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domingo, 17 de março de 2024

Urros e Gemidos no Jazigo

 Encontrei meu pai na esquina de sempre num meio de semana à noite para visitarmos um futuro cliente.

— Este bacana pagará bem pelos seus serviços de massagista. 

No caminho ficou dando instruções:

— Você poderia aproveitar a hora H, quando os hormônios estiverem tirando a razão dos caras, e usar seu jeitinho para conseguir aumentar o cachê. Finja desconhecimento dizendo receber somente para fazer a massagem com finalização, mas sem penetração. Depois negocie com eles.

— Você faz parecer tão fácil, mas na hora "H" é difícil pra porra manter o foco no financeiro — contra-argumentei, — mas tenho me esforçado e até consegui um extra no segundo encontro, não foi? 

— Mandou bem, anjinho, continue assim e obteremos ainda mais lucro.

"Obteremos" — pensei debochando dele — quem abre as pernas e leva na bunda sou eu.


Somente quando chegamos fui informada de estarmos num velório.

Pouco depois fui apresentada ao seu Tertúlio, um provável cliente do nosso negócio de massagens. Em uma conversa rápida combinei de encontrá-lo em sua loja no início da noite da próxima sexta-feira.


***


No dia combinado escolhi um vestido tubinho preto, um dos meus preferidos para baladas. O preto foi sugestão do meu pai. A intenção era parecer sensual e provocante o tempo todo. Completei o figurino com um casaco de couro quentinho, devido ao frio de 14 graus. 


Só descobri tratar-se de uma loja de jazigos ao chegar ao endereço a bordo do Uber. Desci um tanto cismada e fui ao encontro do seu Tertúlio me aguardando na recepção. Depois dos beijinhos e futilidades comuns em encontros, fomos para sua sala. Informou ser o proprietário do negócio. 

— Aqui faz um calorzinho gostoso, estava congelando com o frio danado lá do lado de fora — O senhor está sozinho? 

— Sim, ninguém irá atrapalhar nosso momento de privacidade. 

— Mas nós vamos sair, não é? 

— Não, meu anjo, aqui é bem confortável e temos de tudo: bebidas, queijo, sushi, morango. Você vai gostar, garanto.

— E sua esposa? 

— A patroa talvez chegue mais tarde, precisou ir a um compromisso de última hora. Mas podemos começar sem ela.

Estaria mais segura com a presença da mulher — pensei — bateu um medinho de estar sozinha com o homem num lugar com cara de cemitério. 

— Fique mais à vontade, Nicole, o aquecedor está ligado. 

Tirei o casaco e o homem me teceu elogios como se estivesse nua. Talvez fosse pelo fato de não estar usando roupas íntimas. O vestido leve e provocante, assim como a meia calça, eram os únicos tecidos restantes sobre meu corpo.

— Saltos altos realçam ainda mais a sua beleza, Nicole. 

Sua atenção não se limitou ao meu scarpin, com certeza, pois os saltos altos também levantam o bumbum. 

De olhos fixos em mim, despiu-se do paletó, da gravata e abriu dois botões da camisa. O seu olhar de predador causou-me inquietação, mas as referências erotizadas e vulgares ditas a respeito do meu corpo, foi pura sedução. Era medo e tesão servidos em pequenas doses. 

Fiquei animada quando pegou um champanhe no frigobar, nos serviu e brindamos ao encontro estando com nossos corpos tão próximos a ponto de sentir a fragrância suave do perfume másculo, além do odor natural do homem maduro, enquanto ouvia seus murmúrios exagerados de desejo por mim. O clima de erotismo impregnou o ar e rolaram alguns amassos.


Posteriormente demos mais alguns goles nas bebidas, e perguntei onde lhe faria a massagem, ao não vislumbrar nada apropriado no ambiente.

Ele apontou para uma porta. 

— Ali dentro. É o meu cantinho preferido, tenho fetiche por claustrofilia. — Já ouviu falar?

Eu confundi com claustrofobia e o coroa explicou a diferença. Claustrofilia é a excitação causada por confinamento em ambientes minúsculos e escondidos, tipo, cômodos pequenos.


Quando ele abriu a porta do cômodo, me arrepiei todinha ao ver duas casinhas de colocar defuntos, uma ao lado da outra. Fiquei sabendo que o nome era "jazigo igreja". Fui levada defronte uma delas. No interior havia um balcão de granito ocupando quase todo o interior da casinha também construída quase toda de granito, inclusive o teto em V invertido. Sobre o balcão havia um colchão inflável. 

— Vamos nos divertir aqui — disse o tiozão com um sorriso mordaz. 

— O senhor tá zoando, né? — Não é aí que vai o caixão? 

— Este é só um modelo para exposição, nunca foi colocado urnas funerárias aí. 

— Isso é sinistro. Olha como fiquei arrepiadinha. 

— Pensei que fosse gostar, minha linda, seu Flávio disse que você curte novidades. 

— Essa é uma parada bem diferente, seu Flávio não havia compartilhado este detalhe comigo. Mas tudo bem, só preciso de mais uma taça de champanhe. — Faria o favor? — Assim meu medinho passará logo, espero. 


Estava na minha terceira taça do espumante, nua nos seus braços peludos sendo carregada como uma noiva em noite de núpcias. Mas no caso, pareciam núpcias fúnebres. Aff! Gelei ao adentrarmos o Jazigo e ter meu corpo deitado sobre o colchão. Foi punk mesmo sendo com carinho e palavras harmoniosas, em razão do lugar sinistro dar calafrios. No entanto, suas mãos deslizando o gel em meu corpo causaram arrepios de prazer. Tentei focar minha mente somente no ato sexual.

Quando invertemos a posição ao chegar minha vez de lubrificar seu corpo, meu plano foi excitá-lo ao máximo para reduzir o tempo da massagem e chegar logo aos finalmentes. Com sorte, estenderia ao mínimo aquele encontro.

Dei prioridade aos contatos mais eróticos tocando e chupando seu pau, mesmo ele estando de barriga para baixo.

Instantes depois ele virou, fiquei de costas para o homem ao sentar em seu pênis tombado para cima. Deslizei minha boceta indo e vindo no nervo roliço deitado, com a sensação de senti-lo esfregando em meus grandes lábios, sendo tão boa como se ele estivesse dentro.

O incômodo ficou por conta de um espelho escuro e enorme na parede à minha frente. O bagulho refletia a minha imagem de corpo inteiro, trepada sobre o coroa. Qual a utilidade de um espelho num túmulo? Foda-se o espelho, pensei. Voltei minha atenção a um membro ousado prestes a possuir-me.

O homem forçou a entrada do meu sexo e consumou a invasão segurando em meus quadris. Eu mesma teria feito isso em mais alguns segundos. O desejo de tê-lo dentro era enorme, assim como a vontade de sair logo daquela espécie de túmulo. 

Todavia, ignorei o lado fúnebre da situação ao receber suas bombadas fundas e tão gostosas motivando meu ronronar como se fosse uma felina no cio. 

O coroa gozou e me fez gozar, mas o danado ainda estava cheio de fôlego, não houve pausa para um intervalo, pegou-me de quatro, virada para o espelho. Assisti nossos corpos colados e sua expressão de sacana estocando firme e sem pressa de acabar. Banquei a putinha exagerando nos gemidos e rebolados, manipulando o homem para tentar agilizar seu gozo.


Os minutos voaram, o coroa, segundo meus cálculos, havia gozado três vezes e parecia satisfeito. Dei pro tiozão muito além do combinado e do pretendido para o encontro. Era chegada minha hora de ir, falei. Só então seu Tertúlio revelou que sua mulher era voyeur e permaneceu o tempo todo nos observando através do espelho falso. Era igual às salas de interrogatório em filmes policiais, concluiu. 

A dona se excita ao ver o marido fazendo sexo com outras mulheres e chega ao orgasmo tocando seu corpo.

— É brincadeira, né? — perguntei incrédula. 

Era fato, a mulher juntou-se a nós e deixou-me ainda mais constrangida. 


Fui embora sentindo um puta desconforto com tudo aquilo. Nem mesmo o extra generoso recebido mudaria minha decisão de nunca mais aceitar um encontro bizarro com eles. 


Na volta para casa, liguei para meu pai:

— Você sabia desse lance do Jazigo, seu Flávio? 

— Achei melhor não antecipar nada, Nicole, ou você desistiria. Recebemos o dobro, ele é um ótimo cliente da corretora. Perdoa o papai! 

— Você me paga, viu?! — falei cheia de ira ao encerrar a ligação. 


Por hora, é isso, beijos!

Contarei mais no próximo.

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