotel:

"... tombei o tronco no banco do passageiro, a minha perna esquerda ficou presa abaixo do volante, tentava alcançar o celular caído no piso da boléia. Ouvi uma freada e fui levantando devagar para pedir ajuda, mas demorei muito por causa da dor. Quando consegui olhar pela janela vi uma moto azul arrancando e cantando pneus com duas pessoas montadas. A garupa era uma moça com pouca roupa e ferimentos pelo corpo. O piloto usava capacete e parecia ser um rapaz".

— Você conseguiu ver a placa?

— Sim, mas só porque achei engraçado.

— E qual foi o motivo da graça?

— Era o apelido da minha filha mais nova e o seu ano de nascimento: Bia 2008.

Os homens agradeceram a colaboração e saíram rapidamente.

— Espera aí gente! Deixa eu contar sobre a explosão e os gritos vindos de dentro do carro.

Os homens nem olharam para trás.


***


Pedro Miguel deixou Jessie na rodoviária de Campinas, depois foi deixar a moto em um estacionamento fora do terminal. Combinaram encontrar-se nos guichês de venda de passagens em vinte minutos.

Ela aproveitou o momento solitário e foi até a área dos guarda-volumes e retirou uma mochila cheia com o seu dinheiro de um locker alugado. A golpista não pretendia voltar para Campinas tão cedo. Também não pretendia deixar seu novo acompanhante ter conhecimento do quanto ela possuía em espécie. O moço ainda estava sob sua análise.


Quando ele voltou disse ter resolvido tudo: deixou a motocicleta a duas quadras de distância e já havia ligado para o patrão dando o endereço.

— Você só pode estar louco. A gente combinou de ligar só quando estivéssemos distante.

— Eu não podia deixar o seu Nilo encrencado mais tempo por minha causa, foi o único que me ajudou quando precisei.

— Algumas horas a mais não fariam diferença, estamos lidando com gente poderosa e não podemos ficar facilitando pros caras — falou a moça tentando conter sua raiva e não ser muito dura com seu salvador.

— Não sou tão lerdo quanto você pensa, eu liguei para a casa dele e deixei recado na secretária eletrônica, só saberá quando voltar da loja… Ou da delegacia.

— Desculpe, não quis dizer isso. — Vamos pegar o primeiro ônibus que estiver saindo, pois estou com a sensação deles terem deduzido que viemos para a rodoviária — disse ela.

Jessie comprou duas passagens para Uberlândia-MG, embarcaram e o ônibus partiu em seguida.


Seus perseguidores tiveram acesso às imagens gravadas do guichê da rodoviária e também das listas de embarque duas horas depois do coletivo partir levando o casal.

A polícia rodoviária interceptou e reteve o ônibus na região de Ribeirão Preto. Com fotos dos procurados em seus celulares — fotos retiradas das câmeras do terminal de Campinas —, os homens começaram a vasculhar o interior do veículo. Dois jovens com as características dos procurados ocupavam os últimos assentos. Os homens da lei sacaram suas armas ao perceberem a atitude suspeita de ambos: o rapaz de jaqueta escura e boné, a moça de moletom com capuz e óculos escuros, apesar de ser noite. Tentavam esconder seus rostos. Os policiais ordenaram que se levantassem devagar com as mãos para o alto.

Ainda sob a mira das armas eles obedeceram as ordens para removerem capuz, óculos e boné. A menina não conteve o choro, viu seu plano de fuga ir por água abaixo, no entanto, eles não eram os procurados, era um casal de adolescentes fugindo dos pais para ficarem juntos. Ela tinha traços orientais, o moço tinha aparência latina. Os pais dela foram irredutíveis a respeito dessa união.

Após o oficial responsável certificar-se que os procurados não estavam no coletivo, ele foi informado pelo motorista que um casal desceu em Limeira. Confirmou ser os mesmos após olhar as fotos.


Logo após descerem em Limeira, Jessie e Pedro Miguel pegaram um táxi para Piracicaba, lá ela fretou outro carro de praça e foram rumo à cidade de São Paulo. Por mais profissionais que fossem os caras em sua captura, a jovem acreditava ter dado um perdido neles.


Primeira noite do jovem casal em São Paulo. A garota conhecia bem a cidade, decidiu por uma hospedagem provisória num motel simples na periferia da zona norte, pois ninguém os localizaria em estabelecimentos daquele tipo.

Saiu do banho vestida com uma camisola de malha leve e curta. Aparentava exaustão, disse sentir dores e precisava dormir um pouco. O quarto simples só tinha uma cama de casal.

— Eu durmo no chão — disse o garotão.

Ela insistiu para dormirem juntos.

— Imagino que assim como eu, você queira apenas dormir e descansar o corpo depois desse dia punk. — Só peço para não esbarrar em mim, pois além de ferida, estou toda dolorida.

Ele demorou a dormir, os pensamentos fluíam a milhão em sua cabeça e ainda tinha aquele corpo sedutor de odor tão agradável a centímetros dele e mexendo com sua libido.


Acidente Abafado


O empresário, por intermédio dos seus contatos, não deixou o assunto do carro acidentado ser divulgado na íntegra, entrou para as estatísticas como mais um acidente nas estradas brasileiras. Os corpos completamente carbonizados não foram identificados, nem o proprietário do carro. Os restos da lataria foram jogados no fundo de uma represa e os corpos enterrados como indigentes.

Não tinham pistas do paradeiro da garota golpista ou do motoqueiro, a única certeza era a de que eles não poderiam continuar vivos por muito mais tempo.


Continua…



quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Parte 5 – Justiça com as Próprias Mãos

O motoqueiro engatou a segunda marcha e começou a ganhar velocidade, se questionava em pensamento sobre a história contada pela garota: "uma mentira inventada às pressas", deduziu. Provavelmente se envolveu com bandidos e estava encrencada. Logo alguém viria atrás dela, criminosos ou policiais… Ou os dois.
“Não se envolva, disse para si, você já tem seus problemas". Ele conhecia aquelas marcas no rosto da jovem; eram marcas de uma surra aplicada por um homem, as mesmas vistas várias vezes no rosto e no corpo de sua mãe quando seu padrasto a agredia.
O motor pedia a troca de marcha, ele engatou a terceira e girou firme a manopla do acelerador, quase empinou a moto com o ganho repentino de velocidade. Repetiu para si: "não se envolva, ela parece ser uma garota capaz de se virar sozinha". Ouviu sirenes se aproximando, era um caminhão de bombeiros seguindo um carro da polícia rodoviária e outro do resgate. Passaram por ele em sentido contrário, rumo à fumaça negra visível mais adiante.
— MERDA! — gritou reprovando o que pretendia fazer.
Deu uma freada brusca, meia volta na moto e acelerou em direção ao hipermercado.
Avistou a garota caminhando com muita dificuldade, praticamente se arrastando. Ele parou ao seu lado.
— Se você quiser sair daqui sem ser notada, é melhor vir comigo.

Ela também ouviu as sirenes, sabia do perigo e precisava desaparecer daquele lugar quanto antes ou estaria ferrada. Subiu na moto com a ajuda dele e agradeceu enquanto o rapaz acelerava.


Meia hora depois eles estavam no apartamento simples por ela habitado, havia alugado quando chegou na cidade de Campinas e propositalmente escolheu um local próximo à rodoviária, seria propício para uma saída rápida da cidade em caso de necessidade, e ainda tinha os lockers (guarda-volumes) para ela manter por perto e seguro o seu dinheiro conseguido em golpes anteriores.

Ela ainda não havia dito nada sobre o ocorrido, muito menos sobre sua vida louca, mas revelou seu nome verdadeiro: Jessie.

— Preciso de um banho — disse ela.

Com dificuldade de movimentos, ela mal conseguiu tirar a saia sozinha. Chamou pelo rapaz pedindo sua ajuda para tirar a camiseta. Após alguns "ais" e cara de choro, ela estava despida.

— Quem fez isso com você? — perguntou ao ver o estado crítico da moça.

— É uma longa história, depois eu lhe conto — disse demonstrando esgotamento. E agradeceu a ajuda.

Ele respeitou seu silêncio e a deixou sozinha. Aguardaria o momento apropriado para saber mais sobre a garota atraente e misteriosa.


Enquanto Jessie iniciava o banho mais dolorido de sua vida, Pedro Miguel acomodou-se no pequeno sofá e recordou o seu passado não muito distante:

Seu pai foi uma das oito vítimas de uma chacina na cidade de Fortaleza, onde moravam, Pedro tinha quatorze anos naquela ocasião. Segundo as informações da polícia, em um noticiário local, foi mais um acerto de contas entre traficantes de drogas. No entanto, o pai do Pedro Miguel era pedreiro de profissão e nunca esteve envolvido com o crime e nem tinha passagem pela polícia, assim como seus colegas, frequentadores do boteco naquela noite trágica, todos foram friamente chacinados. Aquelas pessoas humildes e trabalhadoras, somaram-se a tantas outras, também vítimas da falta de segurança e reféns da disputa pelo poder, travada entre criminosos rivais. Entre eles ainda havia policiais corruptos integrando os bandos, cada qual defendendo e protegendo seu grupo, ao invés de proteger a população e os contribuintes. Era muito dinheiro envolvido e muitas vidas inocentes perdidas.


Um ano depois, seu irmão de apenas dezesseis anos e mais quatro adolescentes foram mortos nas mesmas circunstâncias quando estavam conversando em uma calçada na rua daquela mesma comunidade. Próximo das vinte e três horas surgiram dois carros com vidros escuros e em seus interiores haviam homens semelhantes à chacina anterior: vestidos de preto e encapuzados com toucas ninjas. Dispararam dezenas de tiros vitimando os jovens.


Outro ano se passou e a mãe do Pedro Miguel foi morar com um sujeito antipático de aparência rude. O convívio entre o adolescente de dezesseis anos e o padrasto ficou impossível. O cara vivia embriagado e a cada dia ficava mais grosseiro. As discussões viraram rotina e as marcas de agressões em sua mãe tornaram-se frequentes. A mulher subalterna tinha medo do companheiro e de perder o pouco de conforto conseguido, aceitava com resignação as agressões e dizia para o filho parar de implicar e confrontar o companheiro dela.


O rapaz foi expulso de casa após denunciar o padrasto por mais um espancamento em sua genitora. O filho tentou abrir os olhos da mãe dizendo o que todos no bairro já sabiam: o homem era um bandido e integrante de uma milícia, o bando extorquia os moradores e comerciantes daquela comunidade. A mulher não queria acreditar e também não confirmou à delegada as agressões sofridas. O miliciano continuou livre e mandou o jovem sair de sua casa. A mãe não fez nada para evitar.


Dezoito meses depois do rompimento com a mãe e o padrasto, Pedro Miguel estava nos fundos da oficina onde aprendera a trabalhar como mecânico de moto e onde também morava com o consentimento do dono. Uma antiga vizinha o procurou no local para relatar sobre a nova agressão sofrida por sua mãe. Sua genitora foi internada e permanecia em coma numa UTI.

Após o filho chegar ao hospital ele chorou angustiado ao ver sua mãe em estado crítico lutando há dois dias contra a morte após ser vitimada por mais um espancamento covarde. O médico lamentou ao dizer que ela não resistiria, era questão de horas até desligarem os aparelhos. O sangue do rapaz ferveu de tanta revolta.


Quando a noite ia alta, ele foi para o seu antigo bairro, sua sede de vingança só aumentava. Ficou vigiando a casa onde morava sua mãe. A residência permanecia às escuras, pois o padrasto costumava chegar sempre depois da meia-noite.

O relógio marcava 23h30min, o movimento nos arredores se resumia a uma garota frágil e de aparência colegial moradora de uma casa no terreno ao lado. Acomodada em um degrau no portão de sua residência, a moça praticamente exibiu sua calcinha devido a sua minissaia, muito mini. O tronco quase nu com um top tomara que caia, suficiente apenas para cobrir os seios miúdos. Sua atenção toda voltada para um celular, vez ou outra olhava para a esquina como se aguardasse alguém.

Ela recebeu uma mensagem em um aplicativo, digitou respondendo e entrou correndo dentro de casa para comprar a cumplicidade da mãe; pediu para encobrir sua ausência por uns vinte minutos enquanto seu pai assistia distraído a um jogo de futebol na TV.

Enquanto isso, o rapaz aproveitou a oportunidade de não haver testemunhas, com cautela foi em direção à casa da mãe e usou cópias das chaves para invadir a residência. Entrou embaixo da cama do casal, era onde esperaria escondido o homem adormecer para depois acabar com a vida dele o esfaqueando sem chamar a atenção dos vizinhos.


O indivíduo chegou cinco minutos depois, entrou na casa e parecia estar acompanhado. Pedro não contava com esse imprevisto, complicaria demais os seus planos.

— Vem, meu filezinho! — dessa vez temos a noite toda só pra nós.

— Não posso demorar, se meu pai souber que saí… tô lascada.

O rapaz encolhido debaixo da cama reconheceu a voz, era Paulinha, a garota estava há pouco no portão ao lado.

— Não precisa ter pressa, eu dou um jeito no seu pai — falou o homem com a voz empastada pela quantidade de álcool ingerido.

— Para, viu? — deixa meu pai.

— Chega de aperreio e se achegue aqui, minha cachorrinha!

O vulgar de atitudes sacanas agarrou e enfiou a língua na boca da jovem. Ela se entregou deixando o corpo tombar para trás e foi sustentada e dominada pelo par de braços. Seu corpo era movido como se fosse um brinquedo. O sujeito a levantou segurando pelas coxas e a soltou sobre a cama.

— Não está avexada? — então tira logo essa roupa! — ele ordenou.

Tirou sua arma detrás da cintura e guardou dentro da gaveta do criado-mudo. Despiu-se enquanto admirava a mulatinha magra, de cabelos curtos e cacheados, peladinha aguardando o “abate”.

Ele partiu babando para cima dela invadindo com seu tronco o espaço entre as pernas femininas. Sua boca, já com a língua de fora, tocou o sexo da garota a lambendo de baixo para cima e penetrou sua vagina de pelos ralos e castanhos.

A testemunha auditiva daquela relação permanecia praticamente imóvel sob o colchão. "Que merda", pensou Pedro Miguel, já havia se arrependido do plano.


Depois de quase meia hora de cama chacoalhando e rangendo, houve uma pausa. A garota pegou seu celular, ele havia vibrado duas vezes minutos atrás, mas o homem a impediu de atender.

— Danou-se! Duas ligações perdidas do meu pai, tenho que ir na carreira.

Ela pegou sua calcinha e sentou na beirada da cama na tentativa de se vestir.

— Vai o caralho, já disse que dou um jeito naquele frouxo — falou a criatura com voz descontrolada.

A seguir partiu para cima da garota a imobilizando com um mata-leão e jogando de costas na cama. Pegou a lingerie ainda na altura dos joelhos dela e rasgou com selvageria. Arreganhou o par de pernas frágeis se alojando entre elas e tentou a penetração. Ela implorou que a deixasse ir, prometendo voltar no dia seguinte e ficando mais tempo. O sujeito estúpido deu um tapa no rosto da garota mandando ela calar a boca. Ficou ainda mais nervoso com a resistência dela tentando evitar o coito.

Ele perdeu rapidamente a ereção e não conseguiu mais penetrá-la, daí sim virou um monstro e passou a agredi-la verbal e fisicamente.

— Sua quenga, vagabunda, quem você pensa que é? — Eu decido quando você vai ou fica.

O covarde ignorante deu tapas fortes e repetidos de um lado e do outro no rosto da Paulinha. O rapaz sob o colchão, ao ouvir o barulho da agressão, pensou: “esse animal fez o mesmo com a minha mãe.” Não conseguiu conter-se com tamanha covardia, olhou determinado para a faca em sua mão direita, deslizou sem barulho pelo piso e levantou preparando um golpe de cima para baixo… O agressor percebeu sua presença e se jogou para o outro lado da cama em busca de sua arma no criado-mudo. Pedro Miguel, no impulso, segurou a faca com as duas mãos e pulou sobre o padrasto. A lâmina de uns quinze centímetros atravessou as costas do seu oponente antes dele conseguir empunhar o revólver. O rapaz, ainda por cima do homem agonizante, agilmente retirou a faca e com ódio golpeou outras vezes com a certeza de acabar com a vida do sujeito.

Paulinha ficou em choque, encolhidinha na cabeceira da cama, tremendo com expressão de pavor. Ele tentou acalmá-la dizendo que não iria machucá-la, mas precisava da colaboração dela para saírem dali sem serem vistos. Mandou a menina se recompor e ir embora, e não deveria comentar com ninguém sobre a presença dele e muito menos sobre o ocorrido, ou os dois e os seus familiares seriam mortos, pois o cara era bandido e pertencia ao grupo de milicianos.

A garota teve um pouco de dificuldade para processar tudo aquilo, mas ela o conhecia e foi apaixonada pelo rapaz quando ele morou naquela casa. Se vestiu e limpou o sangue em seu rosto. Ele aconselhou saírem pelos fundos e a acompanhou.

Já do lado de fora…

— Obrigada! Acho que ele teria me matado se não fosse você.

Ele esboçou um sorriso discreto e pediu para ela sair rápido e sem ser notada.

O rapaz retornou ao quarto, pegou o dinheiro da carteira do falecido, $230. Era pouco, ele tinha conhecimento sobre o padrasto ocultar dinheiro ilegal naquela casa. Procurou em gavetas e interiores de móveis. Achou uma caixa de metal com cadeado no guarda-roupa, a chave compatível estava no chaveiro do cadáver. Ficou satisfeito ao encontrar $3.800, ele enfiou no bolso da calça jeans. Aquele dinheiro garantiria a sua fuga e manutenção por algum tempo. No cofre improvisado havia também um bloco de notas com nomes e valores, tipo uma contabilidade da extorsão da milícia, deduziu. Jogou sobre o defunto, não queria mais nenhum envolvimento com os bandidos. Pegou a camisa do homem, tirou o cabo de uma vassoura e fez uma tocha. Abriu todos os bicos de gás do fogão, inclusive o do forno e saiu pelos fundos da casa. No quintal ele acendeu e atirou como se fosse uma lança a sua tocha improvisada. Correu enquanto o artefato viajava no ar, penetrando pela porta aberta e provocando um incêndio imediato. O incendiário pulou o muro no mesmo instante em que ocorreu uma explosão.

Pedro Miguel saiu caminhando enquanto as chamas consumiam a casa. Passou na oficina onde morava para pegar sua mochila com todos os seus pertences contidos nela.


Quando a primeira luz do dia surgiu no horizonte, o rapaz já havia se distanciado da cidade, porém ainda pensando qual rumo daria à sua vida.


Continua…