Águas Turvas << QUANDO FOI ANUNCIADO o lockdown em São Paulo, a assistência técnica dos meus pais já vinha mal das pernas há alguns anos. Havia encolhido e mudado para um ponto mais modesto. Também perdeu gradualmente quase metade dos colaboradores. O estado de pandemia foi o golpe final.
Após o término do lockdown, eles reabriram a empresa já com o processo de venda adiantado. Trabalhavam num projeto que incidia na mudança do segmento de atividade.
Foi o tio do meu pai, seu Agenor, que possibilitou todas as mudanças que levaram nossa família para o Vale do Paraíba. Meus pais se estabeleceram no setor de alimentação em Mogi das Cruzes. Eu e minha irmã Giovana ganhamos bolsas de estudo e ingressamos num complexo educativo seletivo de período integral situado nos arredores de Mogi, na mesma localidade da chácara do meu tio-avô Agenor, um vilarejo conhecido como Águas Turvas.
O primeiro ano em Águas Turvas não foi monótono como a princípio imaginei que seria, seja na instituição, com ensino diferenciado, ou fora dela. Diversas eram as atividades de aprendizado, assim como as de lazer. Reuniões familiares domingueiras também eram constantes, sempre na casa do tio Agenor. A tia Madalena aproveitava a presença do público jovem para contar suas histórias pitorescas. A que mais dei atenção, por causar-me incômodo e arrepios, falava a respeito dos “filhos do íncubo”. Era uma lenda sobre um íncubo que surgia no meio da noite na fazenda Cachoeira da Mata tempos atrás. Era frequente, após o amanhecer, alguma moça desesperada relatar que foi abusada enquanto dormia, mesmo estando a porta do seu quarto trancada por medida de segurança. Muitas crianças nasceram provenientes do ocorrido.
Gelei ao reviver mentalmente a presença na minha cama há pouco mais de um ano. Nunca tive a certeza se foi real ou pesadelo, ainda assim, dei graças aos céus por não engravidar.
Amor Debaixo D'água
Era o fim de semana do acampamento somente para garotas. Lá chegando, meu grupo fez o percurso de uma trilha acompanhado pelo guia (funcionário da pousada).
Durante a caminhada, após algumas trocas de olhares insinuantes com Alexandro (o guia), tivemos dois momentos de interação sem testemunhas. No primeiro bate-papo já deu match, eu queria muito ficar com ele, mas mantivemos a discrição, devido à disciplina imposta a nós (alunas) pela instituição de ensino. O profissionalismo do carinha era a garantia do seu emprego, então não demos mole.
Na oportunidade seguinte, fui convidada a nadar ao luar, na piscina da Cachoeira da Mata.
— Vixi, é embasado! Posso perder a minha bolsa de estudos e ser expulsa do instituto, caso a inspetora fique sabendo.
O boy, além de delicinha, convencia-me com argumentos sem usar muitas palavras. Duas ou três frases foram suficientes para eu cair de cabeça naquela loucura.
Bem mais tarde, estando segura quanto à discrição das minhas colegas de quarto, furtivamente saí do alojamento vestida com o biquíni, um shortinho e segurando a toalha de banho enroladinha.
Encontrei o Alex fora da pousada, ele carregava uma mochila.
— Vai viajar? — perguntei, zoando.
Ele achou graça e respondeu que também trouxe toalha, bebida e o necessário para um piquenique noturno.
Meia hora depois, chegamos à cachoeira. Não era permitido acampar naquela área turística, menos ainda se fosse próximo ao curso d'água, disse-me ele.
— E por que não é permitido?
— Por causa da tromba d'água.
— Seu louco, nós vamos acampar onde tem tromba d'água?
— Isso nunca rola depois de março, essa parada, nas raras vezes que aconteceu, foi na época das chuvas. Pode confiar no guia — concluiu com segurança.
Na sua mochila, havia uma barraca, tipo iglu para duas pessoas. Foram dois palitos para armar a barraquinha às margens da piscina natural, tendo como cenário de fundo a cachoeira, uma obra-prima da natureza.
A noite quente convidou para um namoro ao luar. Trocamos as primeiras carícias e bebemos alguns goles da tequila. Não costumava consumir bebida alcoólica, fiquei alegrinha, facinha e só de biquíni. O acompanhei em um rápido mergulho só para tirar o suor da caminhada.
Tropecei ao sair da água e causei motivos de risos no rapaz que ficou me zoando. Fiz charminho, choramingando e fingindo sentir dor no pé. Suas desculpas vieram acompanhadas de uma massagem.
Seu toque suave começou nos dedos e se estendeu até a panturrilha.
— Que delícia — falei enquanto permanecia deitada sobre a toalha, defronte à barraca.
Isso o animou a subir acariciando minhas coxas e sua mão invadiu o vão das minhas pernas tocando meu sexo por cima da tanguinha. Logo a pecinha de roupa foi afastada para o lado e seu dedo tocou gostoso o meu clitóris, ronronei de olhos fechados e meu movimento de quadris revelava meu desejo louco de ser possuída.
Alex acomodou-se ao meu lado, envolveu-me num abraço carinhoso e deu-me um beijo carregado de tesão. Sua perna entrou entre as minhas, permitindo o contato delicioso dos nossos sexos separados apenas pela fina camada de tecidos.
Minha vontade de transar ficou absurda quando tirou o top do meu biquíni para fazer festa nos meus seios. Fiz-lhe cafuné com a intenção de conduzir sua cabeça mais para baixo.
Ele captou meu desejo, pois agarrou minha tanguinha, passando-a rapidamente pelos meus pés. Posicionei-me de pernas abertas e recebi sua boca em meu sexo. Isso foi uma delícia: gemer como uma putinha, enquanto admirava um céu lindamente estrelado.
Logo ele veio para cima, despido e “armado”, se ajeitou entre minhas pernas arreganhadas, brincou um pouquinho pincelando na entrada, para em seguida arrancar meu suspiro longo e profundo ao enterrar seu membro devagar e chegar ao fundo do meu ser. Comecei a gozar antes que iniciasse a sequência de estocadas. E quando o ritmo ficou frenético, foi show demais, delirei transbordando de tesão.
Foram momentos deliciosos em que começamos transando ao luar e continuamos no interior da barraca até o desejo ser saciado e a garrafa de bebida ficar vazia. Só então apagamos.
Dormi um pouquinho e acordei suada. O interior da barraca estava insuportável. No entanto, o meu parceiro dormia como um bebê. A quantidade de bebida ingerida, mais a energia gasta por ele em nossa atividade sexual, deve ter descarregado a bateria do boy.
Abri o zíper e saí engatinhando. Apesar do calor anormal, ainda assim, a área de mata atlântica tornava o clima agradável.
A suave luz do luar refletia na superfície da piscina natural, formando desenhos abstratos conforme a água se movia. O ruído contínuo da cachoeira se sobrepunha ao som da fauna noturna e chegava aos ouvidos, provocando uma sensação de relaxamento.
O som da queda d'água atraiu-me para um banho noturno. Nua em pelo, caminhei até a piscina natural e senti a água mais fria naquele instante, contudo, foi prazerosa a sensação do seu toque envolvendo minhas pernas e gentilmente se apossou das coxas. A subida gradual abraçou meu ventre enquanto a marola beijava o meu bumbum. Sua escalada parou ao nível dos meus seios, que, parecidos a dois icebergs, permaneciam apenas com os bicos fora d’água. Aquela ondinha amorosa, formada pela correnteza leve, acariciou gentilmente os meus mamilos, proporcionando uma sensação de prazer similar ao de estar fazendo amor com a natureza. Tomei a iniciativa de deitar-me sobre ela e movimentei meu corpo com braçadas até alcançar a cachoeira e fiquei em pé numa elevação rente ao paredão de pedra. Então saboreei toda a energia deliciosa do volume em forma líquida, possuindo e golpeando o meu corpo. Minha mente viajou longe, pois a água parecia um corpo másculo me envolvendo… Acariciando… E penetrando… Ah! Fiz amor balançando meus quadris no mesmo ritmo das estocadas hídricas que tiravam às vezes meu fôlego e às vezes provocavam meu gemido. Então transamos gostoso ao som emitido pela cachoeira, que soava em meus ouvidos como uma melodia de amor. A nossa dança sexual prosseguiu suave até o momento mágico, onde a explosão do clímax divino aconteceu e gozei sem conseguir conter os gritinhos de prazer.
Instantes após, ainda sob a queda d'água, percebi tarde demais quando dois homens chegaram por trás da barraca. Ainda não sabia se fui vista. Lentamente, dei um passo para trás e abaixei, ficando coladinha no rochedo, atrás da cortina d'água. Julguei que estaria invisível para os dois policiais florestais.
Ficou um ao lado da barraquinha e o outro iluminou o interior com a lanterna e ordenou que o dorminhoco saísse.
Foi preciso chamar outra vez para o Alex acordar e levantar tresloucado.
— Você não toma jeito, né, seu moleque, quer ser preso? — gritou o policial.
O guia parecia se desculpar enquanto apenas um deles falava, agora, sem gritos. Não consegui ouvir direito, deduzi pelos gestos que era para o boy juntar suas coisas e acompanhar os policiais.
Será que ele disse que estava sozinho? No momento, julguei que ficaria feliz por não ser descoberta, pois se chegasse ao conhecimento da inspetora responsável pelo passeio, eu estaria fodida. Entretanto, como eu iria embora pelada?
Permaneci no meu esconderijo até os ver partir. Minha cabeça fervilhava: “Como esse idiota vai embora e me deixa aqui, sozinha?” E se eu tivesse me afogado ou sido raptada? Ele não pensou nisso?
Os pensamentos continuaram enquanto eu fazia o caminho de volta, correndo nua e descalça, pois não acreditei no seu retorno e também não podia esperar o dia clarear.
Por sorte, consegui voltar para a pousada sem ser vista — eu imaginei. Mas, ao aproximar-me pé-por-pé do dormitório…
— Peguei você, dona Gisele — sussurrou a voz maquiavélica da inspetora Berta em meu cangote.
Tremi na base e quase não segurei o xixi.
— Vamos conversar no meu quarto, mocinha — disse ela.
Continua.
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