sábado, 23 de fevereiro de 2019

Parte 7 - O Corno e o Nordestino

Semanas antes do golpe


Rocha (o Nordestino) estava em seu trabalho de segurança e pensava na burrada feita quando era policial civil em São Paulo — ele foi exonerado por praticar extorsão. Não estava arrependido dos seus atos ilegais, mas, sim, por não aproveitar melhor as oportunidades para conseguir uma grana suficiente para lhe dar estabilidade financeira. Perdeu tempo extorquindo migalhas de pequenos comerciantes, cafetões, prostitutas e ladrões de galinha. Gastou tudo tão rápido quanto conseguiu subtrair bancando mulheres em noitadas acima do seu padrão.

O seu nome verdadeiro era Tenório, estava beirando os 45 anos. Também por dinheiro fez vários trabalhos avulsos infringindo a lei a mando de uma elite da região. Após sair da polícia não foi difícil conseguir uma colocação como segurança em uma mansão de um industrial estabelecido na cidade de São Paulo.

O empresário viajava a negócios com muita frequência, enquanto isso o ex-policial permanecia na residência fazendo a segurança dos demais familiares, principalmente da patroa, era a pessoa mais carente naquela residência. Logo nos primeiros dias de trabalho ele presenciou os porres dela e seus queixumes de abandono durante a ausência do marido. Apesar da embriaguez constante, a mulher continuava vaidosa e feminina, possuía a leveza de uma modelo, mesmo sem ser magra. Era encantadora com sua constituição mais robusta, de barriguinha charmosa, quadris avantajados e um bumbum arredondado agraciado por Deus. Uma mulher madura e graciosa, com quarenta anos recém completados. No entanto, era triste, tentava preencher com álcool o vazio do seu coração e de sua vida conjugal.

O ex-policial não conseguia entender como alguém poderia deixar uma joia rara como aquela, sozinha dia após dia. Ele foi além em sua função de segurança, passou a ser ouvinte e parceiro de copo da mulher em suas noites solitárias.

As conversas descontraídas do início, ficaram íntimas mais adiante, levaram ao desejo e a primeira oportunidade de contato físico poderia acontecer numa noite de sábado, quando o casal de filhos adolescentes não estavam presentes, eles dormiriam na casa dos avós paternos.


Era quase meia-noite, só o Nordestino e outro segurança circulavam na área externa. A mulher surgiu na varanda do seu quarto no piso superior e defronte para a piscina. Estava vestida com um robe levíssimo de renda negra. A silhueta delimitada pela iluminação proveniente do dormitório, exibia com perfeição suas formas sensuais e as proporções de um corpo feminino perfeito. Seus cabelos escuros de corte repicado, deixados propositalmente bagunçados, lhe davam um toque sexy e selvagem. O Nordestino parou a sua ronda para apreciar o monumento de mulher à sua frente. Ela fez um movimento com o dedo indicador, era o sinal combinado horas antes para ele subir sem chamar atenção e entrar sem bater.


Ela o recebeu em seus aposentos com uma taça de champanhe em cada uma das mãos. O homem continuou parado rente à porta após fechá-la, e ficou apreciando a beleza da patroa. A seminudez causou-lhe desejos incontidos de tê-la imediatamente em seus braços. Ela ofereceu-lhe a bebida, brindaram ao encontro proibido e iniciaram as carícias com beijos carregados de tesão. Tudo já fora dito nos últimos dias, faltava somente a fusão dos corpos, e estava prestes a acontecer.


Uma transa meio adolescente iniciou-se com eles ainda em pé, ela tirou a calcinha e recebeu o Nordestino entre suas pernas. Com a pressa de um colegial, o homem apenas baixou calça e cueca, salivou seu membro ereto com a mão e roçou a vagina umedecida da parceira iniciando a penetração. O contato íntimo iniciado sem preservativos quando fundiram seus sexos pela primeira vez, foi um instante de satisfação imensa. Ao iniciarem o movimento frenético balançando o móvel de madeira em que estavam escorados, o prazer cresceu de maneira acelerada fazendo explodir o primeiro instante de magia que chegou rápido e intenso em razão do desejo acumulado por dias à espera desse momento.

Sem desfazer a fusão genital, ele a pegou nos braços e se acomodaram na cama. No leito conjugal eles continuaram a transar como maníacos e sem pausa até perderem o fôlego.

Após estarem satisfeitos e extenuados, ficaram deitados lado a lado, cada um envolto em seus pensamentos. Os corações não batiam e, sim, espancavam loucamente seus peitos. Tesão e adrenalina de uma situação de risco, combinação perfeita para o deleite.

A mulher sentiu duplo prazer em poder dar o troco no marido, sem o menor sentimento de culpa em o trair no próprio colchão do casal.

Uma semana depois os amantes mantinham uma proximidade não recomendada pelo bom senso; as conversas eram carregadas de intimidade, rolavam carícias e beijos furtivos, todavia, os amassos rápidos já não satisfaziam e ainda aumentavam o desejo. Esperavam ansiosos a oportunidade de transarem novamente.

Durante os momentos de cumplicidade e romance às escondidas, ela revelou que tinha conhecimento a respeito das viagens comerciais de seu marido, eram negócios escusos envolvendo políticos em sua maioria. Ela também desconfiava que entre um trabalho e outro rolava muita putaria sigilosa praticada apenas com a elite dos seus amigos pervertidos, e com a participação de muitas prostitutas, evidente.

O segurança ficou interessado nos negócios escusos, mas ela não tinha os detalhes das falcatruas do empresário, mas tinha a certeza de ter milhões em dinheiro envolvidos na história.


Em mais uma noite de confidências após uns drinks, a patroa falou sobre uma viagem do empresário para a cidade de Campinas. Dessa vez, devido às circunstâncias, ela estava animada com a futura ausência do seu companheiro, teria a possibilidade de ficar com o amante. Disse ter ouvido o esposo conversando com um colega de negócios à beira da piscina, sem notarem a sua presença. Tratava-se de uma soma alta em dólares que ele entregaria pessoalmente a um político.


Tenório, após extrair tudo o que a mulher sabia, investigou sobre o assunto e ficou a par dos detalhes da viagem do patrão. Seria sua chance de fazer um bom pé de meia caso desse um golpe no milionário e metesse a mão na grana. Precisaria conseguir um ou dois comparsas descartáveis, pois não tinha a intenção de dividir o dinheiro e nem pretendia deixar testemunhas ou provas para incriminá-lo.

Após tomar posse do dinheiro e dar um fim nos comparsas, voltaria normalmente à casa do industrial e faria seu trabalho por um período suficiente para não levantar suspeitas. Posteriormente sairia do emprego e do estado carregando consigo o produto do roubo.


Tempo presente, pós-furto do Audi


O plano do Nordestino obteve um sucesso parcial. Logo após fugir com o dinheiro e ocultá-lo, Tenório continuou trabalhando como segurança na residência do industrial e manteve sua relação íntima com a patroa, porém, o desfecho do negócio em Campinas não havia saído como planejou, o concierge e a garota continuavam vivos e, mesmo os dois não tendo conhecimento de como localizá-lo, seriam um perigo constante. Precisaria aparar as arestas antes que fosse tarde demais.


Confissões e desejos


Enquanto isso, em outra região da metrópole paulistana


Seis dias após chegarem a São Paulo, Jessie e Pedro Miguel ainda estavam instalados no mesmo motel. Talvez fosse pelo último dia, esperavam uma resposta a respeito de uma quitinete situada nas proximidades.

Aquela semana foi de conversas e revelações, também de adaptação no convívio de jovens de ritmos de vida tão diferentes. O plano inicial era continuarem juntos enquanto ela estivesse se recuperando. Apesar da constante preocupação do rapaz, temia ser morto só porque foi humanitário e ajudou uma moça acidentada, no entanto, não estava arrependido de sua atual situação, curtia aquele momento inusitado em sua vida, o convívio diário com Jessie e a troca de experiências com uma pessoa de um mundo até então distante do seu era gratificante. Ainda tinha a melhor parte, a visão de um corpo feminino, delicado e excitante. Apreciar sua beleza jovial já era um sonho, mas poder tocar sua pele macia e sentir seu perfume natural enquanto a ajudava com seus ferimentos, isso era impagável. Assim como magia pura era deslizar seus dedos nas costas nuas, chegando próximo aos seios firmes parecidos com duas peras graúdas. Quanta loucura e desejos sacanas invadiram a mente do rapaz durante o trabalho. Disfarçar sua ereção tornou-se cada vez mais difícil.

Quanto a garota, era fria na maioria do tempo, mantinha sob controle seus instintos sexuais, mas gostava de se sentir desejada e curtia os momentos quando era necessário expor sua nudez para a troca de curativos. Ela não fazia isso de forma proposital, mas adorava vê-lo encabulado a observando e controlando seus impulsos ao executar a incumbência. O toque masculino em sua pele durante a aplicação de uma pomada, era de deleite e arrepios, a moça segurava sua onda não se permitindo entrar em um lance de erotismo, e muito menos em um caso amoroso, mesmo porque ainda estava se recuperando dos ferimentos em suas partes íntimas. Seu "enfermeiro" a respeitava como mulher, assim como a situação de enfermidade da jovem. Mas estava cada vez mais difícil não avançar o sinal e acariciar as regiões ainda não exploradas daquele corpo sedutor.


As situações de intimidade extrema só aumentavam o desejo do casal, e certa noite, devido a sua fragilidade momentânea, Jessie deixou-se prender por um olhar carregado de volúpia. Rolou um clima e a proximidade dos rostos era o convite para um beijo, ela entreabriu os lábios o convidando e ele não exitou… o beijo foi longo, carinhoso e com o desejo de ir além. Porém, ela se afastou e falou friamente:

— Obrigada pela ajuda, vou dormir. — E sobre o ocorrido, se voltar a acontecer, será hora de dizermos adeus um para o outro 

O rapaz não ficou frustrado e nem preocupado, o ocorrido era um começo, além de ter sido um prêmio por sua paciência. Saberia esperar pela próxima oportunidade. Provavelmente não demoraria para a sessão de enfermagem se transformar em relação sexual.


No dia seguinte, eles não tocaram no assunto, a conversa girou em torno de um passado mais distante. Ele já havia revelado quase tudo sobre sua vida em Fortaleza, inclusive de ter assassinado o seu padrasto. Depois se apoderou dos documentos do seu irmão chacinado, assumindo assim sua identidade. Caio César era o seu nome verdadeiro, contudo, deixou de existir após o crime e Pedro Miguel renasceu nele.

— E como eu te chamo agora? — de Pedro ou Caio?

— Melhor me chamar de Pedro, o Caio é foragido da justiça.

— Mas o Pedro também é — tá feio o bagulho pro seu lado, hein mano? — falou a moça brincando com a situação.

Ele continuou falando sobre o irmão que era só um ano mais velho. Ambos tinham alguma semelhança física, ademais, a identidade era de quatro anos atrás, a diferença entre sua aparência atual e a do garoto na foto seriam justificáveis.

Jessie, por sua vez, não pretendia revisitar acontecimentos extremamente complicados de seu passado. Seria condenada por todos, supôs.

— Eu fiz coisas horríveis e não quero reviver os momentos ruins.

Ela o deixaria saber apenas sobre suas atividades dos últimos dois anos e seus planos imediatos. Começou contando sobre seu relacionamento com o parceiro, funcionário do hotel, disse que ele seria o primeiro em sua lista negra, Maciel o seu nome.

"Nos conhecemos em Camboriú-SC, ele percebeu meu golpe aplicado nos clientes, geralmente turistas de uma choperia onde ele era gerente na época. Não era nada que rendesse muito dinheiro. Eu assediava os quarentões de aparência distinta, levava para um canto discreto do estabelecimento e quando eu já estava sem calcinha e o cara, de pau de fora, a ponto de me penetrar encostada atrás de uma coluna ou um carro, mentia ser filha do delegado, depois mostrava a minha identidade falsa de menor de idade e pedia uma grana. O valor variava conforme a minha avaliação do sujeito. O ameaçava dizendo:

— Caso não pague, farei um escândalo o acusando de assediar menor de idade.

E realmente começava um barraco quando o cara se recusava a pagar, ou se ficava violento.

Também acontecia de um sujeito ou outro ficar em uma fissura tão grande a ponto de me oferecer uma grana irrecusável para, pelo menos, ter um boquete. Claro que nós chegávamos a um acordo, afinal, negócios são negócios.

Após conseguir uma boa grana, seja por chantagem ou pelo boquete, dava um perdido e só voltava naquele estabelecimento alguns dias depois. Além da diversão, conseguia o suficiente para minhas despesas do dia a dia.”

— O Maciel chegou em mim certo dia — continuou Jessie a relatar — disse que eu tinha talento especial e poderíamos ganhar alguns milhares de reais em outro lugar. Senti firmeza nele. Depois de um bom papo e um acordo, partimos para Campinas, lá ele tinha aliados e os lugares certos para os nossos golpes.

Sem rodeios ela explicou para o Pedro os detalhes do esquema do “Boa noite, Cinderela”. Depois deixou claro, mais uma vez, da ilegalidade do dinheiro que pagava as suas contas.

— São os frutos desses golpes que nos manterão por mais algum tempo — falou a moça sem nenhum constrangimento.


Continua…



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