sexta-feira, 1 de março de 2019

Parte 9 – Orgia na Masmorra

Jessie olhou nos fundos dos olhos do Pedro, aguardava a resposta se continuariam juntos nessa empreitada de vingança concebida pela moça indignada. Ele parecia estar processando os prós e os contras quando foi interpelado novamente.

— Então, você me acompanha nessa parada ou não?

— Esquece essa vingança, Jessie, os caras são bandidos e cheios da grana… Vamos pra longe, onde não achem a gente.

— A única maneira de ficarmos livres dos filhos das putas é nos anteciparmos e acabarmos com a raça deles antes de nos pegarem.

— Seria a solução, mas não dá para brigar com essa gente só com a vontade, é preciso um plano e armas.

— Eu sei como conseguir armas e tenho um plano para pegar o Maciel, estou contando com sua ajuda. 

Pedro continuou pensativo, a garota o surpreendia a cada dia. Ele sentia-se impotente diante da determinação e estilo de vida dela, contudo, aquilo só o atraía mais. Ele não a deixaria ir sozinha, estava apaixonado e tencionava protegê-la, todavia, não queria demonstrar seus sentimentos amorosos, não de imediato. Entrou no clima de comparsa e demonstrou firmeza.

— Tá legal, e onde você conseguirá as armas?

— Vou falar com o cara de bigode e rabo de cavalo que não sai do boteco ali da esquina. Ele vende drogas, essa gente sabe onde conseguir essas paradas.

— Como você sabe que ele vende drogas?

— Tá na cara né! — O tipo passa muito tempo ali sem consumir nada e muita gente fala com ele rapidão e sai fora?

— Não percebi, também não prestei atenção nele.

Jessie também não, porém, o cara de bigode a abordou um dia quando ela estava sozinha comprando uma bebida, ele lhe ofereceu um baseado de graça dizendo ser uma cortesia para uma mina tão gata. Ela agradeceu e recusou dizendo: “Hoje não estou a fim, talvez outro dia”. Ela não havia contado isso para o Pedro, pois só o deixaria bolado.

— Talvez eu esteja enganada sobre o cara. Vou sondar com cuidado para ver se rola.

— E você manja de armas? — perguntou o rapaz.

— Não, mas não deve ter segredo, né? É só segurar firme, mirar e puxar o gatilho.

— Em tese é isso, mas eu perguntei se conhece tipos de armas, para poder comprar algo apropriado.

— Você manja? — quis saber Jessie.

— Quase nada.

— Então vamos fazer uma pesquisa na Internet para ver tipos e preços antes de eu ir atrás.


Uma hora e meia mais tarde, após alguma leitura e alguns vídeos assistidos no YouTube, nós já éramos quase especialistas em armas. Fiquei inclinada a comprar ou uma (9mm) ou uma (.40).


No final da tarde, Jessie foi sozinha procurar o cara no boteco. Depois de um papo rápido, ela pediu quatro "balas" (porções de erva), colocou na mesa o valor a ser pago pela droga, e uma nota de cem reais a mais. Pôs a mão em cima e disse:

— Preciso comprar uma arma, se souber me dizer onde e com quem, te dou mais duas dessas após concluir a parada. Se não sabe, deixa quieto e pega só a grana das balas.

— Eu digo onde, é na "Masmorra", fica lá em cima na água dourada. — Manda mais cem, então direi com quem.

Tirei uma das duas notas já deixadas separadas dentro do meu sutiã e a empurrei para ele ainda dobrada. Ele pegou, fechou a mão e falou:

— Chega lá de noite e se oferece para trabalhar na casa, pede pra falar com o Salomé, ele é o cara; além de cafetão das meninas é também o dono do pedaço. Daí é com você, troca umas ideias de boa. E já vai com a grana.

— Quanto de grana?

— Uns três contos se quiser um cano de responsa. — Não vacila, se desconfiarem que você é cana ou X9, vai sair de lá em um saco de lixo e te desovam no mato. — E traz os meus outros duzentos quando conseguir o ferro.


Passava um pouco das dez da noite, o som de saltos altos durante passadas lentas sobressaiam no quarteirão ermo. O olhar de Jessie era o de uma águia à espreita, estava quase defronte à "Masmorra", um inferninho de quinta categoria com prostituição a preço econômico, drogas, jogos de cartas a dinheiro e, evidentemente, muita bebida. A "festa" rolava todos os dias até de manhã. Jessie estava caracterizada como uma das garotas que ganhava a vida, ou às vezes perecia trabalhando no antro ilegal. Ela trajava um vestido tão curto quanto a jaquetinha jeans, salto alto e maquiagem exagerada. Adentrou o estabelecimento e pediu uma tequila pro balconista. Pagou ao ser servida e discretamente perguntou pelo Salomé.

O cara apontou o dedo para um grandalhão dizendo para falar com ele. Tomou sua bebida em um só gole e atravessou o salãozinho passando ao lado de uma mesa de sinuca. Ouviu gracinhas e convites sem perder o bom humor e simpatia. Recusou a todos com um sorriso e chegou ao homem bloqueando literalmente a passagem para uma escada de acesso ao piso superior.

— É você o Salomé?

Ele deu um sorriso irônico, a seguir fechou a cara e aumentou ainda mais o meu medo. Começou um interrogatório sobre quem eu era, o que estava fazendo ali, como soube do lugar, etc.

Depois das minhas respostas ele ligou do seu celular comentando a meu respeito com o seu interlocutor, abraçou-me pela cintura virando o meu corpo em direção a uma câmera de vigilância em uma parede.

Por fim disse que o Salomé me receberia.

— Está lá em cima no poker — vem comigo!

Fui levada até uma sala onde a gente mal conseguia respirar por conta do excesso de fumaça de cigarro comum além do cigarrinho do capeta. O cheirão do fumo, misturado ao de homens necessitando de um banho e do cheiro de bebidas, tornava cruel demais a permanência dos não acostumados, porém, já estava adaptada a estes odores, são os ossos do ofício.

— Chefe! Tá aqui a patricinha — berrou o fortão.

A mulher mais alta já vista em minha vida, levantou-se de um assento ao redor de uma mesa onde estava com mais cinco homens e disse:

— Chega aí safadinha! 

Eita! Não era uma mulher, era um travesti de quase dois metros de altura e com cara de mau… Ou má.

— E aí, novinha, você quer fazer parte da família? — Hum! Você é mesmo tipo patricinha, a gente poderia arrumar umas paradas VIP e faturar uns trocos a mais com esse corpinho.

— Desculpe, na verdade, eu vim tratar de outra parada — poderia falar a sós com você?

Salomé deu uma gargalhada seguida pelos outros puxas sacos.

— Não tem segredos entre irmãos, ou desembucha logo ou se manda, novinha, está atrapalhando nosso jogo.

Comentei sobre a necessidade de comprar uma arma, fui jurada de morte e precisava ter algo para me defender.

— Tem muita gente atrás de um cano, precisa entrar na fila.

— Quanto tempo seria?

— Como eu não te conheço, uns três meses.

Novas gargalhadas dos cretinos.

— Mas eu posso colocar você como primeira da fila se topar participar de um jogo com a gente.

— Qual tipo de jogo?

— De cartas, Blackjack 21, aqui nós chamamos de 21 Suruba. — Ganhando ou perdendo no jogo, você vai para o topo da lista e leva o seu berro.

— E vocês apostam muito alto?

— Não, seria só o conteúdo aí com você, nada mais.

Ao falar “conteúdo”, fez um movimento circular com o dedo apontando para mim. Não entendi nada hora.

Eu havia levado em torno de uns três mil para comprar a arma, se perdesse tudo, paciência, iria para casa buscar mais grana, o importante era a arma.

— Tá dentro?

— Estou.

— Então senta aí, vou lembrar a todos quais são as regras.


Regras do 21 Suruba:

Jessie e os seis caras da mesa jogariam o Blackjack 21 usando todas as cartas de apenas um baralho, sendo que o A (Ás) valia 1, todas as figuras valiam 10, e as outras cartas o número marcado.

Ela compraria primeiro e, caso fizesse 21, ganharia e a brincadeira acabava, pois a vantagem do empate seria dela. Se estourasse, seria obrigada a transar com todos os seis caras, inclusive o travesti gigante. Era esse o valor da aposta, o “conteúdo” carregado por ela era o seu corpo. A jovem não ganharia nada, na verdade, a não ser a oportunidade de comprar a arma de imediato. Era necessário vencer a todos para não ser abusada pelos canalhas.


Definitivamente cai em um golpe, e até cogitei sair do jogo, mas havia dito que estava dentro e ouvi o alerta:

— A palavra aqui na Masmorra é a lei, e o bicho pega pra quem não cumpre o acordo — falou o dono do pedaço em tom ameaçador.

Ela recordou da conversa com o cara no bar, e sobre sair em um saco preto. Coube a ela resignar-se para ainda estar viva ao deixar o lugar.


Mais sobre as regras: se ela parasse com menos de 21, manteria suas duas cartas iniciais escondidas e os outros jogariam. Participaria da suruba quem fizesse mais pontos que ela, e se não estourasse, óbvio.


Salomé embaralhou, mandou ela cortar e ele deu duas cartas para cada. A garota pegou as suas com cuidado, uma sobre a outra, segurando com as duas mãos bem pertinho do rosto, afastou a de baixo o suficiente para ver… Fez cara de satisfeita, deu um sorriso e não queria mais cartas, informou.

Houve um murmurinho entre a turma do mal, haviam expressões de desânimo misturado com revolta, pelo visto, seria preciso fazer 21 para ganhar e participar do bacanal, pensaram alguns 

— O jogo é jogado gente, bora jogar — falou o chefe.

Os caras foram comprando cartas e tentando o 21. Um deles com cara de perturbado tipo usuário de coisas pesadas, saiu com 20 e ainda assim tentou um ás. Ficou muito puto quando veio um 2, era o quarto a estourar. Só restavam dois jogadores, e eram dois monstros.

O quinto cara, tipo segurança de boate, um negão com mais de um metro e oitenta e uns 130 quilos de músculos e alguma banha, não quis comprar, tentaria a sorte, disse confiante. Alguns dos jogadores eliminados fizeram piada dizendo que não haveria disputa de pênaltis em caso de empate. Ele estaria fora e não ia cheirar a piriquita novinha. O fortão continuou tranquilo e sem expressar emoção.

— Vou comprar — disse o Salomé, e até virou suas cartas, Q e A. Clamou pela torcida dos outros.

"Fodeu", pensei, e torci muito para não vir um 10 ou figura.

Felizmente ele comprou um 7, fiquei aliviada, com 18 ele não ganharia de mim. Ele deve ter deduzido isso ao esfregar as mãos e se energizar para tirar outra carta.

Puta que pariu! Veio um 2 e o alarido foi geral. Segundo o pensamento da maioria, com 20 ele empatava em pontos comigo, e não ganharia a disputa, e tirar um ás seria difícil demais, em razão de já ter saído dois dos quatro ases disponíveis. Temi pela sua decisão, “ele não pode parar”, pensei.

 O tipo astuto olhou diretamente em meus olhos e disse:

— Parei, quero ver suas cartas.

Gelei grandão e não consegui fazer "cara de poker", ou seja, não expressar emoção. Com desânimo virei minhas cartas, ao mesmo tempo, virou o outro jogador. Eu tinha apenas um 10 e 8, o fortão peso-pesado parou com um J e 9. Ele deu uma gargalhada assustadora e disse que tinha certeza do meu blefe.

Anteriormente, um dos perdedores havia saído com 20 e ainda assim tentou a sorte e estourou, o sujeito ficou possesso ao ver minhas cartas, começou a me ofender e queria partir para cima de mim. O cara fortão o segurou e o Salomé deu-lhe uma dura por ser um mal perdedor, falou firme impondo sua autoridade de líder e mandou o perturbado sair da masmorra.


Restou-me aceitar a derrota e relaxar ao máximo para suportar a pena. Fui levada a um quartinho onde nua e lubrificada por muito gel íntimo, encarei os dois gigantes. Os seus membros eram tão desproporcionais quanto, felizmente foi um de cada vez. Contudo, os tarados se entupiram de energéticos e me deram bombadas por boa parte da noite.

Após a pegada punk eu ficaria novamente em recuperação por alguns dias à base de banhos de assento. Pelo menos consegui a arma, uma pistola (.40) com a numeração raspada, segundo o Salomé, e ainda três carregadores. Daria para começar uma guerra.


Continua…




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