segunda-feira, 2 de julho de 2018

Capítulo 16 - Orgia Marítima

As advertências feitas pelo Carlos, quatro dias antes, ainda martelavam a minha cabeça naquele quarto de hotel. Estava atendendo um dos clientes considerados especiais, um quarentão gordinho e educado que gosta de se vestir bem. Suas roupas e sapatos de grifes mundialmente famosas, somados a sua maneira "culta" de falar, deixava claro seu status social. Suas posses e gosto refinado ficaram evidentes durante o nosso jantar cultural, eu teria que fazer inúmeros programas para obter o valor gasto pelo cavalheiro naquela casa de shows. Durante o intervalo do nosso rala e rola daquela noite ele serviu-me mais uma taça de champanhe e disse que tinha uma oferta de emprego para me fazer. Fiquei interessada demais em ouvi-lo, queria mesmo sair do restaurante, apesar de achar que o Carlos estava enganado a respeito do meu chefe cubano e do Pepe (seu cunhado). Meu amigo policial generalizou colocando todos os cafetões no mesmo saco. Até aquele dia, em meu ambiente de trabalho, não soubera de nenhum caso em que garotas foram agredidas, forçadas ou ameaçadas. Além do convívio agradável e proteção total, nós ganhávamos muito bem. Eles eram os melhores "bookers" que eu já tivera contato até então e mesmo assim eu pensava em sair de lá, em vista de que a cada dia mais gente ficava sabendo sobre o meu ofício e onde o praticava, estava ficando exposta demais. Também queria agradar o policial moreno e gostoso e mantê-lo ao meu lado. Ele era a única pessoa naquele país em que eu poderia confiar e contar nas horas ruins.
Ouvi atentamente a oferta de trabalho do homem distinto enquanto permanecia nua e sentada na beirada da cama com minhas pernas cruzadas e bebericando o meu champanhe.

Infelizmente as minhas expectativas foram frustradas, a proposta feita pelo bacana não foi um convite para ser sua secretária e ganhar, digamos… uns dez mil dólares por mês. Seria show. A oferta de emprego era para que eu continuasse sendo garota de programa, porém a atividade aconteceria em alto mar em águas internacionais e também em algumas ilhas onde as leis relacionadas à prostituição eram mais flexíveis que em terras americanas, quando não eram totalmente liberadas. Meu local de trabalho seria a bordo de um navio pequeno considerado um "6 estrelas" que faz cruzeiros voltados para um grupo seleto de homens refinados, bem-nascidos em sua maioria e sem problemas financeiros em sua totalidade. Pagavam um valor consideravelmente alto pelo cruzeiro de luxo (alto para nós, simples mortais). Realmente aquele passeio extremamente sofisticado não era para todos, ao final da brincadeira alguns deles chegavam a desembolsar $20 mil dólares.
Eu fiquei atraída e demonstrei todo o meu interesse por esta "zona em alto mar", contudo pedi uns dias para dar minha resposta, precisava romper meu vínculo com o restaurante de uma maneira suave e sem arrumar para minha cabeça. O gentil cavalheiro respondeu que aguardaria a minha resposta até a próxima semana, seria em um novo encontro que ele agendou naquele instante comigo, naquele mesmo hotel e sem a intermediação do Pepe.

Cruzei com o Héctor no domingo de manhãzinha, assim que meu táxi parou defronte ao meu prédio. Eu retornava de mais uma noite de festa, digo, de trabalho. Vi um Honda igual ao do hondurenho, parado e a espreita alguns metros antes do meu condomínio. O carro avançou e parou atrás do Uber no instante em que eu descia do veículo. O taxista era um dos "Drivers" conhecidos nossos lá do restaurante, ele ficou apreensivo e perguntou se o Héctor era morador do prédio. Respondi que não, mas era meu amigo e que ele já poderia ir, estava tudo bem.
Minutos depois eu estava dentro do Honda recusando o convite para passar o domingo com o hondurenho. Falei que estava chegando de uma balada e precisava dormir. A seguir tentei mais uma vez convencer o homem de que o nosso caso acabou, eu ainda estava puta com ele e não queria voltar a vê-lo. Aquele membro de gangue havia dado um tempo com seus assédios e tentativas de reatar comigo nas semanas anteriores, porém retornara ao ataque e marcação cerrada. Pedi que parasse de me seguir, pois tinha voltado com meu namorado.
— Eu sei, o cara da SWAT, né? — disse ele. Fiquei pensativa, não lembrava de ter comentado este detalhe com ele.
A conversa continuou e dei os vários motivos que tinha para não voltar. De início eu trouxe à tona o caso dele com a noia piriguete. A seguir, na ânsia de expor os seus podres, acabei dando mole, acho que era por causa do sono e raiva, deixei escapulir a história que ouvi no banheiro do cabaré das putas dois meses atrás. O hondurenho apertou forte os meus dois antebraços e falou serião:
— Como é que você ficou sabendo disso?
— Para Héctor! Você está me machucando — falei com raiva e não com medo. Contei que havia ouvido duas fulanas fofocando no banheiro daquela casa noturna em que ele levou-me.
— Você é louco, mata seus devedores e outros que se aproximam das pessoas que você julga serem sua propriedade. — Ele soltou meus braços e se desculpou fazendo um carinho.
— Eu não mato os "devedores" — ele fez aquele gesto de aspas com as mãos (odeio isso) e tentou amenizar suas atitudes selvagens com justificativas estúpidas — apenas os apavoro para não repetirem o erro.
Falei que a gente não tinha mais nada pra conversar. Era adeus e esperava que ele respeitasse minha decisão.
— Tu és especial, preciosa, não sei ficar sem você.
— O truque é aceitar quando acaba e depois partir pra outra — repliquei.
Ele partiu para o ataque pesado, disse que sabia sobre o meu trabalho de garota de programa no restaurante. Não fiquei surpresa, ele deveria ter informações completas sobre todos os "puteiros da cidade" e todos deveriam pagar "pedágio" para os seus chefes. Mas a proposta dele foi o que mais me surpreendeu, ele queria ser o meu Booker e eu trabalharia para ele em uma casa noturna classe A de um parceiro seu. Eu teria sua proteção, inclusive da polícia. Recusei de cara e falei que tinha muita coisa em jogo. Ele repetiu que eu não teria problemas e seria sua protegida. O homem estava com uma ideia fixa, achei melhor dar uma esperança para ele e pedir uns dias para pensar e resolver a minha vida.
O Héctor disse que voltaríamos a conversar em breve. Relembrou alguns dos nossos melhores momentos quando a gente se pegava em amassos no interior daquele carro. Voltou a ser o macho sedutor da época em que o conheci.
— Você é um bruto, selvagem e um verdadeiro ogro. Eu me odeio por ainda gostar desse ogro, mas vou te esquecer, viu?
Eu falava da boca pra fora, posto que o toque das suas mãos e o calor do seu corpo tão pertinho era uma tentação difícil de resistir. Eu fiz um esforço tremendo para evitar que rolasse um clima… foi em vão, a gente trocou muitas carícias dentro do possante e protegidos pelo vidro filmado. Em segundos aquele danado deixou os meus seios de fora e sua boca fez loucuras com meus mamilos inchados. Eu caí na real, não era hora nem local e nem o cara, pois eu tentava a todo custo ficar longe desse bandido. Pedi para parar antes que desse merda. Eu daria minha resposta em uma semana. Recompus minha roupa antes de sair do carro e entrei rápido no condomínio sem olhar para trás.
Estranhei não ter cruzado com o seu Ramon, óbvio que ele observava o veículo através de alguma vidraça. Subi rapidão para o meu quarto e foi só o tempo de tirar a roupa, desabar na cama e dormir de imediato como uma pedra; estava esgotada.
Acho que não tive nem uma hora de sono, acordei com o som da campainha e batidas na minha porta. Levantei a contragosto e puta de raiva, vesti o robe e atendi a porta com cara de poucos amigos. Era o cubano. Fiquei atônita quando ele abruptamente foi entrando sem pedir licença e fechou a porta.

Continua…

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