sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Entregas Especiais 1 – Tal Pai, Tal Filho

O romantismo de Daisy sofreu um abalo após passar pela primeira grande frustração em sua vida. A emoção de uma perda fez seu lado cruel aflorar. Seus atos impulsivos e improvisados a levaram a viver sozinha e como fugitiva em uma terra estranha. Devido às circunstâncias, a jovem astuta teve que desenvolver rapidamente seu lado oportunista e manipulador para tentar sobreviver em uma megalópole. Uma série em 13 contos (capítulos) já concluídos.

Capítulo 1 – Tal Pai, Tal Filho

Daisy era bebê de colo quando sua mãe solteira caiu no mundo e a deixou para os avós criarem. Nada mais justo, pois indiretamente o avô foi o responsável por aquela gravidez.
O avô trabalhava para a família do prefeito há décadas, já era a terceira geração daquele clã no poder. O aposentado era um faz tudo, além de puxa-saco. Na época em que Daisy tinha apenas 10 anos, o avô a levava para o trabalho que supostamente fazia na casa do prefeito durante algum dia da semana quando a dona da casa não estava presente. Além de primeira dama da cidade, a mulher também era funcionária do gabinete do marido e remunerada pelos cofres públicos. Vez ou outra ela dava o ar da graça na prefeitura para justificar o dinheiro pago pelo contribuinte.
A neta passava a tarde brincando com Paulinho, um garoto de 15 anos e filho do prefeito. O meninão a levava para jogar videogame em seu quarto. No final do dia o avô recebia um dinheiro extra das mãos do garoto; era uma gratificação pelo serviço avulso prestado. No caminho de volta para casa ele agradava a neta lhe comprando sorvetes, doces ou brinquedos.

A rotina se estendeu por quase três anos. A menina não era mais uma criança, seu corpo de mocinha estava desenvolvido, assim como o rapaz, ele já era um homem.
A brincadeira virou paixão, pelo menos para a garota, seu coração adolescente transbordava de amor pelo rapaz que a tratava como namorada somente na privacidade do seu quarto. Falava que os pais dele a proibiriam de frequentar a casa se soubessem do namoro. A cada novo encontro ele prometia que casaria com ela quando fossem maiores.

O namoro escondido estava com os dias contados, Daisy sofreu um baque quando soube que ele estava de viagem marcada para os Estados Unidos. Ela temia que ele a esquecesse durante os anos que ficasse fora cursando uma universidade. O jovem a tranquilizava dizendo que em sua volta já seria dono do seu nariz, estaria formado e ninguém poderia impedir o casamento deles. A menina acreditou, disse que esperaria, pois o amava mais que tudo na vida.


Cinco anos depois

Daisy se transformara em uma moça bela e atraente, cobiçada por jovens e adultos, porém ninguém provou de seu beijo e carinho durante o período de espera, ela se guardou para o seu amor.
Paulo retornou com o seu diploma universitário, estava mais maduro, até aí normal, concluiu a jovem, mas estava bem diferente daquele rapaz simpático e carinhoso de antes, havia uma prepotência em suas atitudes. Durante aquela primeira semana ele foi frio e a evitou em diversas oportunidades. A desculpa era que ainda estava se readaptando e acertando uns negócios com seu pai que cumpria o seu segundo mandato como prefeito.
Em uma conversa rápida com a moça, em um encontro casual na praça, ele a convidou para uma balada na capital do estado (cerca de 120 Km dali). Naquele sábado aconteceria uma festa na praia.
Durante a noite tudo estava perfeito para Daisy, a festa e o carinho de Paulo a tratando como uma princesa. Depois do show principal ele a convenceu de passarem o resto da noite em uma pousada antes de pegarem a estrada de volta. Ela sabia o que aconteceria no quarto, e estava feliz, pois se guardara para ele durante os últimos anos. Alimentava a esperança de fortalecer a relação durante aquela noite, ela o amava e tinha a certeza de em breve ser assumida como sua namorada e posteriormente como sua mulher.

"Nós continuamos dançando no interior da pousada ouvindo a música que vinha da praia. Levantei meus braços para ele tirar minha blusa, depois meu sutiã, acariciou meus seios e entre um passo de dança e outro minha saia chegou ao chão. Na sequência ele se despiu feito o The Flash e segundos depois estava montado sobre mim, foi só o tempo dele arrancar a minha calcinha. Fiquei refém de suas vontades e obediente aos seus comandos. Ele me penetrou pela frente me pegou por trás, inundou-me com seu sêmen e depois de satisfeito dormiu profundamente.

Demorei a pegar no sono, fiquei curtindo nossa primeira noite, apesar de que não teve o romantismo que eu imaginei durante os anos de espera, no entanto estávamos juntos e isso me fazia um bem danado. Continuei imaginando como seria minha vida ao lado dele e fiz planos para um futuro próximo enquanto ouvia os seus roncos.

Acordei quando o sol já ia alto. Estava sozinha na cama e no quarto. Encontrei um bilhete que dizia: 'Tive que correr para casa, pois não posso perder o almoço com minha família. Dentro do envelope tem um dinheiro pra você pela noite de diversão e também para pegar o ônibus de volta. Quando der para a gente se ver novamente eu peço para o teu avô lhe avisar.'

— FILHO DA PUUUTAAA!!!
Depois do meu grito de indignação e choro desesperado, comecei a arquitetar o meu plano de vingança.

Alguns dias depois já havia vendido meu celular e várias miudezas, mas ainda era pouco para o que eu tinha em mente. O cafetão do meu avô recebeu seu pagamento mensal no dia anterior, era quando ele tinha mais dinheiro em casa... E eu sabia onde ele guardava."

***

A motocicleta invadiu a calçada, acelerou rápido e atingiu o rapaz o arremessando metros à frente. A vítima rolou várias vezes antes de ficar inerte sobre o asfalto. O condutor do veículo perdeu o controle da máquina que ziguezagueou e tombou. Apesar do capacete e jaqueta de couro masculina, era perceptível que se tratava de uma mulher. Após se recompor do tombo ela saiu acelerando a milhão enquanto os curiosos se aproximavam para socorrer o acidentado, Paulo, filho do prefeito.

— Moça, acorda! Chegamos.
Daisy acordou em pânico, era a quinta vez que o sonho se repetia e era tão real como se revivesse o acontecido de dias atrás. Seu ônibus acabara de chegar ao terminal rodoviário do Tietê em São Paulo. A jovem foi acordada pelo passageiro ao lado, estava exausta, pois praticamente não dormira nos dias posteriores ao acidente que deu novos rumos à sua existência. Desembarcou com o desejo de deixar todo o seu passado para trás e começar um novo ciclo em sua vida. Ainda não sabia se o Paulo estava vivo ou morto após ela propositalmente o atropelar com a moto do seu avô. Se livrou da motocicleta, capacete e jaqueta jogando ao longo de um rio nos limites da cidade. Só com uma mochila nas costas ela pegou caronas até chegar em João Pessoa-PB, comprou uma passagem e embarcou no ônibus para São Paulo.
Ela não tinha com quem contar, o dinheiro que conseguiu trazer daria para pouco mais de um mês caso ficasse em uma pensão barata.

Continua…


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