domingo, 24 de março de 2024

Um Padrasto Sério Demais

Durante meu período de recuperação física, após meu aborto espontâneo, sobrou um tempinho para refletir e traçar uma linha do tempo de quando ainda éramos uma família de três.

Cheguei à conclusão que seu Flávio e eu demos muito trabalho para a dona Helena durante muito tempo. Tadinha da mamãe!

Com certeza os momentos memoráveis se destacaram ofuscando os de tédio e monotonia, que foram quase inexistentes. Sempre acontecia algo interessante ou alguma treta para preencher o vazio. Diariamente, tentava sem êxito, controlar meu fascínio pelo proibido e a minha necessidade de estímulos sexuais. Passava boa parte do meu tempo à procura de oportunidades de vivenciar minhas fantasias eróticas.

Felizes eram meus dias quando papai aprontava alguma e a mamãe o evitava mandando ele dormir na sala. A atitude dela tornava tudo mais fácil para o sacana. Nessas noites conseguia doses cavalares do meu remédio para não pirar. O sexo praticado com ele tarde da noite, era o que ainda mantinha sob controle o meu nível de ansiedade. Perdi a conta das vezes em que o sino da igreja do bairro badalou seis da manhã e o homem ainda estava nu na minha cama, de conchinha comigo, e com pelo menos uma camisinha cheia de porra sobre meu criado mudo. Por vezes, o seu líquido ainda estava em meu ânus.

Após acordarmos assustados, ele se vestia a jato, recolhia os vestígios e saia de fininho corredor afora.


Desde a separação dos meus pais, em pelo menos dois anos concordei em fazer a terapia recomendada pelo ministério público, ainda assim não consegui controlar o meu desejo de praticar relações sexuais fora dos padrões considerados aceitos por essa sociedade hipócrita. A adrenalina de situações com pessoas proibidas torna o sexo prazeroso demais, assim como meu entusiasmo por transas em lugares incomuns.

Outro complicador é minha propensão de falar sobre assuntos íntimos em momentos inadequados. Acabo deixando as pessoas sérias constrangidas, os normais com falsas expectativas, e os devassos em ponto de bala e encorajados a praticarem uma aventura perigosa comigo.


Não herdei isso da minha mãe, a dona Helena é tranquila, até conseguiu zerar suas relações íntimas durante o isolamento em razão da Covid-19. Ela só voltou a namorar no final de 2022, na mesma época quando comecei a fazer secretamente o trabalho de massagem erótica.


— Acorda, Nicole, vamos votar! 

Ainda eram sete e pouco da manhã do domingo quando mamãe me tirou da cama. Ela queria votar cedinho porque seu namorado viria para almoçar conosco.

Depois da ducha vesti uma calcinha vermelha e um macaquinho da mesma cor. Comprei especialmente para votar pela primeira vez. 


Pouco mais tarde, após retornar ao lar, enquanto fazia sala para o homem com idade acima a do meu pai, iniciei um papo somente para descontrair ao notar o cara tão retraído. 

— Seu Gabriel? Você gosta de tatuagens?

— Dificilmente faria uma, Nicole, ainda assim aprecio em pessoas que fazem desenhos discretos. 

— Fiz uma tattoo esta semana, é bem discreta. 

— Que tipo é?

— Na verdade, eu não sei explicar, tem a ver com pirâmide, esfinge.

— Posso ver para tentar decifrar o enigma? — disse ele e sorriu respeitosamente.

— Hum? Poder, pode. E gostaria muito de mostrar. Mas é embaçado ficar pelada aqui na sala, pois só assim você conseguiria ver.

— Menina, para com isso!


Continuava com os mesmos dois trajes vestidos pela manhã: o macaquinho e a calcinha, pois raramente uso sutiã.

Não comentei nada sobre minha tattoo ser na virilha, mas pela reação do homem sério, ficou evidente ter entendido tratar-se de uma zona íntima. 

O homem educado voltou a ficar calado, talvez preocupado com a possibilidade da mamãe ouvir nossa conversa.

Percebi seu medo e receio demasiado. Levantei dizendo que iria ajudar com o almoço e não brinquei mais com ele no decorrer do dia. 


Lá pelas dezoito e pouco, o tiozão se despediu da minha mãe. Deixei ele em saia justa ao pedir uma carona para ir à casa de uma amiga.

O coroa me deu a carona, mas duvido que teria dado se tivesse como justificar a negativa para a dona Helena. Meu lado moleca irreverente deve ter perturbado o homem tímido e respeitador.


Durante o trajeto a conversa foi sobre o clima, também da minha alegria pelo meu primeiro voto. A seguir entrei em um campo mais escorregadio:

— Seu Gabriel, você já ouviu falar sobre massagem erótica?

— Já, mas suponho ser apenas um disfarce para a prática de prostituição. 

— Por quê? Não é só uma massagem feita ao esfregar o corpo lubrificado no corpo do cliente?

— É muito mais, já que há o contato íntimo dos corpos nus e carícias nas partes genitais propiciando o orgasmo. 

— Aff, olha! O modo como falou me deixou excitadinha — falei apontando para meus mamilos inchados, super evidentes sob a blusa de seda — Isso deve ser muito louco. Você já fez?

— Não, magina! Mas já li a respeito — disse ele todo sem graça, após desviar o olhar do meu peito. 

— Deve ser tão gostoso como abraçar alguém ensaboado no banho, né? — falei mirando o homem com a minha melhor carinha de safada. 

Ele não respondeu e parou o carro. Havíamos chegado onde eu ficaria.

Agradeci a carona e dei tchau deixando o homem com o pau duro.

A seriedade desse coroa não passa de fachada, na primeira oportunidade ele vai tentar me comer, pode apostar. 


Por ora, é isso, beijos!

Contarei mais depois.


Será que minha mãe contou pra ele sobre o dia que pegou papai e eu "lutando" nus com os corpos ensaboados? Pensei. ^^


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