segunda-feira, 18 de março de 2019

Parte 14 – Nitroglicerina na Rede

Passava do meio-dia de segunda-feira quando Pedro e Jessie acordaram em um motel de periferia, nus e abraçados, ela em posição relaxada com a cabeça repousando no peito dele. A sensação de esgotamento não foi devido a transa estendida até de madrugada, o desgaste físico e emocional resultou do esforço despendido pela jornada em busca de vingança e a luta pela sobrevivência travada contra seus inimigos.

Jessie levantou pronta para continuar a batalha. O Pedro, esparramado na cama, se encantava admirando a nudez do corpo jovial defronte dele. A garota letal e de atitudes frias às vezes, era feminina e de gestos graciosos na maioria do tempo. Ajeitava os cabelos fazendo um coque enquanto explicava a divisão das tarefas para o novo dia.


Após tomarem o desjejum, o Pedro foi ao centro da cidade, no largo do Paissandú. Na praça acontece uma "feirinha do rolo" onde se vende produtos contrabandeados e também furtados em sua maioria. A feira ilegal existe há anos, mas parece não incomodar as autoridades; funciona a menos de vinte metros de uma base móvel da polícia militar. Ele circulou entre garotas na batalha diária de vender sexo por míseros reais, também entre "comerciantes autônomos" vendendo eletrônicos, acessórios, roupas e tênis usados retirados à força de vítimas de roubos.

Não demorou e ele foi abordado por um cara lhe oferecendo um celular de última geração pelo valor de R$100. Após uma negociação ele testou o bagulho e pagou R$50 pelo aparelho.


Em Santa Catarina

A Polícia Técnico-Científica havia identificado um dos corpos queimados na casa em Itapema como sendo de Maciel Neri Messina, filho de Inês Messina, proprietária da casa. As autoridades informaram que não foi possível identificar a segunda vítima. Isso não era verdade, os técnicos identificaram o outro cadáver: Tenório Evangelista Bastos, policial demitido em SP, no entanto, foram ordenados pelos seus superiores a deletarem os registros. Não era conveniente ter a identidade do sujeito revelada.

O ex-policial civil de São Paulo (Tenório) foi enterrado como indigente.


Em um bairro nobre da capital paulista

O industrial estava possesso desde quando fora informado da participação do Tenório naquela trama.

— Porra, seus incompetentes! — como não desconfiaram do envolvimento desse segurança filho da puta?

O esporro sobrou para toda a equipe de segurança e policiais financiados pelo homem.

— Eu não aceitarei mais nenhuma desculpa, exijo resultados imediatos. Achem logo a vadia e o meu dinheiro!


O policial Breno Glock, em posse das últimas informações, estava compondo o quadro para chegar aos executores dos dois homens. No dia da perseguição do Santana não conseguiram identificar o rapaz, o autor dos disparos, muito menos o motorista, em razão dos vidros escuros. E a placa do veículo era clonada. O investigador refazia a sua linha de pensamento: “Dei mole ao subestimar a garota de programa e seu parceiro de fuga, eles sempre estiveram um passo à frente de todos nós. Ou são apenas sortudos, ou são bons no trabalho. E o dinheiro? Provavelmente está em poder deles.” Pensou.


O Pedro chegou em casa e, como havíamos combinado, desde a aquisição deixou o aparelho desligado e até retirou a bateria.

Eu fiz a minha parte, comprei um chip pré-pago em uma banca de jornal em um bairro próximo, e também encontrei em meus arquivos armazenados na nuvem, o CPF e demais informações válidas de duas pessoas.

— Vamos dar uma volta longe daqui, colocamos o chip e você liga para habilitar o negócio — falou Jessie para o parceiro.


Paramos em uma pracinha e o Pedro ligou para a operadora, habilitou o chip usando as informações do “laranja”. A seguir fomos até uma banca de jornal colocar créditos.


Voltamos para a praça, conectei o Pen drive ao Smartphone e enviei as fotos e áudios para os e-mails sugeridos nos rodapés de páginas de publicações online voltadas principalmente à política de esquerda. Já os havia analisado com carinho no dia anterior. Os vídeos, cópias dos áudios e fotos enviei tudo para um serviço gratuito de armazenamento em nuvem criado com uma conta fake. Os links para acesso também foram enviados para os e-mails das mesmas publicações online. Deixamos de fora o material que evidenciava a condição de amantes do Tenório e sua patroa, pois o marido seria capaz de matá-la e, morta, ela não me serviria de nada.

Desmontamos o celular após jogarmos aquela bomba na rede. Continuamos a caminhar até estarmos sobre uma ponte do rio Tietê e atiramos celular, bateria e chip dentro d'água. O Pen drive ficaria guardado no interior da gola do meu colete jeans.


Liguei para a patroa em um número conseguido no celular do Nordestino, informei-lhe do assassinato do seu amante. Menti dizendo ser a mando do seu marido, pois o empresário foi roubado pelo segurança e desconfiava dele ter conseguido informações privilegiadas em sua própria casa. Todavia, não era certo que o chefe tivesse conhecimento do caso entre ela e o Tenório.

Acredito ter dito o suficiente para deixá-la com ódio e medo do marido. Avisei para ela ficar esperta, o aviso foi sincero.


A mulher não conseguia acreditar que seu amante estava morto, direcionou toda a sua raiva contra o marido. Também considerou o risco que corria pedindo a si mesma para se controlar, porque se o caso entre ela e o segurança viesse à tona, o empresário a mataria. Ela pensava em vingança, e agiria, não importando quanto tempo demorasse.


O material enviado e disponibilizado por Jessie e Pedro viralizou na internet. Durante dias foi o assunto principal em todos os veículos de comunicação. Investigadores confirmaram suas suspeitas levantadas de que o empresário, representante de um grupo comercial, fraudava licitações efetuando pagamentos de propinas no valor de milhões a políticos, referentes a concessões de rodovias.

Jessie não estava completamente satisfeita, em razão de não ter conseguido devolver pessoalmente, e na mesma intensidade, as agressões sofridas a mando do empresário. Seu desejo era ter dado ao homem, o mesmo fim que dera aos comparsas traidores. Mas a moça vingativa deixaria quieto o assunto para não perder o parceiro.

— O caso está encerrado, eu prometo — disse a jovem. — E então, vamos seguir juntos para algum outro lugar em busca de diversão?

Eles já haviam conversado sobre continuarem a parceria, a exigência do Pedro era que a companheira deixasse definitivamente seus atos de revanche. Ademais, segundo ele, já haviam feito o suficiente divulgando as provas, e ainda ficaram com muito dinheiro cada, ao dividirem o milhão de dólares meio a meio e também o valor conseguido com o Maciel. Possuíam o bastante para curtirem a vida por um bom tempo.

— E pra onde você está pretendendo ir? — perguntou ele.

— Pensei em passar uma temporada na Bahia, Salvador, o que acha?

— Nunca estive lá, mas gosto da ideia de ir para o Nordeste, não gostei do frio do lado de cá.

— Então bora fazer as malas, mas antes vamos fazer uma coisa bem triste, daremos um perdido no meu bichão, o Santana, pois a turma do mal deve estar atrás dele.

A especialidade do Pedro era motocicleta, mas ele sabia como deixar um carro irreconhecível tirando peças e apagando números. Depois eles queimaram o veículo às margens da represa de Guarapiranga.


Os dois jovens ainda não sabiam, mas teriam um refresco no ato de fuga constante, uma vez que os capangas continuaram, sim, tentando encontrá-los através das pessoas relacionadas ao Maciel, mas as coisas complicaram para o empresário depois da divulgação do conteúdo do pen drive. Precisou afrouxar a atenção "no caso da vadia", conforme ele dizia, e dedicar-se na defesa de acusações pesando sobre ele. Também na eliminação de laranjas.


Mas o policial Breno Glock não desistiu do caso, investiu seu tempo e recursos na busca do jovem casal, afinal, era quase certo de eles estarem na posse de um milhão de dólares em espécie. Era uma quantia considerável para um simples policial civil.


Continua…

Nenhum comentário:

Postar um comentário