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quinta-feira, 6 de outubro de 2022

O Preço de uma Gargantilha

Fui acordada por uma voz gritando no meu ouvido. Na verdade, foi um sussurro, mas pareceu um berro, devido a uma dor de cabeça dos infernos. Não consegui abrir os olhos e fiquei puta ao reconhecer a voz do Dr. Osvaldo. O cretino invadiu meu quarto novamente, pensei. 

— Acorda, meu anjo, precisa ir embora — insistiu ele.


Como assim, ir embora? Estou na minha casa. Resmunguei em pensamento e entreabri os olhos preguiçosamente… Ainda é noite, deduzi ao notar o quarto iluminado somente pelo abajur de cabeceira. O estranho era que nem a cama e nem o quarto eram meus… Muito menos a casa, percebi ao acordar de vez. Estava nua em uma cama de casal alheia, tendo como companhia o advogado safado, deitado ao meu lado e também peladão.

— Como eu vim parar aqui?

— Veio de Uber, Nicole, não lembra?

— Tô lembrando agora… Ao chegar você já foi me entupindo de bebidas fortes para poder abusar de mim.

— Não aconteceu desse jeito, quando começamos com as carícias você estava completamente sóbria.

— Algo estranho deve ter acontecido para eu só lembrar de fragmentos, tipo uma língua entre minhas pernas, ou do seu peso em cima de mim golpeando minha periquita. Também recordo de beijos com gosto de sexo. Eu já devia estar muito louca. 

— Se lembra quando tirou sua roupa ao dançar fazendo um striptease para mim?

— Magina que eu pagaria um mico desse. 

— Não foi nenhum mico, achei lindo e sensual demais vê-la nuinha, só com a gargantilha balançando no pescoço e dançando bem safadinha. Graciosa e digna de aplausos.

— E depois se aproveitou de mim, né? — Deveria me agradecer por não te acusar de estupro, doutor.

— Eu não te forcei a nada, princesa, fui carinhoso e você permitiu. Até disse: "hoje eu sou toda sua, faz comigo o que quiser". Juro por Deus!

— Hum! Realmente eu estava de porre, ou drogada.

— Pelos seus gemidos desenfreados, tenho certeza de também ter gozado gostoso. Tudo foi consensual. 

— Ah tá! Nenhum delegado acreditará nisso quando checar a minha idade e a sua. E ainda me embebedou. 

— Que isso, Nicole, o que aconteceu? Nos divertimos tanto essa noite. Desculpe se fiz algo do seu desagrado.

— Aproveitou da minha embriaguez para me tratar como uma vadia. Estou com incômodo até no ânus, seu tarado. 

— Eu te respeito, menina, tive o maior cuidado para não te machucar.

— Não é verdade, tô cheia de dores e marcas.

— Por favor, perdoe meu único instante de negligência. Tem ideia do quanto é especial para mim? É linda, sedutora e tira a razão de qualquer um, inclusive a minha… Então acabei me entusiasmando.

— O que está tentando me dizer, doutor? 

Ele pegou algo na gaveta ao lado e esticou o braço em minha direção. Era uma embalagem com uma pílula do dia seguinte. 

— Seu irresponsável filho da puta, me comeu sem camisinha e ainda gozou dentro? 

— Perdoe, foi impossível de evitar. Não tem ideia do efeito que o contato do seu corpo faz no meu. — Toma isso por precaução. 

— Não é só isso, né espertalhão?

— Tem razão, linda, vacilei e novamente peço desculpa. — Mas não se preocupe quanto a doenças, sou saudável, juro. 

— Você não vai sair ileso dessa história só com desculpas.

— Pô, princesa! Além do pedido de perdão e de todo o meu carinho, eu não posso lhe oferecer muito mais.

— Até banho me deu, né safado? Para esconder as evidências do crime?

— Não diz isso, Nicole! Foi para você se sentir melhor.

— Me engana que eu gosto, doutor! — Isso vai lhe custar muito caro.

— É sério, meu anjo, não te forcei a nada. Mas posso ser generoso, se pedir algo ao meu alcance.

— Foi bom o doutor tocar no assunto.

— Qual assunto?

— Ser generoso, ué! — Poderia começar a recuperar tantos pontos perdidos se me ajudar a passar o feriado prolongado na Bahia. 

— Sozinha? — perguntou ele todo animadinho.

— Não, com meus amigos.

— Que pena. E de quanto precisa?

— Não preciso de dinheiro, preciso da autorização da minha mãe, mas está difícil convencer a dona Helena.

— Se for para ganhar pontos e ser perdoado, acredito ser possível dar um jeito. 

— Você tem quatro dias — disse em tom de ultimato.

Ele assentiu com a cabeça e disse para me vestir, pois ele tinha um compromisso. 

— Que horas são?

— Vinte para as nove. 

— Puta merda! Mas ainda tá escuro.

— Não está, são as cortinas.

— Me leva pra casa, pelo amor de Deus! Minha mãe deve estar soltando os cachorros. — Cadê meu celular?

Meu aparelho estava desligado. Liguei e ouvi um monte de mensagens ameaçadoras da mamãe. Também uma mensagem enviada por mim às onze da noite, era o horário limite do meu retorno ao lar, no entanto, menti dizendo que dormiria na casa de uma amiga.

Caraca! Não consigo me lembrar de nada disso. Esse sábado não será nada fácil pra mim, pensei preocupada.


Por ora, é isso, beijos!

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