domingo, 8 de julho de 2018

Capítulo 22 - Essa Cadelinha Morde

Madrugada de quinta-feira, horas finais do cruzeiro. Passei por um momento tenso quando estava na cabine de um cara que revelou suas tendências sádicas. Ter um fetiche e fazer um joguinho sexual não tem nada demais, e desde que seja sem exageros até que é divertido. Nosso rala e rola começou legal e, mesmo ele me tratando como uma cadela, estava dentro do suportável. Eu até curto o lance de bancar a submissa quando o lance proporciona prazeres diferentes. O problema é que o cara começou a cheirar um pó e a sua doideira o deixou bruto demais. Foi a gota d'água, posto que eu já estava com o saco cheio da maioria dos caras daquele navio. Prepotência e arrogância eram suas marcas registradas, tipos como aqueles têm mais respeito por seus vira-latas do que por nós garotas de programa — Pessoas que têm muito dinheiro acham que podem tudo.
O estúpido me deu um tapa no rosto porque recusei-me ser acorrentada à cama presa por uma coleira. Claro que eu revidei com outro bofete na sua cara e afastei-me dele já esperando pelo pior. Falei que não estava ali para ser espancada, aquilo era um negócio e não escravidão. O homem me chamou de vadia para baixo e veio espumando pra cima de mim. Esse sem noção era só mais um que se deixou enganar pela minha aparência frágil de patricinha. Quando ele chegou na distância ideal eu dei um chute caprichado no seu saco, o mesmo chute que pratiquei exaustivamente em minhas aulas de Muay Thai na academia do Héctor. Enquanto o homem se contorcia agachado, proferindo palavrões e ameaças, peguei as minhas coisas, sai rapidão de sua cabine e corri feito doida corredor afora, ainda nua.

Mais adiante olhei para trás verificando se ele vinha atrás de mim, não vi nem sinal do viciado. Aproveitei para vestir o meu vestido em míseros segundos e continuei correndo até a minha cabine. Lá eu fiquei quietinha pensando se o denunciava por agressão e drogas ou se ficava de boa, pois a corda sempre arrebenta do lado mais fraco, né?
Resolvi ficar na minha, em menos de duas horas desembarcaríamos em Fort Lauderdale e estaria livre de tudo isso.
Passava das cinco da manhã, pense em uma pessoa com medo e cambaleando de sono. Houve uma festa nesta última noite e os passageiros aproveitaram a nossa companhia até o último segundo, findei a noite com este escroto idiota. Não poderia nem tirar um cochilo rápido, precisava arrumar minhas coisas e participar de uma reunião com a Emma e as meninas antes que o navio ancorasse.
Pouco depois eu fiquei apavorada ao ouvir o som da porta da cabine abrindo, procurei por algo pesado que pudesse usar para me defender… Era a minha colega de quarto.
— Está sozinha? — perguntei receosa.
— Estou, por quê?
Contei o ocorrido e ela me chamou de doida. Eu também achei doideira a minha reação, muitas vezes ajo de impulso e não meço as consequências. Ela sugeriu que eu contasse para a Emma, o cara deveria ser proibido de embarcar novamente. Lembrei a colega que neste negócio os clientes sempre têm razão (segundo os chefes) e nós somos substituíveis. Ela concordou.
Em quarenta minutos havíamos terminado de arrumar nossas coisas e estávamos prontas para o desembarque. Estranhei não ter recebido a presença de alguém reclamando do ocorrido; não sabia se isso era bom ou ruim, estava agoniada pensando em tudo que poderia me acontecer.
Durante a tal reunião comuniquei que não embarcaria no próximo sábado e que poderiam colocar outra pessoa em meu lugar. De qualquer maneira eu seria dispensada, isso aconteceria assim que o drogado do saco chutado fizesse a reclamação e pedisse a minha cabeça.
Outras garotas também pediram o desligamento. O trabalho a bordo foi mais penoso do que havíamos imaginado, ficar cinco dias à disposição daqueles pervertidos, sendo quatro deles para cada uma de nós, foi puxado, eles nos mantiveram ocupadas em tempo integral. Não consegui dormir mais que três horas seguidas ou mais que cinco alternadas em um mesmo dia. O excesso de arrogância, estupidez e brutalidade de boa parte daqueles homens foram os fatores primordiais para a minha desistência. Um número considerável daqueles endinheirados pareciam estarem possuídos por espíritos de capitães de navios pirata e agiam como tal. O trabalho deixou de ser divertido para ser apenas um lance profissional, perdi o tesão e o interesse.
Claro que curti muito o passeio, foi mágico conhecer aqueles paraísos tropicais e ainda teria a chance de retornar várias vezes nas semanas seguintes caso permanecesse no grupo. No entanto aquele negócio tinha mais pontos negativos do que positivos: pouco tempo para descanso era um deles, fiquei esgotada e cheia de sono e dormir tão pouco estava acabando com a minha saúde e beleza. O dinheiro também não alcançou a minha expectativa, muitos dos ricos daquele cruzeiro gastaram fortunas com bebidas e compras, contudo, na hora de gratificar a garota de programa ou os atendentes, mostraram-se os maiores sovinas. Os pagamentos extras que recebi para submeter-me a algumas "extravagâncias", somado a generosidade de um ou outro passageiro, fizeram uma diferença no montante final, porém eu esperava muito mais desses senhores.
Depois das despedidas achei melhor permanecer acompanhada, fiquei ao lado da minha colega de cabine e do meu amiguinho roqueiro, a carona que ele oferecera para nós até Downtown (centro de Miami) foi providencial. Seguimos juntos em direção ao estacionamento e gelei de susto quando um vulto surgiu à minha frente vindo do nada… Aff! Era o Héctor em mais uma de suas entradas espetaculares. Disse que precisava falar comigo em particular. Respondi que estava esgotada e conversaria com ele outra hora. O hondurenho mudou a expressão facial, ele não suportava ser contrariado.
— Vem comigo, preciosa, é importante. Só estou querendo ajudar.
O homem sabia como me desarmar, apesar de suas atitudes serem costumeiramente autoritárias e grosseiras ele também sabia fazer uma cara de cachorro pidão e acabava me convencendo. Eu também estaria protegida ao lado dele caso o escroto do navio aparecesse.
Desculpei-me com meus colegas de passeio e trabalho, dei um até breve e fui com o Héctor.
O hondurenho parecia apreensivo, olhava para tudo e para todos com desconfiança e só falou qual era o assunto importante quando estávamos dentro do seu carro e ganhando velocidade rodando fora do estacionamento. Disse que chegou-lhe uma informação: eu havia deixado pessoas irritadas com as minhas últimas atitudes e tinha gente barra pesada querendo me dar uma lição. Eu teria sido levada à força quando chegasse do cruzeiro caso ele não estivesse me esperando. Falou que ainda não sabia quem pediu a minha cabeça, mas era melhor eu ficar na casa dele enquanto ele averiguava.
— Ah! Entendi tudo. Toda esta cena é só para eu ficar na sua casa?
Percebi que não era bem assim. Fiquei assustada e passei a acreditar quando ele respondeu com uma calma e um tom de preocupação que nunca havia visto nele antes. Disse que era muito sério, ele foi alertado por um dos seus irmãos de fé. Concluiu dizendo que eu realmente estava em perigo e deveria ficar fora de circulação enquanto ele descobria o que estava acontecendo.
Pensei: estou mesmo precisando descansar uns dias e ainda economizarei a grana do hotel. Aceitei a oferta de estadia em sua casa e, claro, assim que chegamos,  não resisti ao homem e nos acabamos nas "atividades de alto impacto".
Mesmo estando toda molinha e finalizada depois de uma pegada gostosa, pedi para ele ir fazer umas comprinhas, não tinha nada naquela casa. Fiquei sozinha e dormi um sono profundo, estava desmaiando de sono.

Continua…

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