quinta-feira, 31 de julho de 2025

Almas Gêmeas - Parte 11

<<A INSPETORA BERTA colou em mim assim que pisei no pátio ao sair da sala de aula naquele início de noite.
— Hoje, excepcionalmente, você terá treinamento. O mestre Vilânio a aguarda no ateliê.
— Vou só tirar o uniforme, tomar uma ducha rápida e corro pra lá, inspetora.
— Não, dona Gisele, vá direto para o ateliê. Deixe a sua mochila comigo.
“Merda! Eu já desconfiava que minha folga não duraria muito”, pensei com indignação.
Não havia participado de treinamentos nas noites de quinta-feira, até então. Deve ter chegado a hora da temível reunião secreta, deduzi.

Pouco depois, no ateliê com o mestre Vilânio, comunicou-me sobre a minha participação num evento que aconteceria naquela noite.
— Seu transporte está a caminho. Você precisa chegar com antecedência para receber as devidas orientações.
— O senhor não vai comigo, mestre?
— Não.
— E o Amir?
— Nem o Amir. Você mostrará seu valor para ele, sozinha.
— Quem é ele?
— O mestre superior.
— Estou morrendo de medo, mestre. O que vai acontecer comigo?
— Você não corre nenhum perigo, menina, caso seja esse o motivo do seu medo. Agora, chega de perguntas, apenas siga a orientação dada, pois já foi decidido.

Agiam sempre assim, não forneciam informações quando me obrigavam a fazer algo condenável. E só ficava sabendo no que estava envolvida quando o lance já estava rolando. Não havia um modo pior de ficar sabendo das coisas. E quem era esse misterioso mestre superior para ficar decidindo sobre a minha vida? Seria o “vampiro” da última sexta-feira? A propósito, ainda era forte a sensação de familiaridade com aquele coroa. Cacete! Isso tudo não fazia o menor sentido. Quem realmente eram as pessoas que comandavam esse universo cheio de segredos? Estaria envolvida com uma seita ocultista? Essas e outras perguntas estavam me enlouquecendo. Sentia medo de não conseguir segurar aquela barra por muito mais tempo. “Chegará o dia em que essa dívida será impossível de ser paga”, pensava.

O carro chegou logo, entrei e o motorista pegou a estrada rumo a Mogi das Cruzes. Passados alguns minutos de silêncio, tentei puxar assunto a fim de saber algo, mas ele foi, porém, bastante educado para cortar o meu barato:
— Perdoe-me, senhorita, meu trabalho é fazer o seu transporte de ida e volta. Receberá informações somente quando chegarmos ao destino.
“Bom… Ele me trará de volta. É uma boa notícia, pelo menos.”

Após rodarmos por cerca de vinte minutos, entramos na área urbana de Mogi, ele pegou uma rua secundária e logo parou próximo a um condomínio. Eu raramente circulava pela região, principalmente em um local apelidado de bairro dos bacanas. O comércio dos meus pais e nossa residência ficavam próximos ao centro, distante dali.
Com a mesma educação anterior, entregou-me uma capa escura e disse:
— A recomendação é para você fechar o hábito e cobrir a cabeça com o capuz.
Esperou eu terminar de me arrumar e seguiu com o veículo até a portaria de um condomínio de ricos, privilegiados e, provavelmente, poderosos. Após a identificação, seguiu pela alameda arborizada, fez uma curva por trás de um grupo de árvores e parou diante de uma mansão ligeiramente afastada das outras. Disse seu nome no interfone e um mecanismo fez o portão de ferro correr para o lado. Conduziu o carro e estacionou numa das laterais do casarão. Uma mulher abriu a porta traseira.
— Mantenha seu hábito fechado e siga-me — disse ela, com firmeza.
Era notória a preocupação em ocultar a minha identidade, assim como o meu uniforme.

A propósito, meu uniforme lembrava as estudantes japonesas dos animes e mangás: uma camisa branca de mangas curtas; saia xadrez nas cores cinza, branco e azul, também curta (a bainha ficava no meio das coxas). Para completar o figurino: uma jaqueta azul, sapatos pretos e meias brancas. Naquela época fria, usava uma meia longa e mais quentinha.

Segui a mulher e fiquei encantada com o interior do casarão, parecia um palácio. O primeiro impacto foi com a grandeza da construção super luxuosa. Dava até dó de caminhar sobre mármores e cerâmicas de aparência tão linda.
A decoração era tão glamorosa quanto, com telas surrealistas com predominância nos rituais esotéricos. As estátuas e estatuetas “góticas”, representando demônios e anjos sinistros.
Conforme nos aprofundamos no ambiente, a atmosfera ficou ainda mais obscura, devido à sua distribuição de luzes, ou à falta delas.

Seguimos desde o piso térreo até o interior de um quarto no segundo piso da magnífica mansão.
— Deixe toda a sua roupa e acessórios aqui, sobre a cama — disse ela.
— Tome um banho e lave os cabelos. Mas antes, raspe os pelos. Lá você encontrará tudo o que é necessário — disse, apontando para a minha vagina e, a seguir, para a porta nos fundos da suíte.
— A propósito, você já se depilou alguma vez?
— Não — respondi, envergonhada.
— Vamos lá, vou te ajudar.
Fiquei ainda mais encabulada.
A mulher se assemelhava à inspetora Berta: uns 40 anos, sem atrativos femininos, séria, autoritária e forte como uma pugilista. A danada colocou-me sentada sobre a tampa do vaso sanitário, de pernas erguidas e abertas. Raspou os pelinhos do meu ânus e da minha vagina. As minhas axilas não necessitavam de depilação.
Suas atitudes de extremo profissionalismo não davam margem para brincadeiras.

Após o banho de princesa, a dona Odete me deu um robe e um secador de cabelos.
— Está com fome? — perguntou ela.
— Estou. Também estou com sede.
A mulher mandou eu não sair do quarto e esperar ela voltar com o meu jantar.
Nem teria como sair, ela trancou a porta e havia uma grade na janela. Considerei óbvio um homem entrando por aquela porta a qualquer momento, apenas para satisfazer-se com o meu corpo. Mas, que tipo de homem seria? Questionei-me, temerosa.

Muito tempo depois, ela voltou com uma bandeja contendo uma pequena refeição e uma garrafa d'água. Veio em boa hora, pois minha barriga roncava.
— Coma devagar, ainda temos tempo — falou.
Tempo para o quê? Perguntaria eu. Então, ela mandaria eu ficar calada. Achei melhor continuar comendo em silêncio.

Já havia comido, bebido e feito a higiene quando sentei em frente à penteadeira a seu pedido. Colocou-me uma peruca de cabelos loiros e cacheados e recebi uma maquiagem leve. Odiei tudo aquilo, fiquei com uma aparência exageradamente infantil.
Mandou eu vestir meu uniforme, a saia e a camisa, mais nada.
— Você já usou salto alto? — perguntou ela.
— Já usei, mas não muito alto.
Ela me deu um scarpin preto, de salto fino baixo. Calcei e amei, era a minha cara. A mulher pediu que eu caminhasse.
Pela expressão dela, não havia me saído muito bem. O treino durou mais alguns minutos, recebi instruções para caminhar com feminilidade. Na real, a dona pretendia ver-me transmitindo sensualidade.

Minha evolução foi rápida, deduzi, em razão de ela mencionar que eu estava pronta para juntar-me aos demais convidados. Perguntei se era uma festa.
— É um culto, uma celebração importante — respondeu.
A seguir, proferiu as frases recorrentes do mestre Vilânio: não faça perguntas, não diga nada que não seja estritamente necessário e obedeça a todas as ordens.
Novamente, a mulher mandou eu esperar seu retorno. Ela aparentava cansaço, após tanto correr de lá para cá.

A dona demorou um pouco para retornar.
— Está na hora. Quer fazer xixi?
— Não, fiz agorinha mesmo.
Deu-me um vidrinho com aparência de remédio.
— Bebe isso num gole só.
“Não é veneno, óbvio” — pensei tranquila —, ou não faria sentido tanto trabalho.
Engoli a bebida com o gosto idêntico ao chá preto do mestre. Em seguida, colocou-me uma máscara branca, de expressão angelical, cobrindo inteiramente o meu rosto.
— Não tire essa máscara em hipótese alguma. E nem permita que alguém a tire. — Entendeu?
— Entendi.
Voltei a vestir o mesmo hábito escuro, longo até os pés, amarrei o cordão, fechando-o totalmente, e cobri a cabeça com o capuz.
Saímos do quarto, reuni minhas forças para enfrentar seja lá o que for.

Saímos do quarto e seguimos pelo corredor, ela abriu a porta ao lado e saiu outra pessoa na mesma situação que a minha (de máscara e vestimenta). Era uma garota, deduzi. Isso se repetiu na porta seguinte.
Nós três seguimos a mulher e chegamos a uma espécie de mezanino. Balaustradas e colunas delimitavam o ambiente superior do inferior. Abaixo, uma sala ampla e de pé direito muito alto. Havia cerca de dez pessoas envolvidas em relações sexuais sobre sofás, divãs e poltronas. Uma orgia com seis ou sete mulheres nuas e três homens também nus.
Outras damas e cavalheiros, mascarados como todos os outros, mas elegantemente trajados como num baile de gala, permaneciam em pé e apenas observando.

Percorrermos os três corredores circundando o alto da sala e, apesar do medo pela situação perturbadora, foi impossível não sentir tesão ao imaginar que seríamos a próxima diversão do bando de Black tie. “Deve ser efeito do conteúdo do vidrinho, é a mesma porcaria alucinógena do ateliê”, pensei. Náuseas e sensação de tontura eram os efeitos colaterais. Caminhei esforçando-me para manter o equilíbrio.


Quarto da Resistência

Ainda no mesmo piso superior, dona Odete nos levou diante de uma porta onde um mascarado de terno preto fazia a segurança. Ele abriu e fez sinal para entrarmos, somente nós, garotas.
O quarto enorme, de iluminação baixa e avermelhada, exalava um cheiro forte de incenso. A decoração com estatuetas de carrancas demoníacas era intimidadora, assim como as pinturas emolduradas nas paredes. Reconheci de cara o estilo: uma alusão ao pecado… Também ao inferno. As obras com imagens de rituais esotéricos e tenebrosos exibiam a assinatura do mestre Vilânio. Mas nem seria preciso eu ter olhado para identificar o autor. Toda a composição do quarto promovia um aspecto sombrio, para não dizer satânico.
O forro vermelho de uma super cama redonda serviria para esconder manchas de sangue, caso ainda houvesse algum cabacinho para ser quebrado naquela noite, pensei, sorrindo por dentro. Um sorriso nervoso causado pelo efeito do fármaco.

Fomos recebidas com gentilezas por três figuras femininas que se levantaram do sofá. As máscaras delas cobriam somente do nariz para cima. Seus hábitos de monge, amarrados apenas no pescoço, propiciavam uma abertura durante seus movimentos, permitindo a visualização dos corpos nus sob os trajes.
Cada uma delas, ao se postar diante de nós, fez uma ligeira reverência e beijou a máscara na região da boca de sua escolhida. Senti o aroma de almíscar da minha anfitriã, provocante e afrodisíaco, ao emanar do seu corpo enquanto tirava o meu hábito. Desde o início, cada movimento delas era realizado com calma, delicadeza e sem dizer uma única palavra. Aparentavam estar desempenhando uma representação teatral.

Quando as duas garotas também ficaram somente de máscara e uniforme, atentei que um deles era igualzinho ao meu. Seria aluna do instituto? Quem seria ela?
O uniforme da outra era diferente, não tinha ideia da origem. As duas aparentavam ter a minha idade… Talvez mais novas. Todavia, poderia garantir que, assim como eu, nenhuma das duas possuía habilitação para dirigir, por ser cedo demais para tanto. Éramos diferentes das garotas do piso inferior, cujos corpos eram de mulheres maduras, deslumbrantes e, notadamente, experientes.

Achei engraçado: aquele deveria ser o único lugar cuja matinê iniciava após o evento noturno. Parecia uma inversão de valores dos “organizadores”.

Fomos conduzidas para cima da cama, fizeram-nos deitar com as cabeças no centro e as pernas para fora, espaçadas igualmente formando três triângulos.
Os acordes de um órgão preencheram o ambiente. Uma música tipo sacra, mas com uma pegada da introdução de “Mr. Crowley” do Ozzy. Havia algo de estranho naquela música, a ponto de me causar calafrios. A sensação de estar mergulhando nas profundezas do inferno fez meu sangue gelar.

De repente, uma porta dupla foi aberta nos fundos do quarto, entraram homens mascarados e cobertos por capas escuras. Meia dúzia deles. Ficaram espalhados pelas laterais do quarto como espectadores.

Os sentimentos eram únicos e, apesar da proximidade do mundo real e corriqueiro, naquele momento específico, a impressão era de estar infinitamente distante, perdida em um mundo utópico e secreto.


Ritual Sexual

A mulher que me escolheu como parceira tirou meus sapatos e iniciou as carícias massageando e beijando meus pés. As mãos macias de unhas vermelhas bem cuidadas deslizaram pelas minhas pernas enquanto ela serpenteava seus quadris lentamente, progredindo e tomando posse do meu corpo. Seu perfume exalando sedução deixou-me ansiosa para que seus dedos alcançassem logo os meus seios.
Não só alcançaram, por dentro da minha camisa, como massagearam gostoso e os expuseram em seguida. Meus biquinhos duros e mamilos inchados foram chupados e mordiscados deliciosamente, produzindo prazeres enquanto as carícias ganhavam proporções acentuadas. Uma mão invasora brincava sob a minha saia, massageou minha fenda e, com a gentileza feminina, introduziu dois dedos longos para tocar seguidamente meu clitóris na mesma intensidade em que sua boca ainda sugava meus seios.

O ponto alto da sensação de deleite foi sentir a suavidade dos seus lábios deslizando de mansinho pelo meu ventre, a caminho da minha vulva. Quando sua boca beijou e lambeu meu sexo, pressupus que aquela seria uma noite de prazeres inesquecíveis. Abri e dobrei minhas pernas para acomodá-la em meu vão íntimo, saboreando a sensação maravilhosa de uma boca morna e língua atrevida me devorando. Ronronava, contorcendo meu corpo inteirinho, sentindo a proximidade do clímax… Porém, infelizmente, o momento mágico desvaneceu-se quando ela foi agarrada pela cintura por um homem nu. Ele caminhou três ou quatro passos para trás, puxando consigo a mulher e introduzindo por trás no sexo da sua presa, simultaneamente ao instante em que sentou em um cadeirão de estofamento vermelho.
Frustrada, porém de camarote, assisti a ela revirar os olhos enquanto subia e descia, impulsionada por ele.

Não fui testemunha do restante do espetáculo, devido a outro homem mascarado, de membro ereto que, sem aviso prévio, surgiu na minha frente, arreganhou as minhas pernas e penetrou-me sem gentilezas.
Sofria a primeira penetração da noite, ainda superexcitada por ter recebido as carícias deliciosas daquela mulher. Ela continuou me excitando ao gemer sobre o homem.
Também gemi com as estocadas vigorosas do meu algoz. Minha participação na orgia continuava prazerosa, a ponto de enlaçar com as pernas a cintura avantajada do meu possuidor e chegar rapidamente ao gozo.
Meu instante de clímax ficou notório para o homem, em razão da minha reação espetaculosa, com gritinhos e liberação do meu líquido de gozo. Ele, então, fez pressão com as mãos em meu pescoço, e pela abertura de sua máscara, identifiquei dois olhos escuros reprovando meu sentimento de prazer. Imaginei ser uma advertência que dizia: “Quem lhe deu o direito de gozar, escrava?”.
Teria perdido os sentidos se ele não afrouxasse de imediato o aperto. Tossi muito, após ser dispensada por ele, como se eu fosse um trapo sujo.

Permanecia profundamente desconfortável, além de confusa, quando fui agarrada por um outro sujeito com corpo de coroa. Colocou-me de quatro, jogou minha saia para cima das minhas costas e enterrou em minha boceta com certa brutalidade.
Não senti satisfação nenhuma com sua série de estocadas rápidas como as de um cão. Não que as estocadas de um cão não causassem prazer, longe disso, preferiria mil vezes o Amir montado em mim no mencionado momento, ao invés do coroa mascarado e sem nenhum atrativo.
Assim como o anterior, ele também não gozou. Pelo menos não houve ejaculação, pois ambos estavam sem preservativo.

A agonia aparentava não ter fim, na sequência, um grandalhão bem dotado quase me rasgou. Percebi que era grandalhão e bem dotado, mesmo eu estando de costas, porque ele me envolveu com seu corpanzil, braços, mãos e enfiou seu volume no meu cu. Puta que pariu! Além de gritar de dor, também chorei e fui ameaçada ao levar um mata-leão:
— Cala essa boca, garota, ou quebro o seu pescoço — disse sadicamente e forçou ainda mais fundo dentro de mim, dando golpes que só me causavam sofrimento e meu ânus não conseguia se adaptar ao volume.
Ouvi os gritos e choro das outras duas participantes, elas também sofreram ameaças dos seus algozes.
“Talvez essa tortura acabe logo”, pensei, em relação ao homem do momento, pois senti seus espasmos e seguiram as pulsações do seu membro inundando-me com a explosão do seu gozo. Ele urrou e ejaculou até a última gota. O carrasco deve ter se deleitado com o meu sofrimento.

Minhas duas parceiras de tortura voltaram a gritar de dor, choraram como cadelinhas feridas e sofreram mais ameaças. Mas, assim como eu, foram fortes e suportaram a batalha sem pedir para sair.

Muito tempo passou, o odor de sexo e porra infectou o ambiente. O couro vermelho da cama coletiva ficou úmido e nojento. Não fazia ideia de quantas vezes fora possuída, a troca de parceiro acontecia rápido demais, penetravam ou tiravam sem dó, causando dor e desconforto. Ficou nítido que a preocupação deles era apenas com o próprio prazer e não em satisfazer a parceira. Praticavam um jogo de dominação e prepotência masculina.

Chegou uma hora em que não sabia mais se o homem montado em mim era um dos seis iniciais ou se outros vieram juntar-se a eles. Julguei ter caído no purgatório e que o ritual sexual se estenderia por toda a eternidade.

Mas, felizmente, algum tempo mais tarde, a orgia chegou ao fim. Nós três, vítimas da brutalidade, ficamos esparramadas na cama, finalizadas, exaustas e imundas. A de aparência mais frágil e novinha ficou imóvel de bunda nua para cima, com uma marquinha de nascença, parecida com um pássaro voando. Sua respiração rápida demonstrava esgotamento. Se foi a primeira vez dela, imagino o tamanho do seu sofrimento.
A outra garota, de uniforme diferente do meu, parecia ter suportado bem. Ainda assim, era nítida sua expressão de revolta, e tinha toda a razão.

Foi reconfortante ver os últimos homens pelas costas, saindo pela porta dos fundos, ela sendo fechada e o silêncio reinando absoluto no ambiente.
Eu só desejava dormir um pouco, meu corpo sofria com dores diversas.
Todavia, não deu tempo nem de fechar os olhos, ou de falar algo com as meninas, posto que a dona Odete chegou apavorando.
— Levantem e cubram-se com os hábitos. Rápido, vamos!
A seguir, fez ameaças:
— Quero reforçar que vocês devem manter em segredo a mansão e todo o ocorrido dessa noite. As consequências para quem infringe as regras são graves, vocês estão cientes. E sintam-se privilegiadas por participarem de um ritual de iniciação destinado a poucos.

Não conhecia o histórico das duas estudantes, quanto a mim, tornei-me refém desde o dia em que fugi do acampamento escolar para transar na cachoeira. A inspetora Berta aproveitou-se da minha falha para inserir-me obrigatoriamente no ateliê e fragilizar ainda mais o meu telhado de vidro. Tornei-me escrava, pois bastaria vazar uma mínima parte dos atos de perversão na sala secreta — cenas registradas em fotos e vídeos pelo mestre Vilânio —, para a direção escorraçar-me de vez e ainda quebrar meus pais, que são financeiramente dependentes desse universo assombroso.
Cada vez mais sentia temor da evolução vertiginosa dos acontecimentos. Era uma passageira em um trem desgovernado, incapaz de reduzir a marcha.

— Mantenham a máscara, a peruca e só tirem no carro quando o seu motorista mandar. Entreguem para ele junto com o hábito e o sapato — ordenou a dona Odete.

Nós três saímos na companhia dela e descemos as escadas. Não havia mais ninguém na sala abaixo do “mezanino”. Um relógio antigo, de números romanos, marcava quatro e um pouquinho.

Ao chegarmos à lateral externa, percebi o quanto estava acabada e atordoada. A mulher conduziu-me para o interior de um dos carros estacionados, era o mesmo que me trouxe e lá estavam as minhas coisas. Livrei-me do scarpin, deixando-o no piso, junto com meus sapatos, ajeitei a jaqueta enroladinha no assento traseiro e deitei, utilizando-a como travesseiro.

Devo ter adormecido imediatamente ao me acomodar no veículo. Quando fui acordada, estava nos braços do mesmo motorista, o qual me sorriu ao dizer:
— Chegamos.
Ao colocar-me de pé, bambeei um pouco, continuava atordoada. Ele apoiou-me.
— Consegue caminhar sozinha?
Reconheci a portaria do alojamento do instituto.
— Acho que consigo, obrigada. Que horas são?
— Dez para as cinco.
— Puta merda! Tenho prova às 7h. Tchau, moço, e obrigada.
— Por nada, tchau!

Saí caminhando, sentindo um desconforto nas regiões genitais, principalmente a anal. Ainda estava úmida e muito fedida. Estranhei por estar completamente vestida, lembrava claramente de ter saído sem sutiã e calcinha lá da mansão, e não lembrava de tê-los vestido no carro. Deixei para lá, só precisava dormir um pouco para conseguir fazer a prova em pouco mais de duas horas.

Continua.

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