sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Parte 3 - Manhã de Tortura

Estava processando o fato de ter transado com um defunto, foram míseros segundos, ainda assim a parada foi punk pra caramba. O pior era o cadáver na cama, precisava me afastar daquele lugar quanto antes. Liguei para o Maciel (o concierge) e falei sobre o cara morto. Ele não acreditou, alegou ser o efeito das drogas e o homem estaria apenas desmaiado com suas funções vitais reduzidas. Pediu para eu examinar melhor o sujeito.

Era sinistro olhar para aquele rosto fúnebre de olhos arregalados, mas era preciso examinar se o coração batia… "Nem um 'Tum'. Esse cara já era." Falei comigo mesma.

— Ele também não respira e o corpo está duro, foi difícil sair debaixo dele — falei para o Maciel — O cara tá morto, porra, vou me mandar!

Ele respondeu em tom de ameaça para eu agir conforme o combinado, pois o parceiro dele não perdoaria minha falha e aquele poderia ser meu último trabalho. Fiquei com medo, senti firmeza nas palavras dele. Fui juntando tudo que me mandava pegar: chaves, controle remoto, ticket do estacionamento e os documentos do veículo. A meu critério também peguei toda a grana e tudo mais aparentando ser ouro ou joia em poder do morto. Já havia me envolvido até o pescoço naquela treta, então dei um foda-se.


Minutos depois encontrei com eles num carro em uma rua próxima, e entreguei apenas os itens solicitados. Fui surpreendida com uma mudança de planos; seria necessário acompanhá-los até um estacionamento situado ali mesmo no centro de Campinas. Segundo eles, precisavam de mim para conduzir um dos carros.

“Isso está ficando complexo e estranho demais.” Pensei, depois recusei. Porém, a minha recusa não foi aceita e ainda fui ameaçada veladamente.

— Nós temos as imagens de uma garota de programa entrando e saindo do quarto do nosso empresário defunto. Poderíamos conseguir um bom dinheiro com elas.

— Filhos da puta! — falei com raiva.

Apesar do uso de um disfarce, eu poderia ser identificada e localizada por policiais da banda pobre da corporação.

Também usaram a tática de instigar o meu interesse com um incentivo financeiro. Receberia mais vinte mil reais, além de ficar com os valores retirados do quarto. Permaneci calada e pensando enquanto ouvia o “chefe”.

— Você só precisa retirar o carro do nosso amigo lá do estacionamento — disse o cara estranho — tem todo o necessário aqui — concluiu ele me entregando o ticket, chave com controle e documentos.

— Na verdade, eu vou roubar o Audi do falecido, né?

— É um empréstimo, precisamos temporariamente do veículo — disse o meu parceiro.

O valor para fazer o negócio era tentador, mas meu anjinho do bem me aconselhou a desistir da grana, pois estaria entrando em um ninho de serpentes. Meu anjinho do mal dizia para aceitar, teria o suficiente para sair de circulação da cidade e começar em outro lugar.

Seria o caos ter um vídeo circulando ligando-me àquela morte. Por outro lado, estava achando o lance arriscado demais e até renunciaria a tudo só para sair de mais uma roubada.

Discretamente o desconhecido sinistro, vestido inteiramente de preto, inclusive de óculos escuros, levantou a camisa exibindo um revólver e falou de forma pausada, todavia ameaçadora:

— Colabore e continuaremos todos unidos e vivos.

Gelei, o cara pardo, aparentando ser nordestino do sertão, era muito frio, de jeitão cruel e desprovido de emoções. Pela expressão do meu parceiro, entendi o quanto bandidão era o desconhecido. Então seria prudente minha colaboração, ou não viveria para contar a história.

Que merda! Pensei pesarosa, havia me metido na pior roubada da minha vida. Não era nada garantido continuar viva mesmo após atender o pedido do cara. Tentaria ganhar tempo enquanto pensava em alguma saída.


Chegamos ao estacionamento, entrei sozinha me apresentando como filha do industrial. Após entregar o ticket e mostrar os documentos do Audi, paguei pela estadia e sai dirigindo sob os olhares e comentários irônicos dos dois funcionários:

— Filha o cacete, o coroa é chegado em uma novinha. — deu para ler nos lábios do manobrista, murmurando para o colega ao lado.

Ao atravessar o portão do estacionamento, pensei em sair rasgando para fugir do Maciel e seu comparsa. Abandonaria o carro em algum lugar e só depois avisaria os caras dando a localização. Era uma tentativa desesperada para escapar daquela cilada. A seguir desapareceria da cidade.

Saí à direita e não deu tempo para nada, pois alguns metros à frente, na esquina, fui fechada por um Honda Civic bloqueando a minha passagem. Os dois homens desceram do veículo e entraram no Audi, o cara sentou ao meu lado e o Maciel atrás.

— Bom trabalho — disse o estranho.

Na sequência fui dominada e dopada pelos dois, um lenço embebido com formol foi colocado em meu rosto.


O nordestino conduziu o Audi com a garota inconsciente no banco do passageiro e o concierge foi dirigindo o Honda. Seguiram pela estrada até saírem da área urbana da cidade, pararam e fizeram a troca: a garota foi colocada no banco de trás do Audi roubado e duas malas foram tiradas do bagageiro do mesmo e transferidas para o porta-malas do Honda, que passou a ser pilotado pelo homem de preto. Ele acelerou estrada afora em direção à Cidade Universitária, seguido de perto pelo Maciel no veículo roubado. Os homens haviam planejado afundar o Audi numa lagoa situada mais adiante, e com a moça dentro.

Eles só não contavam com um imprevisto surgindo em um trecho do caminho, atrapalhando imensamente os planos dos comparsas. Foram surpreendidos por uma blitz da polícia militar. Todos os carros estavam sendo obrigados a parar para verificação. O homem de preto reduziu a marcha ao se aproximar e fez menção de parar ao receber o sinal do policial, mas quando estava a menos de dez metros ele aumentou o torque acelerando, cantou os pneus e saiu no gás passando pelo comando. O Maciel vinha no vácuo e sabia que ia se foder se parasse o carro roubado, ainda mais com uma moça inconsciente em seu interior. Seu reflexo foi mais lento, mas também acelerou para fugir do flagrante. Os policiais atiraram acertando o segundo veículo em tentativa de fuga. Um dos tiros atingiu o ombro direito do Maciel fazendo ele perder ligeiramente o controle da máquina, mas conseguiu estabilizar e seguiu em alta velocidade.

Mesmo ferido ele levava uma vantagem por já estar em movimento quando furou o bloqueio, e também por ter uma boa dianteira e uma máquina superior ao dos policiais saindo com atraso em sua perseguição.


Alguns quilômetros à frente os homens da lei encontraram o Audi, havia saído da estrada e batido em uma árvore. No interior do carro acidentado havia uma moça desacordada e sem ferimentos aparentes.


***


Acordei somente algumas horas mais tarde com a sensação de estar me afogando, em razão do balde d’água jogado sobre mim. Estava nua e amarrada numa cadeira.

Meu coração quase parou ao levantar o olhar e ver em pé diante de mim o mesmo homem falecido em meus braços no hotel, ainda vivo e com expressão de ódio. Achei tudo aquilo muito bizarro, era um fantasma ou estava tendo um pesadelo? Só desejei acordar logo, mas infelizmente descobri não se tratar de um sonho, vivia um drama real, confuso e dolorido.


O homem não havia morrido, ele sofreu um ataque de catalepsia patológica e "reviveu" horas depois.

Fui torturada com tapas no rosto e agressões pelo meu corpo todo. Enquanto era humilhada tentei convencê-los repetindo um monte de vezes que não conhecia o outro cara e tinha uma parceria somente com o concierge.

— Fui usada e enganada por eles para aplicar o golpe e levar seus pertences do quarto, mas algo deu errado — expliquei falando com dificuldade devido aos ferimentos em minha boca e rosto.

— Você morreu durante a nossa transa, foi seu coração, né?

Levei mais porradas. Havia imagens do estacionamento me identificando como a ladra do Audi, exigiu a localização do seu dinheiro retirado do porta-malas.

Jurei em prantos ter sido ameaçada de morte pelos bandidos para retirar o Audi, e não tinha ideia do que se tratava ou do conteúdo no interior do carro. Ao sair do estacionamento fui fechada por outro veículo na primeira esquina, os dois homens entraram e de imediato fui dominada, dopada e apaguei. Só acordei agora e não fiquei com nada do trabalho.

Fui ironizada ao chamar o golpe de trabalho. Os homens cruéis continuaram me torturando, insistiam em saber para onde eu iria com os meus comparsas. Eu não tinha a menor ideia, já havia confessado tudo em detalhes sobre o golpe e sobre os canalhas traidores. Revelei até meu nome verdadeiro. Mencionei um lugar onde eles poderiam encontrar o Maciel (o concierge), não tinha o endereço, pois era uma área rural fora da cidade, mas eu os levaria até lá.


Jessie (a golpista) não fazia ideia, mas a roubada em que havia se metido era muito maior do que imaginava: envolvia crimes do colarinho branco e policiais bandidos. A vida humana de nada valia para essa gente, somente o poder e o dinheiro significavam algo.


Durante a fuga, na noite anterior, o Maciel sentiu cada vez mais o ferimento no ombro. Quilômetros adiante perdeu por completo o controle do veículo, saiu da estrada e bateu em uma árvore. O carro ficou sem condições de rodar. Ele fugiu do local se embrenhando na vegetação de um parque, pois seu comparsa não estava mais à vista e a polícia chegaria logo.

Quando os policiais encontraram o Audi com a garota dentro, o oficial trocou mensagens via celular com algum superior. Minutos após chegou um carro com os seguranças do industrial e levaram a moça golpista. Um guincho levou o veículo batido.


O terror físico e psicológico contra a moça teve uma pequena pausa quando o industrial pediu silêncio para atender seu celular, falou rapidamente a respeito de uma reunião onde ele se explicaria sobre o atraso em uma entrega e desligou.


Antes do ex-morto sair, ele pediu para os três brutamontes arrancarem de mim as informações necessárias e saírem na sequência no encalço dos outros caras.

Os monstros gostavam daquele trabalho sujo, demonstraram prazer e nenhuma empatia quando continuaram me humilhando e agredindo sem piedade. E piorou.

— Essa puta é muito gostosinha — disse um dos carrascos.

— Vamos dar um trato legal nela — falou sadicamente outro, com a concordância do terceiro brutamontes que me agarrou e fui colocada de bruços sobre uma mesa.

O bandido pegou nas bochechas da minha bunda expondo meu ânus.

— Porra! Olha só esse cuzinho apertadinho, parceiro! — Vou arregaçar — falou com uma sordidez que fiquei morrendo de medo.


Os três monstros se revezaram e me estupraram cruelmente sem a preocupação de usarem preservativos. Meu choro e gritos não sensibilizaram os três animais que me feriram e despejaram um absurdo de porra em minhas entranhas.


Após terem judiado muito de mim, rasgando e sangrando minha boceta e ânus, saíram comigo a caminho de um utilitário. Com as minhas informações eles iriam atrás do Maciel e também do dinheiro que eu nem tinha o menor conhecimento.


Continua…



2 comentários:

  1. Muito louca essa historia. Apaixonante.

    ResponderExcluir
  2. Esta série também é uma surpresa a cada capítulo, as cenas foram acontecendo sem eu ter planejado. gostei muito do resultado. Grata pela atenção, beijo!

    ResponderExcluir