quinta-feira, 14 de junho de 2018

17 - A Herança

Meu telefone tocou na manhã daquele domingo, era meu chefe pedindo para eu fazer parte (junto com outras meninas) de uma festa naquela noite, ele atenderia ao pedido de um cliente especial.
— O cachê desta noite é muito bom, Mila. Eu cobrei bem do cliente.
Ele sempre falava isso tentando despertar ou aumentar nosso interesse quando precisava muito da gente. Em seu mundo o dinheiro movia todas as coisas. Ele não deixava de ter um pouco de razão, porém, eu ainda tomava algumas decisões sem levar o capital em consideração.
Eu já sabia do lance daquela noite, no entanto, inicialmente fui excluída do grupinho de meninas que participaria. Se ele estava solicitando a minha presença e, até pediu por favor, é porque ele não tinha garotas suficientes para atendê-lo. Mesmo estando receosa de ir ao lugar onde seria o evento, ainda assim atendi seu pedido. Não queria fechar as portas, a gente nunca sabe como será o dia de amanhã. O cachê seria maior que o habitual, visto que acompanharíamos senhores refinados em uma festa que aconteceria em uma boate famosa por rolar eventos fechados a um público exclusivo e privilegiado.

Dois homens, eu e mais seis meninas da agência seguimos até o inferninho badalado. O proprietário era um cara famoso nas altas rodas, tanto quanto era no submundo, seu apelido era God. em conversas reservadas diziam que ele decidia quem vivia e quem morria na sua comunidade.
A maioria dos convidados (homens) era proveniente de bairros nobres e com um poder aquisitivo elevado. Todos, de alguma forma, tinham uma ligação um pouco mais estreita com o God; ou eram negócios ilícitos em comum ou o "rabo preso" por algum motivo. Quanto as meninas... Eram garotas de programa em sua grande maioria, mas havia também as "peguetes" dos caras. Ninguém levava a esposa ou namorada, em razão da festa ser um vale tudo. A balada privada acontecia com frequência e recebia um nome novo inventado pelo dono do pedaço. Aquele foi batizado com o singelo nome de "Princesas Pistoleiras".

Eu ainda estava bebendo o meu primeiro drink quando aconteceu algo que eu temia, o irmão mais novo do God se engraçou comigo. Fui aconselhada pelas meninas a ser gentil e aceitar o convite do cara. Ele pediu, ou melhor, ele exigiu que o acompanha-se até um dos quartos situados nos fundos daquele Oásis da periferia. Fiquei temerosa, nós meninas já sabíamos da sua fama de doidão e ligação com o narcotráfico. E também por ser violento com mulheres sem precisar de motivos significativos. Eu não daria motivo nenhum, meu desejo era fazer o meu trabalho direitinho e sair inteira daquele lugar, não seria apenas a profissional, seria a sua cadelinha se fosse preciso. Então fui com o homem.
Após ele fechar a porta e ficarmos a sós naquela suíte eu não senti mais medo, a adrenalina de situações de risco sempre mexem com meus hormônios. Tentei curtir aquele momento e relaxei dentro do possível. Relaxei ainda mais quando vi aquela cadeira erótica tipo o "S" do Senna. Pirei grandão, desde sempre desejei transar em um bagulho daquele. Havia uma garrafa de uísque, copos e gelo em uma mesinha, contudo o apressado quis o sexo em primeiro lugar.
Foram segundos para ele deixar-me pelada e melada com sua baba em minha boceta e seios. Só depois ele se despiu e invertemos a posição, ele deitou na longa e curva cadeira, eu deitei com meu tronco sobre suas pernas, fui subindo devagar serpenteando meu corpo e deslizando meus seios por suas coxas enquanto o mirava com minha carinha mais safada e meu sorriso de vadia. Brinquei com seu membro em minha boca por algum tempo. Depois o apertei entre meus seios, todavia, o bruto ficou impaciente e mandou-me subir logo em cima dele.
Minha escalada foi acelerada por um puxão nada delicado que ele me deu. Com seus lábios quase colados aos meus o cara me chamou de putinha safada, agarrou meus cabelos e me beijou com ferocidade. Língua e dentes judiaram da minha boca, senti meu lábio inferior sangrar com suas mordidas animalescas. Levantei o tronco e direcionei seu membro em minha vagina, rebolei soltando meu corpo e o senti ir cada vez mais fundo em minhas entranhas. Ele agarrou meus seios os apertando e espremendo em suas mãos... Ahh! Gemi com a mistura de dor e tesão "quicando" sobre seu pinto em uma cavalgada alucinante.
Meu peito estava todo vermelho e dolorido quando ele finalmente gozou; só então parou de esmagar meus seios e de dar tapas na minha bunda e pernas, que também já estavam doloridas. Eu acabara de gozar pela segunda vez, sentia dores em meu corpo, mas eram dores que proporcionaram prazer devido aos momentos de pegação que acabara de viver naquela cadeira. Fiquei imaginando as várias posições que ainda poderíamos explorar naquela obra de arte. Ouvi um barulho de carros chegando rápido e freando bruscamente. No mesmo instante ele levantou apressado e pediu para eu servir um uísque para nós enquanto ele ia urinar. Um minuto depois eu ouvi um barulho de vidro quebrando no banheiro, era como se alguém tivesse atirado algo grande na janela e a destruído.
Antes que eu pergunta-se o que havia acontecido, quase desmaiei com um estrondo enorme  e vi a porta do quarto arrebentada por policiais que invadiram o quarto gritando todos ao mesmo tempo:
— NÃO SE MOVA! MOSTRE AS MÃOS!
Fiquei aterrorizada ao ver aquele monte de homens armados. Eu estava nua e não sai do lugar. No susto larguei a garrafa do Jack Daniels e o copo com uma dose dupla do líquido precioso. Vi tudo movendo-se lentamente: garrafa e copo se espatifando ao chegar ao chão, um homem todo de preto levantou o braço que empunhava uma arma e mirou em minha direção. Era uma sensação estranha, como se eu estivesse assistindo a um filme em câmera lenta. A velocidade voltou ao normal quando ele ficou cara a cara comigo e vislumbrei o buraco daquele cano enorme apontando para minha testa. Ergui os braços tremendo de medo e murmurei quase sem voz:
— Não atira, moço.
Policiais correram para o interior do banheiro e gritaram sobre alguém ter saltado pela janela. Os homens da lei vasculharam a roupa deixada pelo fugitivo e acharam uma arma, munição, uma pequena quantidade de drogas e uma boa quantia em dinheiro.

Após dar uma explicação rápida sobre quem eu era, o motivo de estar ali, e qual seria meu envolvimento com o fujão, mandaram eu me vestir. Continuei respondendo suas perguntas tentando fazê-los entender que eu era apenas uma garota de programa e só estava ali fazendo o meu trabalho. Repeti inúmeras vezes não saber nada sobre o cara, a arma e muito menos sobre a droga. Fiquei um tempão me explicando para um policial; pelas suas atitudes deveria ser o chefe. Um outro cara ficava me ofendendo.
 
Fui liberada pelo policial que parecia ser o chefe, dei graças aos céus. Mais tarde fiquei sabendo que ele era um tenente do Grupo de Operações Especiais (GOE) e vieram cumprir um mandado de busca e apreensão contra o irmão do God, o cara era suspeito de homicídio. No entanto a operação de captura não deu certo, já que o peladão conseguiu se safar — é sangue ruim mesmo.

Os policiais não acharam mais nada de ilegal naquela festa, só gente bêbada e disposta a liberar uma grana para continuar se divertindo sexualmente. O susto foi enorme, mas a diversão foi até de madrugada.

Ouvi sons de sirenes tocando em minha cabeça… Jesus, que alívio ao perceber que estava em minha cama, o barulho era o meu interfone tocando. Estava desmaiando de sono e mal conseguia levantar. Era manhã de segunda-feira, havia chegado da festa a menos de três horas e precisava dormir pelo menos mais cinco. Ainda assim atendi: era o porteiro comunicando sobre um motoboy e uma encomenda esperando por mim na portaria. Eu precisava descer, posto que o rapaz tinha ordens de entregar apenas para mim.

Voltei da portaria com uma caixa leve, de uns 50 cm e sem remetente. O motoboy também não disse quem a enviou, ele só faz a entrega. Abri o bagulho com medinho (vai que tem uma bomba dentro... rs). Continha uma pasta de plástico e dentro dela havia uma documentação e um bilhete dizendo:
'Mila, perdoe a minha maneira rude de ser e meu modo estranho de gostar. Agradeço os momentos únicos de alegrias e prazeres proporcionados por você nos meses de nossa convivência. A cada encontro o seu carinho fez eu esquecer temporariamente o mundo de hipocrisias em que estava atolado.
Antecipei minha partida, não era mais seguro permanecer no Brasil, mas você estará segura, pois não tem nenhum envolvimento com meus negócios ou com minha família. Alguém invisível estará cuidando de sua segurança por algum tempo, quanto a mim, permanecerei muito distante, talvez para sempre
.'
Eu que já estava apavorada, depois de ler aquelas frases fiquei aterrorizada. Continuei lendo:
'Você ainda é muito jovem, tente esquecer esta história e recomece sua vida. Acredito que já tenha aberto a valise retirada por sua amiga do guarda volumes da rodoviária. Use com inteligência e muita discrição os 250 mil dólares, não voltarei para pegar, o dinheiro agora é seu, assim como a residência em que mora. Siga as instruções anexas para formalizar a posse do imóvel.
Recomendo a não deixar que ninguém saiba a procedência do dinheiro e nem que eu lhe dei o apartamento. E por favor, queime este bilhete após ter lido e não comente nem com pessoas de sua inteira confiança que teve contato comigo após aquele sábado em Camboriú.
Seja feliz menina.
Beijos com amor e carinho.
Matheus.
'

"Então eu estava certa por desconfiar que estivesse sendo seguida." Só fiquei mais apavorada depois da leitura. Verifiquei os documentos da pasta… Geeente! Era mesmo a transferência do apartamento para o meu nome, bastaria que eu aceitasse o presente. Junto tinha instruções e um endereço para que eu fosse resolver a parada. Esse homem realmente surpreendeu-me, daria pulos de alegria se minhas pernas não estivessem tão trêmulas.
As datas impressas nos documentos eram de um dia após o sumiço dele. O danado esteve em Campinas na segunda-feira.
Fui até a cozinha e coloquei o bilhete em uma vasilha de barro, acendi o fósforo, contudo, fiquei pensando em guardar aquilo, pois serviria como prova de que recebi o imóvel e os dólares como doação e por livre e espontânea vontade do Matheus. Aiii! A chama do fósforo alcançou meus dedos, joguei a porcaria longe. Enquanto deixava a água da torneira escorrer sobre meus dedinhos queimados eu refleti melhor sobre o bilhete, a seguir o queimei.

Consegui marcar com o advogado indicado pelo Matheus (em seu bilhete) na tarde daquele mesmo dia. Fui até seu escritório e após deixar-me inteirada de tudo ele acompanhou-me até o cartório.
Uhuuu! O apartamento era meu, nem acreditei, estava tão feliz que transaria com o doutor como agradecimento, caso ele se mostrasse interessado, porém não rolou.
Eu já sabia que os dólares era dinheiro de verdade e o próximo passo era esconder a minha fortuna, usaria aos poucos sem dar na vista. O esconderijo seria em meu apto e já tinha planejado como: saí para fazer compras e voltei com um cofre, depois liguei para o seu Tobias, um marceneiro e também um faz tudo, na manhã seguinte ele saiu cedinho de Brotas e veio atender meu pedido. O conheci quando ele prestava serviços para a imobiliária que trabalhei algum tempo atrás naquela cidade. Era um senhor simples, eu confiava nele e em sua discrição. Ele deixaria o cofre invisível em algum lugar do meu imóvel que acabara de ganhar.

O homem trabalhou duro. Ao final do dia o serviço estava feito e superou minhas expectativas, tanto que lhe dei uma boa gratificação quando paguei pelo serviço. Ele se foi no táxi fretado, fora requisitado por mim para levá-lo para casa.
Seu Tobias fez um fundo falso em um dos meus móveis e instalou o cofre Multi-lock; um modelo cujo fecho só abre quando códigos são digitados em seu teclado. O mesmo foi parafusado no piso com buchas especiais, resistentes e enormes. Ou seja, mesmo se alguém descobrisse "minha caixa forte", não conseguiria abrir ou retirar a coisa do local.
O dinheiro estava seguro. Já havia ligado para meu chefe e passaria na agência ainda naquela semana para encerrarmos nosso vínculo.
Deixaria a Yasmin responsável pelos pagamentos de serviços e taxas referentes ao meu apartamento, eu depositaria o dinheiro na conta dela sempre que fosse necessário.
Após resolver os detalhes finais com as minhas relações profissionais e uma ou outra emocional, iria dar um perdido em Miami por algum tempo, pois estava morrendo de medo com o que poderia acontecer.
 
Continua…

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