sábado, 22 de outubro de 2022

Uma Transa Levanta Defunto

Não passaria aquele Halloween de 2021 em branco, fosse com ou sem pandemia. Era o meu primeiro evento significativo após ter completado 18 anos, e a ocasião merecia uma balada adulta. Dessa vez sem infringir a lei e sem o risco de ser expulsa.

Combinei com duas amigas de irmos numa balada que aconteceria em um galpão no centro da cidade.


Dia 30, noite de sábado, estava na casa das duas irmãs terminando de compor o "look" com os trajes apropriados ao tema escolhido por nós (magia). Ajeitei a cartola, dei o último retoque nos lábios e amei a minha imagem no espelho: um quê de sensualidade, contudo, nada extravagante. Joguei um beijo para mim mesma e… Partiu balada!

Saímos para aguardar o Uber na calçada de um barzinho próximo.


Durante os cinco minutos de espera, tentei em vão não dar atenção a um homem de terno preto nos escaneando de cima a baixo na cara dura. Algo nele me atraia mais e mais a cada minuto.

Felizmente nosso transporte chegou, pois aquele cara havia me deixado em desvantagem e apreensiva, parecia falar comigo em pensamento, frases como letra de músicas: "Você é a porta pra minha saída / Demorei tanto pra te encontrar / Deixa elas e vem comigo / Faremos uma festinha só a dois".

Acomodei-me no interior do veículo e foi impossível não olhar com mais atenção para o homem todo de preto, inclusive a camisa e gravata, bebendo solitário na mesa da calçada.

Nossos olhares se cruzaram e o Uber partiu, não antes de captar nitidamente seus pensamentos: "Até daqui a pouco, minha deusa! A gente se vê logo mais no centro". Deus do céu! Minha alma gelou, contudo, meu tesão bateu no topo.

Seguimos viagem e não comentei nada com as amigas, estavam tão descontraídas rindo à toa trocando mensagens com os meninos à nossa espera na balada. Tentei focar só na diversão daquela noite.


Descemos do Uber e permanecemos no meio-fio com a intenção de atravessar a via. Esperaríamos passar o veículo vindo logo atrás. O motorista de aplicativo se foi imediatamente, no entanto, o carro seguinte parou na mesma vaga. Aff! Um arrepio percorreu e estremeceu meu corpo inteiro quando reconheci o motorista pela janela aberta do passageiro, era o homem de preto do bar.

— Que foi, miga, é frio ou tesão? — perguntou uma das meninas zoando comigo. A outra riu gostoso. 

Ele saiu do veículo e nos abordou… Quero dizer, me abordou. O olhar do cara foi direto para mim, inclusive suas palavras.

— Posso ser sua companhia nessa balada, Nicole?

— Como você sabe meu nome? 

— Ouvi suas amigas lá no nosso pedaço. 

Sabia que era mentira, raríssimas vezes nos chamamos pelo nome. Só então reconheci o tipo, era um ex-jogador do Corinthians que morava lá no bairro. Há anos ele foi jogar na Rússia ou Ucrânia, não sabia ao certo. 

A partir de então, o seu olhar passou a ser cativante, diria até um tanto tímido, e não me causava medo.

Após as apresentações e risadas, partimos os quatro para o galpão da festa.


Ele não foi bem recebido pelos meninos, e não foi por questões futebolísticas, eu acho. Talvez por possuir muita grana e ser mais velho, supus. Para mim não fez diferença, curti o cara e não larguei dele. Eu nem estava a fim daqueles carinhas cheios de preconceitos.


Foi curta a minha estadia com o jogador naquela festa. Aceitei seu convite para uma balada particular em sua casa. Voltamos para a zona norte. 


Chegamos defronte um casarão no bairro dos bacanas, próximo do Campo de Marte. Com exceção da luz externa, o restante permanecia às escuras. Adentramos o portão lateral e depois a porta da sala. Ele não quis acender a luz. Atravessamos três cômodos iluminados somente pela luz da rua. Durante a travessia ele perguntou se eu gostava de uísque ou vodca. Como fiquei em dúvida, ele pegou uma garrafa de cada e encheu um baldinho de gelo retirado de um freezer.

Estranhei não ter visto ele usar chaves para abrir as portas, porém, deixei na conta dos dois shots que bebi na balada. 


Adentramos a área dos fundos: piscina, jacuzzi e ofurô estavam à nossa disposição.

— Tudo isso aqui é seu? — perguntei admirada. Era tudo muito lindo e luxuoso, mesmo no escuro.

— Era, ainda é da família, está à venda.

— Que pena, seria um sonho morar aqui. 

— Verdade, Nicole, eu amo esse lugar, por isso vim me despedir dele, e em excelente companhia — disse ele e pegou-me num beijo gostoso repleto de desejos. Nossas roupas caíram pelo chão defronte ao ofurô. Muitos amassos e carícias íntimas e fizemos amor na tina de água morna.

Fui pega por trás com seus braços sobre meus peitos e seu pênis agitando bem fundo, arrancando meus suspiros de deleite. Suas estocadas suaves, cuidadosas e carinhosas, mostraram o lado romântico de um amante preocupado em propiciar prazer para sua parceira. 

Ele me fez gozar do modo mais sublime que já havia experimentado. Ronronei feito uma gatinha, gemi baixinho e dei gritinhos com o ápice daquele momento delicioso.

A Noite era só nossa, o gramado e a espreguiçadeira também foram nosso leito de amor e de entregas.

Delirei com cada uma das ejaculadas em meu interior, assim como fui aos céus agraciada com momentos intensos de clímax. Todavia, só fez aumentar meu temor com o amanhã. Dei mole com meus sentimentos, o cara mexeu comigo. Sofri por antecipação ao pensar: para ele eu não devo passar de um lance de apenas uma noite. Então aproveita e torna o momento inesquecível, sua boba! Falei para mim mesma.


Em certa altura da noite, pedi um autógrafo na costela lateral, logo abaixo do meu seio esquerdo. Perguntei se poderia fazer uma tatuagem. Ele autorizou de imediato, disse estar lisonjeado.


***


Fui acordada por uma senhora. Era uma manhã agradável iluminada pelo sol. Tinha um senhor atrás dela, e pela roupa, deduzi ser um motorista e, não, seu marido.

Dei-me conta de estar nua diante deles, ainda deitada sobre a espreguiçadeira. Lembrei de ter sido ali uma das últimas transas praticadas com o craque. Devo ter adormecido em seus braços.

— Quem é você, moça? Como entrou na minha casa?

Ainda confusa, fiquei calada e olhei ao redor: minha fantasia de mágica estava espalhada no gramado, assim como as duas garrafas de bebida quase vazias, e os dois copos. Não havia nem vestígios do jogador… Caralho! Nem de preservativos, pensei, dei mole de novo. 

A mulher ficou alterada e insinuou que eu era uma drogada e invasora. Pedi, por favor, para se acalmar, iria explicar tudo para ela, desde o início.

Com as mãos sobre os seios e de pernas cruzadas, contei a história toda desde o bar em meu bairro. Acrescentei cenas bem resumidas da longa noite de erotismo.

A senhora confirmou, meu parceiro de sexo era o dono da casa. Entretanto, ele estava na Ucrânia e não poderia ter viajado. 

Fui enfática dizendo ter passado quase toda a noite em sua companhia. Repeti coisas relatadas por ele sobre sua infância, e que a mãe o protegia ocultando do pai. Ela confirmou as peripécias do filho e disse ser impossível outra pessoa, além dela, saber daquilo.

Lembrei do autógrafo, mostrei para ela. Seria mais uma prova de ter realmente estado com o homem.

A mulher não segurou a emoção, se debulhou em lágrimas, eu não sabia o porquê, e nem o que fazer, apenas a abracei. 


Instantes após ela conseguiu falar:

— Eu não sei porque ele a escolheu, menina, mas você foi a última pessoa a estar, de alguma forma, com ele nesta vida. 

— Desculpe, senhora, mas não entendi. 

— Meu filho sofreu um acidente gravíssimo com seu carro, estava em coma induzido a mais de três meses. Os aparelhos foram desligados esta manhã.

Não consegui absorver toda a mensagem de uma só vez, eu fiz amor e conversei com ele por quase toda a noite, foi tudo bem real. Ainda tinha vestígios dele em mim. Como poderia estar morto em um país tão distante? 

A dona disse ter passado a noite na casa da sua filha advogada, ela viajou naquela manhã para a Ucrânia a fim de cuidar dos trâmites legais sobre o translado do corpo do irmão.


Após eu me vestir, a pedidos acompanhei a senhora, ela desejava saber mais sobre tudo o que dissera seu filho amado. 


Fim




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