terça-feira, 26 de junho de 2018

Capítulo 10 - Tapas e Beijos

31 de dezembro de 2015
Último dia do ano e eu estava de folga. Uhuuu! Queria passar o Réveillon na Ocean Drive, no Mango's Tropical Café, ou pelo menos no quarteirão, pois diziam que lá era tudo de bom. Foi onde eu fiz meu primeiro passeio com o Carlos em meu segundo dia em terras americanas. A Miami da Ocean Drive parece ser duas cidades em uma; durante a noite é toda iluminada com luzes de néon, clima de balada e um quê de pecado. Com a luz do dia (tenha sol ou não) o clima é mais romântico e charmoso. Porém o Héctor e sua turminha optaram pelo Bayfront Park que fica em Downtown (centro de Miami), na Baía Biscayne. Naquela noite teria um show do rapper Pitibull. Eu particularmente não curto, e musicalmente eu prefiro o rock, contudo, as batidas eletrônicas exageradamente altas a ponto de sacudirem nosso cérebro, até que combinam com as noites loucas das baladas agitadas de Miami.

A festa foi divertida, principalmente por causa das bebidas deliciosas e abundantes. Deu para curtir os fogos apesar de não estarem tão próximos de nós, já que a queima foi na praia em Miami Beach.
Terminamos a noite em um bar e ao amanhecer cada um foi para o seu lado. Eu e o hondurenho fomos para a casa dele e dormimos quase o dia todo. O rala e rola só aconteceu depois de acordarmos e dessa vez ele superou as minhas expectativas. “Ano novo e novas magias, que bom.” Pensei comigo, ainda na cama com ele e com carinha de boba.

Mais tarde, sozinha em casa na primeira noite do ano e pouco antes de dormir, eu colocava minhas ideias em dia e viajava em meus pensamentos relembrando as últimas horas.
Pense em uma pessoa que preenche o seu pensamento lhe fazendo esquecer do mundo e fazendo com que execute suas tarefas diárias automaticamente enquanto revive mentalmente cada segundo que curtiu ao lado daquela pessoa. Pensou? Então, naquele momento da minha vida o Héctor era este cara. Apesar de que o lance da gangue ainda estava martelando meus neurônios.

No segundo dia do ano tudo voltou ao normal, trabalhei oito dias seguidos de sábado à sábado. Meu contato com o hondurenho foi somente pelo celular; ele ligou no dia de Reis para felicitar-me, mas apesar de eu estar morrendo de curiosidade em saber se ele fora em alguma festa na véspera de Reis, não toquei no assunto, ele também não comentou nada. Marcamos de nos ver no sábado a noite.
Eu não sou do tipo de pessoa que fica interrogando seu parceiro e querendo saber onde ele passou cada minuto do seu dia e o que fez, por isso também não sabia muita coisa sobre o outro trabalho do Héctor. Claro que perguntei a respeito, visto que a academia era mais uma paixão do que um negócio, como ele já havia me dito, e que não dependia do dinheiro que ganhava lá, mesmo porque era pouco e não daria para suas despesas. Geralmente ele ficava na academia só umas quatro horas por dia (ou melhor, por noite). Ele dizia que sua outra ocupação era em uma empresa de cobranças no centro da cidade e que envolvia valores altos devidos pelos comerciantes do ramo de entretenimento para adultos (Night Clubes e Cabarés, eu deduzi que fosse).
Era a noite do sábado combinado, uma semana após o Réveillon. Ele levou-me a uma boate que ficava no extremo do bairro em que ele morava. O estabelecimento comercial pertencia a um dos seus "parceiros"; era assim que ele chamava os seus amigos considerados de fé. O lugar não receberia nem duas estrelas em classificações feitas pelos críticos especialistas. Também não era para casais de namorados ou marido e mulher. Era uma casa voltada para o público masculino em busca de sexo (um puteiro disfarçado). Garçonetes latinas, insinuantes e oferecidas, serviam as mesas em trajes que não cobriam o suficiente das partes. De vez em quando uma delas sumia com algum cliente.
Um pouco mais tarde eu estava no banheiro e ouvi uma conversa de duas fulanas que passaram porta adentro, elas falavam sobre o Héctor e seu trabalho. Eu fiquei quase sem respirar para não ter a minha presença notada, pois elas não sabiam que eu estava em um dos reservados.
Fiquei com medo, pois poderia ter problemas ao ficar sabendo de algo que não deveria. Enfim, acabei descobrindo que o trabalho de cobrança do meu namorado não era nenhum tipo de serviço de telemarketing que ficava ligando para os inadimplentes. Pelo que eu entendi, ele estava a serviço de uma Máfia que controlava a venda de drogas e prostíbulos disfarçados de cabarés (tipo aquele em que estávamos). Uma delas disse que o hondurenho — era assim que todos o chamavam — surrou um cara no dia anterior porque ele atrasou o "dízimo" (pagamento da extorsão). E se isso já não bastasse para ele cair em meu conceito, para piorar, ainda fiquei sabendo que ele era um galinha e que as duas fulanas já abriram as pernas pra ele semanas atrás em uma festinha a três. Eu ainda não estava com o Héctor quando aconteceu o tal "ménage à trois". As duas pistoleiras disseram que pretendiam repetir a dose naquela noite, e o empecilho nem seriam os "seus homens", como elas disseram e, sim, "la blanquita de Brasil". Isso mesmo (a branquela do Brasil), era eu. Ainda não conhecia esse meu novo apelido. E eu que inocentemente achei que aquela turminha tinha me aceitado como se eu fosse da família. Quanta ingenuidade da minha parte.
Detalhe: "Blanquita" apesar de parecer algo carinhoso, é um termo pejorativo e racista.
Eu não aguentava mais ficar imóvel, sentada naquele vaso sanitário e com minha calcinha arriada até o meio das minhas pernas. Meus pés estavam formigando e logo eu teria uma cãibra.
Finalmente as duas vacas resolveram sair do banheiro, e, felizmente, sem que verificassem se tinha alguém nos outros reservados. Ufa! Ainda bem, ou eu estaria fodida.
Dois minutos depois, quando tive a certeza de que estava sozinha, saí do reservado, passei uma água nas mãos e fui ligeirinha em direção à porta. Aff! Praticamente atropelei uma outra fulana que estava entrando no banheiro. Continuei andando enquanto virava o corpo me desculpando com a garota que já estava dentro me xingando em espanhol e com a cara feia de contrariada. Soltei a porta que se fechou sozinha com a pressão da mola. Que merda! Dei outra trombada com um cara que se dirigia ao banheiro masculino que ficava mais à frente. Só não fui ao chão, pois suas mãos agarraram em minha cintura evitando minha queda. O cara todo simpático e cheio de sorrisos era um dos amigos do Héctor que estava conosco no passeio de barco dias atrás. Ele se desculpava pelo incidente quando o hondurenho apareceu diante de nós com uma cara de poucos amigos. Sem dizer nada ele começou a socar o cara que tentava se defender sem entender nada e perguntava o que é que ele havia feito. Eu, sem sucesso, tentei impedir o Héctor e pedia calma dizendo que ele entendeu errado. Por sorte surgiu um grandalhão que saiu do sanitário masculino e contou com o auxílio de outro cara que acabara de aparecer. Eles contiveram o hondurenho antes que ele matasse o cara.
Minutos depois daquela cena sem sentido, nós fomos embora. No caminho, dentro do seu carro, eu ainda reafirmava que o ocorrido havia sido um acidente, pois ele imaginou, naquele instante, que eu e o cara estávamos dando uns amassos naquele corredor defronte aos banheiros. Imagine se eu faria uma coisa dessas… Tá bom, pode parar de imaginar, eu seria capaz de fazer isso sim. Mas estou melhorando e diminuindo a minha cota de mancadas, lentamente e dia após dia.
Enfim, ele disse que acreditava em mim, mas tremi na base quando ele falou muito sério:
— O dia que você não me quiser mais, preciosa, me deixe antes de sair com outro cara, ou eu matarei você e ele.
Jesus amado, será que este homem é louco? Pensei com meus botões. Faltava pouco para eu constatar que era hora de sair fora, só esperaria a poeira baixar. Naquele momento eu continuei agindo como se não tivesse ouvido nada.
Apesar de todos os contratempos do ocorrido na boate, ele me proporcionou a melhor transa desde que nos conhecemos. Talvez por causa do seu ciúme e sua raiva, ele acabou por ser viril demais e judiou de mim me pegando por trás com estocadas como se fosse um carrasco chicoteando sua prisioneira. Ao mesmo tempo o homem me xingava de tudo quanto é nome e deveria estar pensando que me castigava com as suas ofensas ou os tapas que dava em minha bunda, mas o que ele não sabia é que a cada palmada eu sentia mais tesão. Ele teria ficado irado se soubesse que sua brutalidade intensificou o meu prazer e meus orgasmos foram múltiplos. Eu quase desfaleci com aquela pegada gostosa.
Não saberia dizer se o hondurenho ficaria puto ou orgulhoso se soubesse que naquela noite ele me finalizou de tanta satisfação tornando a minha noite muito feliz.

Continua…

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