quarta-feira, 27 de junho de 2018

Capítulo 11 - A Fera Italiana

Fiz amizade com uma garota que eu conheci no ponto de ônibus naquela manhã de segunda-feira. Que bom que arrumei uma companhia, já que eu sempre ficava sozinha naquela parada e naquele horário. Os ônibus em Miami não tem a mesma frequência como se tem em São Paulo, por exemplo, eles demoram muito e os horários são irregulares dependendo do destino. Então foi fácil iniciar um papo furado de ponto de ônibus e começar uma nova amizade durante os minutos de espera.
Jasmim era o nome da garota, também tinha 21 anos de idade, contudo eu parecia uma menina comparada com ela, visto que a minha nova amiga era um mulherão com o corpo bem definido e de parar o trânsito. Era segura na maneira de falar e de se mover; seus gestos eram super graciosos.
Através das nossas trocas diárias de informações no decorrer da semana, fui conhecendo um pouco mais sobre sua vida e ela da minha, por exemplo: ela havia se mudado para o meu bairro naquele último domingo, era natural da Colômbia e veio para os EUA com o irmão mais velho e a mulher dele. Morou com eles na cidade de Framingham (Massachusetts) por quase um ano, mas não se adaptou ao clima frio; foram mais de sete meses gelados, falou em um tom de desânimo.
Ela veio sozinha para a Flórida à procura de emprego. Por questões econômicas se hospedara em um hostel (um albergue) e durante três semanas trabalhou aqui e alí fazendo bicos como camareira em pequenos hotéis, lavou louça em pizzarias durante algumas noites e também trabalhou como diarista limpando casas.
Completara vinte dias que estava em um novo emprego, atendente de restaurante (garçonete). Disse que estava satisfeita com o trabalho atual e pretendia permanecer por lá algum tempo. Havia saído do hostel junto com uma amiga que conheceu naquele albergue, as duas alugaram um apartamentinho nas proximidades do meu condomínio.

Na quarta feira daquela mesma semana, próximo das 18h, o Héctor ligou para o meu celular. Disse que também estava em Fort Lauderdale e precisava levar um carro até sua casa, mas necessitava de alguém que fosse junto para dirigir o carro dele. Eu falei que o ajudaria, já estava finalizando a última casa. Dei a minha localização e ele veio me pegar meia hora depois.
Quando chegamos ao local onde estava o veículo, fiquei de boca aberta ao ver a preciosidade; era uma Ferrari cupê, vermelha e linda, ou seja, o meu sonho de consumo. Na verdade o meu sonho perfeito seria um conversível. Depois fiquei sabendo que o modelo era o "458 Italia". O homem me deu a chave do seu carro para que eu o levasse, ele iria na Ferrari. Até parece que eu perderia a chance de dirigir aquela joia cor de sangue. Apesar de que o possante do meu namorado era muito lindo e gostoso de dirigir, um Honda Arccor novíssimo, mesmo assim eu queria ir no carro de sotaque italiano.
— Só dirijo se for a Ferrari — falei com determinação.
Ele falou que nem fodendo daria um carro de 200 mil dólares em minhas mãos. Daí começou uma DR: ele ficava me lembrando que eu toda hora pedia para dirigir o seu carro e agora não queria. Eu respondia que ele era egoísta e queria sempre a melhor parte de tudo. Eu sou marrenta e sabia que ele precisava de mim. Falei:
— Ok, então se vira, eu vou embora de ônibus.
Joguei um beijo e saí caminhando cheia de pose. O hondurenho era um machão duro na queda, fez várias tentativas frustradas de persuadir-me. Por fim rendeu-se permitindo que eu conduzisse aquela nave espacial. 1x0 para as meninas.
Caraca! Quase tive um orgasmo quando liguei o bichão e ouvi o ronco vibrante do motor.
Seguimos rumo a Miami depois de inúmeros esclarecimentos, uma aulinha sobre o câmbio que ficava no volante e recomendações do homem para eu não exagerar na velocidade e chamar a atenção de policiais. Pensei comigo mesma, de que adianta dirigir uma joia rara e não chamar a atenção? Nem liguei para as recomendações.
Minutos depois na rodovia eu me sentia uma superstar acelerando aquela maravilha. Dei uma abusadinha tocando o pé um pouco mais fundo para sentir a adrenalina; o meu corpo grudou no banco tamanha era a potência da coisa, deu até medinho.
Estávamos pertinho de Allapattah (o bairro onde morava o hondurenho e onde ficaríamos). Eu brincava com o computador de bordo e não percebi quando ele deu seta e mudou de faixa para sair da rodovia. No instante em que percebi ele estava quase ao meu lado, pois reduzira a marcha para alertar-me. Tive que mudar duas faixas de trânsito de uma só vez para dar tempo de pegar a saída, sendo que eu deveria já ter mudado uma faixa para a direita um pouco antes.
Deu ruim. Segundos depois vi luzes vermelhas e azuis de um carro da polícia colando atrás de mim, a seguir o som alto que dizia para eu seguir em frente. Ele continuou me seguindo e disse para que eu parasse quando encontrasse um lugar seguro. Que merda! Liguei rapidão para o Héctor e perguntei onde estavam os documentos do carro, pois não estava no porta luvas. Ele disse que não tinha os documentos.
— Que ótimo! resmunguei. — E agora, o que eu faço?
O hondurenho parecia tranquilo, pediu para eu ficar calma e manter o ritmo, ele diria quando e onde parar. Continuei acompanhando o Honda que seguia à minha frente. Nós batemos um pouco de boca enquanto isso, o xinguei muitão, pois eu estaria fodida quando parasse, já que estava somente com a minha habilitação do Brasil e sem os documentos do carro, poderia ser presa. Fiquei apavorada e quase neurótica vendo aquelas luzes se alternando sem parar atrás de mim. Notei que já estávamos próximo do quarteirão onde mora o Héctor e gelei quando ouvi o policial ordenando, pelo sistema de som do seu carro, que eu parasse no acostamento. Ao mesmo tempo o hondurenho disse para eu parar próximo da esquina seguinte. Continuei na minha marcha e me borrei de medo quando ouvi a ordem de parada novamente e a sirene soando alto. Falei para o hondurenho que eu ia parar, estava com receio do policial atirar em mim. O idiota riu como se eu tivesse contado uma piada. Depois disse para eu ficar tranquila que o carro era blindado. Falou que a esquina estava logo à frente, mandou eu dar seta, reduzir, encostar e parar.

— Mas não desligue o carro e deixa a primeira engatada.
Disse que eu esperasse o guarda sair da viatura e quando ele estivesse se encaminhando para a Ferrari, era para eu sair rasgando e entrar à direita e novamente à direita na viela, depois era só ir em frente até chegar no condomínio dele e esconder o carro nos fundos do pátio. Ele iria retardar o policial e o seu veículo o tempo suficiente para eu dar um perdido.
—Você tá louco, eu não vou fazer isso.
Todavia, ele convenceu-me ao dizer
— Ou faz isso ou será presa, hermosa.
Prometi que iria matá-lo se escapasse daquela, e cometi a loucura de fugir do local. Ainda vi o policial correndo para a viatura, mas nem o vi mais depois que virei duas vezes à direita e cheguei ao condomínio. Os segundos decorridos entre a minha identificação e a abertura do portão automático, pareceram uma eternidade.
Dez minutos mais tarde a Ferrari estava oculta no interior do pátio do condomínio. Afastara-me dela e fiquei tremendo de medo escondida em um cantinho. Estava preocupada com a demora do homem, mas achei melhor não ligar.
Finalmente ele chegou caminhando, disse que por precaução deixou seu carro em um supermercado na rua de trás. Entramos rapidão, eu precisava de uma água com açúcar e uma dose de uísque. Perguntei sobre o documento do carro, ele disse que não tinha, pois o tomou de um cara que era um devedor. Fiquei possessa e vociferei:
— Peraí, deixa eu ver se entendi. Você roubou um carro e deixou que eu o dirigisse?
— Sim, mas foi você, preciosa, que insistiu em dirigir a vermelhinha.
Eu desci do salto e parti pra cima dele o esmurrando seguidamente no peito.
— Seu filho da puta, eu poderia estar presa agora e sendo acusada de roubo.
O sem noção se defendia e ria. Disse que tudo não passou de um susto.
Depois de muita discussão e de ele impedir que eu fosse embora, pois o policial poderia estar rodando à minha procura pelos arredores, eu o soquei mais um pouco e ouvi sua explicação de que só deu uma lição no cara que devia para o "escritório de cobranças"; quando ele pagasse a dívida, o carro seria devolvido.
Tive mais uma crise de fúria, contudo resolvi que seria melhor dormir ali naquela noite, não que fosse mais seguro, mas era o que me restava no momento. Os papéis se inverteram comparado ao nosso encontro anterior, quem estava com raiva dessa vez era eu. Judiei do hondurenho com mordidas e beliscões durante as preliminares. Soltei todo o peso do meu corpo por diversas vezes enquanto cavalgava sobre ele montada em seu membro e banquei a louca dando uns tapas no cretino durante o meu gozo.
Porém o tiro saiu pela culatra, o FDP disse que foi a melhor transa que já havíamos feito.

Dois dias depois (sexta-feira) saí mais cedo do trabalho, pois só havia duas casas para limparmos. Eu e a Luana tivemos parte da tarde livre e voltamos para Miami. Dessa vez ela me deu uma carona até a porta do meu condomínio. Eu aproveitaria a oportunidade para ter uma conversa séria com o hondurenho, já que depois dos nossos dois últimos encontros, dia e noite eu considerava a possibilidade de terminar com ele. Não conseguia mais dormir direito e ficava pensando em tudo que aconteceu entre nós e os comentários ouvidos nos últimos dias. Eu estava sim apaixonada por ele e curtia de montão nosso contato físico, uma vez que a química entre nós combinava perfeitamente. Entretanto eu sabia que aquela relação era uma roubada; o cara era bandido e a violência era sua ferramenta de trabalho. Cacete! Mas este era justamente o detalhe que me atraía e me deixava com mais tesão em relação ao homem. E ainda tinha o meu coração que estava se recusando a deixá-lo.
Depois de um banho demorado e de muitos pensamentos, vesti minha roupinha de treino, fiquei toda cheirosa e fui rapidão para a academia com a intenção de chegar antes dos alunos. Eu queria ter alguns minutos de privacidade com o Héctor.
Assim que cheguei, estranhei em não ter encontrado o Paco na entrada e nem no salão (Paco é um tipo de zelador do local). Encaminhei-me escada acima em direção ao escritório. Ao ouvir um som parecido a gemidos femininos, desacelerei o passo e fui me aproximando de mansinho até um ponto onde poderia visualizar o interior da sala sem ser vista. A minha decepção foi maior do que eu esperava sentir. Nas duas últimas semanas eu comecei a desconfiar que o hondurenho se divertia com outra fulana durante os dias da semana em que não nos encontrávamos (não nos subestime, a mulher sabe). Em outros momentos da minha vida eu até entenderia, pois eu também não costumava dar exclusividade para homem nenhum. No entanto, desta vez eu estava envolvida demais emocionalmente, não tinha mais olhos para outros caras, e queria ter aquele danado só pra mim.
Acho que eu até teria relevado se fosse alguma das meninas sonsas que treinavam na academia, mas desde que ele se desculpasse e prometesse não fazer mais aquilo, claro. Mas a coisa era mais séria, descobri que a outra era aquela noia vagaba. Isso foi a gota d'água naquela relação. Parece que toda aquela cena de briga e quase estrangulamento da vadia, quando ela vinha armar barraco defronte da academia, era só teatro, já que ele acabara de demonstrar que não odiava tanto assim aquela coisinha irritante. A meu ver ele também não se preocupava com doenças sexualmente transmissíveis, visto que ela se drogava dia sim e outro também e transava com qualquer um.
A cena dos dois se pegando no escritório era grotesca, tipo sexo animal com urros, agressões verbais e físicas. Ele estava deitado em uma poltrona reclinável que praticamente virava uma cama de solteiro e a vadia estava sentada de pernas abertas por cima dele, ambos nus da cintura para baixo, e ela cavalgando e gemendo como uma cadela. Ele a comandava agarrado à sua bunda e projetando a garota de forma rude para cima e para baixo. A puta falava palavrões menosprezando a virilidade dele. Fiquei enojada e sai fora antes que minha presença fosse percebida. Estava puta de raiva, entretanto aquela situação facilitou a milhão a decisão que eu vinha postergando a dias, ou seja, riscar o Héctor da minha vida.
Eu nunca aceitei que uma terceira pessoa se metesse em meus casos amorosos e desse conselhos mostrando os defeitos dos meus parceiros, sempre considerei-me capaz de perceber sozinha os pontos negativos das minhas relações. Porém desta vez eu vacilei, deveria ter ouvido o seu Ramon a mais tempo e saído fora deste hondurenho antes dele ter causado este estrago em meu coração.

Continua…

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