quinta-feira, 21 de junho de 2018

Capítulo 5 - Rolando no Tatame

A minha primeira semana nos EUA passou voando, mas foi cansativa. Fiquei só o pó com a faxina e as compras intermináveis para ter o básico em meu novo lar. Fiz minha matrícula na academia e as duas primeiras aulas foram punk, o meu corpo estava todo dolorido. A propósito, sobre a academia, aquilo era uma arena de vale tudo e as aulas não eram de defesa e sim de ataque. Ali eram ministradas técnicas de Muay Thai só visando aniquilar o inimigo, digo, o adversário. Hispânicos e latinos, mal encarados em sua maioria, quase se matavam durante o treinamento dentro de um ringue na área central do edifício. Enquanto isso eu e outras garotas derramávamos suor em outro canto.
Depois de correr muito pelo salão e fazer trocentas flexões fui para a parte relaxante do aprendizado. Nós meninas batemos em sacos de areia e bonecos de borracha. Aprendi a socar, chutar, dar cotoveladas e joelhadas até ficar com braços e pernas roxos. Extravasei toda a raiva contida em meu subconsciente.

Mas nem só de violência vive o homem. No sábado pela manhã eu fui à academia, o Héctor me daria umas aulas exclusivas de defesa pessoal.
— Socos e chutes são bons recursos, mas se você estiver dominada por mãos e braços do seu oponente, precisará dominar outras técnicas — disse o hondurenho.
Comentou também que era faixa preta de judô.
— E você está com ela aí? A gente poderia fazer uma brincadeira legal.
Não resisti em fazer minha piada e meu joguinho de sedução. Jesus amado, quando é que eu tomarei jeito de moça direita?
Ele gostou da sugestão, disse que não estava com a faixa, mas poderia conseguir algo parecido. No entanto deixamos o jogo sexual para outra hora, pois o foco era o treinamento de defesa e depois ele me levaria até o Walmart, conforme havíamos combinado. Precisava comprar mais miudezas para minha casa e alguns equipamentos de proteção necessários para os treinamentos, e uma roupa apropriada também.
A aula estava proveitosa e divertida, cada vez era mais prazeroso sentir o contato do seu corpo no meu. Em umas das quedas ficamos deitados no tatame com nossos corpos colados. Fui imobilizada de frente para ele. Até que demorou para acontecer o inevitável; trocamos um olhar de cumplicidade com nossos lábios a poucos centímetros de se tocarem. Ele encurtou sutilmente a distância e eu sorri maliciosamente. Avancei minha boca úmida mais alguns milímetros oferecendo meus lábios entreabertos. Meu corpo já estava aquecido pelo calor da luta no solo e, apesar de estar queimando de desejos naquele instante, eu estremeci como se tivesse um calafrio ao deliciar-me com um beijo demorado e de tirar o fôlego. A ausência de outras pessoas, o silêncio do edifício e o meu shorts folgadinho que começava a descer com facilidade por meus quadris, nos levaria rapidamente aos finalmentes. Eu raramente consigo controlar os meus impulsos, mas consegui ser forte desta vez. Levantei um pouco sem graça, pois estava quase pelada. Fui mais recatada do que de costume e dei uma esfriada na situação pedindo desculpas e dizendo que nós estávamos indo rápido demais. Enquanto eu ajeitava meu shorts e top, perguntei:
— Você me leva até o Walmart agora?
Ele respondeu que sim, também agindo de modo comedido e tentando disfarçar a excitação.
Partimos para as compras e tivemos tempo de conversar sobre todos os assuntos e nos conhecermos melhor. Horas depois ele deixou-me na entrada do meu condomínio carregada de coisas para minha nova morada. Não houve beijo de despedida, apenas um hasta luego.

Os últimos dias foram produtivos: Na terça abri minha conta bancária e na sexta fui ao consulado brasileiro para fazer minha Carteira de Matrícula Consular (eu já havia agendado na segunda feira), este lance também foi uma recomendação do Carlos. Ele disse, e eu concordei, que se ficarmos andando com o passaporte original corremos o risco de perdê-lo, danificá-lo, ou pior, ele pode ser furtado e usado para fins criminais.
A "Carteira Consular" é um documento tipo o RG que temos no Brasil, ele substitui nosso passaporte no exterior. Este documento é grátis e tem validade de dez anos. Então podemos deixar nosso passaporte guardado em local seguro para evitar qualquer problema. É reconhecida pelo governo dos EUA, pois há um acordo entre os dois países. Você faz de tudo com ela, já que é um documento como se fosse o passaporte. Podemos viajar pelos Estados Unidos, abrir conta em bancos e também é aceito nos serviços públicos.
Para tirar é necessário o passaporte e outro documento do Brasil, tipo o RG e um comprovante de residência. Eu levei meu contrato de locação, pois ainda não tinha recebido nenhuma correspondência em meu nome naquele endereço.
No consulado nem pediram para ver o comprovante de residência, só pegaram meu passaporte, o meu RG e perguntaram onde eu estava residindo. Receberei a minha carteira consular em até quinze dias, via correios.

Ainda naquele sábado, no início da noite, recebi uma ligação do Carlos convidando-me para jantar. Ele disse que me pegaria pouco depois das dez, já que seu treinamento iria até as nove. Porém não poderia ficar muito tempo, visto que iria cedinho para Orlando visitar a filha pequena que morava com a mãe, sua ex-esposa. Falei que estava exausta, tive uma semana de muito trabalho. Sugeri que ele fosse dormir mais cedo, pois a semana dele também foi puxada e ele teria que dirigir por mais de três horas pela manhã. A gente se encontraria em outra oportunidade. Ele concordou e eu entendi porque ele desistiu tão rápido do encontro. O Carlos, no início da semana, iniciou um processo para ingressar na SWAT. Os primeiros testes são físicos e são extenuantes, conforme ele comentou em nossos contatos telefônicos durante a semana. Eu estava feliz por ele estar dando um Upgrade na sua carreira de policial. Ao mesmo tempo eu sentia que aquilo aumentaria a distância entre nós.
Após encerrar a ligação eu continuei imóvel sentada na cama, recostada na cabeceira, exausta e satisfeita por não precisar embonecar-me para sair. Começava a achar que a chama do domingo anterior, quando entreguei-me por inteira ao Carlos, começava a se extinguir. E não foi por causa do meu lance com o Héctor, não sou tão volúvel assim… Tá bom, eu sou volúvel, mas não tinha nada a ver, eu apenas não queria envolver-me com o Carlos, pois nossos mundos são muito diferentes. Acreditei que ele estivesse pensando a mesma coisa a meu respeito naquele instante. E olha que ele não sabe da missa a metade.

Continua…

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